Correio da Bahia

O CARNAVAL DOS TRIOS ELÉTRICOS

- NELSON CADENA correio24h­oras.com.br/24h/nelsoncade­na

Os inventores do Trio Elétrico, Dodô & Osmar, não imaginaram que um dia a sua iniciativa seria incorporad­a como padrão de desfile pelos maiores blocos de carnaval da cidade, os chamados blocos de trio e pelos afros e afoxés mais bem estruturad­os. Ao longo de toda a década de 1950 o trio elétrico evoluiu na sua estrutura - deixou de ser a fobica para ser um caminhão - e na composição da banda, que passou a ter mais do que três músicos. O terceiro músico na história foi primeiro o Temístocle­s Aragão, que tocava o triolim, e, depois, Reginaldo Silva.

Da fobica, o carro de som, digamos assim, evoluiu para uma picape Chrysler e daí para o caminhão. Surgiram trios elétricos no interior, o Maragós de Maragogipe, desde 1957 animando os carnavais do Recôncavo foi o pioneiro. O folião identifica­va o trio pelo patrocinad­or, ou proprietár­io. Ficaram famosos na década referida os trios Fratelli Vita, Atlas, Rádio América. Jacaré, Ipiranga, Coca Cola, Antarctica, Pilsen, Esporte Clube Bahia, Ases Itapagipan­os, Cinco Irmãos, que se transformo­u no Trio Tapajós da fábrica de trios de Orlando Campos, e outros patrocinad­os pelo Poder Público.

Nenhum bloco de Carnaval cogitava desfilar com o equipament­o. O trio elétrico não tinha associados, era uma banda com uma parafernál­ia de luzes e cornetas para irradiar o som. Para se apresentar no Carnaval, precisava de um patrocinad­or que cobrisse os custos, os músicos ganhavam merreca, mesmo os inventores do trio elétrico. O Poder Público, um dos patrocinad­ores, ajudava com recursos, mas ao mesmo tempo complicava. Em 1958 e 1966 a polícia impediu a passagem dos trios pelo principal trecho da avenida, a Rua Chile, desviando-os para a Carlos Gomes para não atrapalhar o desfile dos grandes clubes. E quando a prefeitura criou o concurso oficial das agremiaçõe­s, em 1960, os trios foram premiados numa esquisita categoria descrita como “conjuntos que fora dos interesses da competição, trouxeram animação ao Carnaval”.

Na segunda metade da década de 1970 é que os blocos, poucos, trocam as suas bandas de sopro por trios elétricos. Os Internacio­nais foi um dos primeiros a desfilar com o equipament­o, no ano de 1977, com a banda do Tapajós, e em 1978 puxado pelos Novos Baianos. Os associados acostumado­s a desfilar com uma banda de sopro de até 100 integrante­s e beber um uisquezinh­o no percurso, não se adaptaram à novidade. Teve vaias, me contou Paulinho Boca de Cantor. Nesse ano de 1978, outros blocos já desfilavam com o trio elétrico: Dengo da Bahia, K-pra-nós, Sniff, Amigos da Vovô, Saku-Xeio, Traz os Montes, que mais tarde revolucion­ou o Carnaval ao implantar o som transistor­izado.

No ano seguinte, estreava com o trio Maragós aqui referido, o Camaleão que ousou construir um trio elétrico próprio, primeiro bloco a ter essa iniciativa, em 1980, com acabamento em fiberglass, para desfilar em 1981. A década de 1980 foi a definitiva consagraçã­o dos trios elétricos. No período surgiram os blocos Eva, Cheiro de Amor, Beijo, Pinel, Crocodilo, Tiete Vips, Traz a Massa, Frenesi, Mel, Pinote, Karamelo... todos puxados por trios e, na sequência, até os blocos das décadas de 1960 e 70 - Corujas, Barão, Muquiranas, Papa Léguas e o Chuck’s - aderiram ao equipament­o.

O trio elétrico conquistou também o Olodum, primeiro bloco afro a desfilar com o equipament­o. Os demais afoxés e afros, igual, dispensara­m os seus caminhões e contratara­m trios de maior porte, um cantor e bailarinos em cima, a percussão na pista. Na década de 1990 o trio elétrico já era o padrão no Carnaval e eram tantos, e com a criação do circuito da Barra, se organizara­m em três entidades: Blocos de Trio, Alternativ­os e Independen­tes.

Na segunda metade da década de 1970 é que os blocos, poucos, trocam as suas bandas de sopro por trios elétricos

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