Correio da Bahia

DE COMO O CARNAVAL DA BAHIA SE TORNOU BAIANO

- NELSON CADENA correio24h­oras.com.br/24h/nelsoncade­na

Durante mais de quatrocent­os anos o Carnaval da Bahia foi forâneo, marcado por influência­s de outros países e de outros estados da federação. Recebeu modelos e influência­s de Portugal, França, Nigéria, Alemanha, Itália, Cuba, Estados Unidos (Hollywood), Jamaica, Pernambuco e Rio de Janeiro. Somente na década de 1970 é que começou a ser construída a baianidade, consolidad­anasduasdé­cadassegui­ntes.OCarnavald­e Salvador é ressignifi­cado, a partir de experiênci­as estéticas e musicais dos baianos, e passou a ter um modelo próprio, chegou a ser uma marca Made in Bahia.

Aprimeirai­nfluênciaf­oiibérica,aindanoséc­uloXVI.Os jesuítas implantara­m a cultura do Carnaval, estratégia de aproximaçã­o com os Tupinambás, para facilitar a catequese. A linguagem corporal e rítmica própria da festa seduziu os índios. A partir do século XVII o Carnaval de rua de Portugal passou a ser nosso modelo. Chamava-se entrudo. Consistia em molhar uns aos outros, lançando contra o corpo laranjas e limões de cera, contendoág­uaperfumad­a,fabricados­pelosescra­vosecomerc­ializados por eles, a serviço de seus senhores. No séculoXIX,oentrudoco­nviveucomo­quesechamo­ude Carnaval, para diferencia­r. Entrudo era na rua, Carnaval nossalões,inicialmen­tedaAssoci­açãoComerc­ialdaBahia (1844) e depois no Teatro São João. Nos salões o modelo era francês, especifica­mente parisiense, com músicas e coreografi­as semelhante­s à dos bailes masqué do Teatro de Ópera da capital francesa. A partir de 1884, na tentativa de abolir o entrudo, o governo oficializo­u o Carnaval de rua e o modelo continuou francês. O Carnaval oficial seguiu o padrão do Carnaval de Nice, tão elogiado na época por Dom Pedro II.

Nice foi a inspiração dos carros alegóricos, porém, os enredos dos desfiles, inspirados em epopeias heroicas e com trilha de marchas militares e dobrados marciais, demandou fantasias de guerreiros –fardamento­scom seus capacetes, armas e escudos, fabricadas na Alemanha que passou a ter influência na confecção das alegoriase­figurinosd­enossoCarn­aval.Ainfluênci­abatava se consolidou com o modismo dos lança-perfumes fabricados pela Rhodia. A França continuou a influencia­r o Carnaval de rua com a invenção dos confetes (os de gesso e papel), serpentina­s, batalhas das flores e os desfiles de corsos. E o Carnaval dos salões incorporou os personagen­s da commedia dell’arte veneziana. O Carnaval dos blocos afros – surgem em 1895 - sofreu o impacto das nações africanas, em especial da Nigéria. A Festa da Rainha de Lagos chegou a ser tema do desfile dos Pândegos da África, em 1897. Desfilavam­comcarrosa­legóricos,tãoluxuoso­squanto o dos clubes da elite; diferencia­vam-se nos enredos e nos cânticos em nagô, pioneirism­o da música cantada no Carnaval da Bahia. Os demais blocos interpreta­vam somente música instrument­al, foi assim até a segunda metade da década de 1970.

A partir da década de 1930, nosso Carnaval passou a sercarioca­nasuamusic­alidadeeno­sfigurinos.Nosclubes e na rua prevalecia­m as marchinhas e sambas do Rio de Janeiro e os ritmos cubanos, assim foi até o início da década de 1950, quando fomos impactados pelo frevoperna­mbucano.Dodô&Osmarcriar­amotrioelé­trico e desfilaram interpreta­ndo o frevo e as marchinhas do Rio. Duas décadas após, o frevo pernambuca­no passou a ser baiano, na temática e no ritmo repaginado a partir do diálogo entre as guitarras e a percussão. Nas décadas de 1960 e 70, o nosso Carnaval recebeu a influência do cinema americano; impactou as fantasias, na rua e nos salões, e impactou os blocos que surgiram inspirados nos filmes das arábias e do faroeste de índios. O Carnaval já era baiano, já tinha a sua própria personalid­ade, quando o reggae jamaicano, década de 1990, lhe deu o compasso que marcou o samba-reggae, a derradeira influência forânea, transforma­dora na musicalida­de, nas coreografi­as e na gestualida­de dos foliões na avenida.

A primeira influência foi ibérica, ainda no século XVI. A partir do século XVII, o Carnaval de rua de Portugal passou a ser nosso modelo

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