O CARNAVAL DOS TRIOS ELÉTRICOS
Os inventores do Trio Elétrico, Dodô & Osmar, não imaginaram que um dia a sua iniciativa seria incorporada como padrão de desfile pelos maiores blocos de carnaval da cidade, os chamados blocos de trio e pelos afros e afoxés mais bem estruturados. Ao longo de toda a década de 1950 o trio elétrico evoluiu na sua estrutura - deixou de ser a fobica para ser um caminhão - e na composição da banda, que passou a ter mais do que três músicos. O terceiro músico na história foi primeiro o Temístocles Aragão, que tocava o triolim, e, depois, Reginaldo Silva.
Da fobica, o carro de som, digamos assim, evoluiu para uma picape Chrysler e daí para o caminhão. Surgiram trios elétricos no interior, o Maragós de Maragogipe, desde 1957 animando os carnavais do Recôncavo foi o pioneiro. O folião identificava o trio pelo patrocinador, ou proprietário. Ficaram famosos na década referida os trios Fratelli Vita, Atlas, Rádio América. Jacaré, Ipiranga, Coca Cola, Antarctica, Pilsen, Esporte Clube Bahia, Ases Itapagipanos, Cinco Irmãos, que se transformou no Trio Tapajós da fábrica de trios de Orlando Campos, e outros patrocinados pelo Poder Público.
Nenhum bloco de Carnaval cogitava desfilar com o equipamento. O trio elétrico não tinha associados, era uma banda com uma parafernália de luzes e cornetas para irradiar o som. Para se apresentar no Carnaval, precisava de um patrocinador que cobrisse os custos, os músicos ganhavam merreca, mesmo os inventores do trio elétrico. O Poder Público, um dos patrocinadores, ajudava com recursos, mas ao mesmo tempo complicava. Em 1958 e 1966 a polícia impediu a passagem dos trios pelo principal trecho da avenida, a Rua Chile, desviando-os para a Carlos Gomes para não atrapalhar o desfile dos grandes clubes. E quando a prefeitura criou o concurso oficial das agremiações, em 1960, os trios foram premiados numa esquisita categoria descrita como “conjuntos que fora dos interesses da competição, trouxeram animação ao Carnaval”.
Na segunda metade da década de 1970 é que os blocos, poucos, trocam as suas bandas de sopro por trios elétricos. Os Internacionais foi um dos primeiros a desfilar com o equipamento, no ano de 1977, com a banda do Tapajós, e em 1978 puxado pelos Novos Baianos. Os associados acostumados a desfilar com uma banda de sopro de até 100 integrantes e beber um uisquezinho no percurso, não se adaptaram à novidade. Teve vaias, me contou Paulinho Boca de Cantor. Nesse ano de 1978, outros blocos já desfilavam com o trio elétrico: Dengo da Bahia, K-pra-nós, Sniff, Amigos da Vovô, Saku-Xeio, Traz os Montes, que mais tarde revolucionou o Carnaval ao implantar o som transistorizado.
No ano seguinte, estreava com o trio Maragós aqui referido, o Camaleão que ousou construir um trio elétrico próprio, primeiro bloco a ter essa iniciativa, em 1980, com acabamento em fiberglass, para desfilar em 1981. A década de 1980 foi a definitiva consagração dos trios elétricos. No período surgiram os blocos Eva, Cheiro de Amor, Beijo, Pinel, Crocodilo, Tiete Vips, Traz a Massa, Frenesi, Mel, Pinote, Karamelo... todos puxados por trios e, na sequência, até os blocos das décadas de 1960 e 70 - Corujas, Barão, Muquiranas, Papa Léguas e o Chuck’s - aderiram ao equipamento.
O trio elétrico conquistou também o Olodum, primeiro bloco afro a desfilar com o equipamento. Os demais afoxés e afros, igual, dispensaram os seus caminhões e contrataram trios de maior porte, um cantor e bailarinos em cima, a percussão na pista. Na década de 1990 o trio elétrico já era o padrão no Carnaval e eram tantos, e com a criação do circuito da Barra, se organizaram em três entidades: Blocos de Trio, Alternativos e Independentes.
Na segunda metade da década de 1970 é que os blocos, poucos, trocam as suas bandas de sopro por trios elétricos