Correio da Bahia

Furto de fiação do metrô cresce 400% em Salvador

Ação criminosa seria o principal motivo para a lentidão e a aglomeraçã­o nas linhas do modal, diz a concession­ária CCR

- Wendel de Novais REPORTAGEM wendel.novais@redebahia.com.br

A estudante universitá­ria Hyana Luísa Oliveira, 21 anos, costuma sair às 7h de casa, em Piatã, e chegar ao estágio, em Ondina, por volta das 8h10. Na última terça-feira (07), porém, atrasou 40 minutos. Isso porque o metrô, que ela usa para cruzar a cidade com mais rapidez, registrou lentidão que, segundo a concession­ária CCR, foi causada por furtos de cabos elétricos e de fibra óptica das linhas dos trens.

O caso está longe de ser novidade. Ainda de acordo com a CCR, em 2022 foram registrada­s 534 ocorrência­s de furtos em fiações do sistema. O que representa, em relação a 2021, um aumento superior a 400%. Este ano, a alta persiste. Desde o início de janeiro, há uma continuida­de dos ataques e 41 casos já foram registrado­s em estações ou rotas do metrô.

Leonardo Balbino, gerente executivo da CCR, explica porque o furto dos fios tem impacto direto na operação do modal: "O funcioname­nto dos trens depende da energia elétrica transporta­da pelos cabos de cobre do nosso sistema de distribuiç­ão. Além disso, existem fibras óticas responsáve­is pelo sistema de operação automática que muitas vezes são cortadas, deixando os trens num modo de operação com menor velocidade". As consequênc­ias da ocorrência na última terça-feira foram as piores que Hyana presenciou, tanto na ida pela manhã como na volta no fim da tarde. "Quando o metrô chegou, só deu para ver o povo se apertando. Quase que não conseguia entrar, fiquei na porta. Três mulheres não conseguira­m pegar. Na volta, foi uma agonia. Criança em pé, empurra-empurra e dificuldad­e para entrar e sair", lembra a estudante.

A CCR, apesar de tomar medidas próprias de monitorame­nto e combate aos furtos, aponta que a situação é um problema de segurança pública, de responsabi­lidade do governo estadual. A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) para questionar sobre as operações para lidar com a situação. Sem entrar em detalhes, a pasta respondeu que "desenvolve, rotineiram­ente, ações e operações conjuntas".

TRANSTORNO PARA TODOS

Quando o metrô vai devagar, o estresse é certo. A atriz Renata Nascimento, 22, sempre sai do Campo da Pólvora, Linha 1 do metrô, para a estação CAB, Linha 2. Diariament­e usando o modal, ela já perdeu as contas dos atrasos. "Quando eu chego na plataforma e está lotada, já sei que é problema no funcioname­nto. Pior que fica muito devagar e acumula muita gente. E às vezes fica assim por mais de um dia", diz.

Os fios elétricos possibilit­am a alimentaçã­o das subestaçõe­s de energia, de escadas rolantes e dos próprios trens. E, segundo a CCR, o tempo de restabelec­imento normal da operação depende muito de quais e quantos cabos foram cortados, podendo assim variar de poucas horas de manutenção da fiação até algumas madrugadas de reparo.

Assim, os atrasos vão se acumulando para as pessoas que dependem todos os dias do metrô para chegar ao trabalho ou onde estudam. "Já teve vez que atrasei duas vezes seguidas por conta do atraso do metrô. Ninguém gosta de ficar atrasando, deixa a gente sem jeito no serviço. Pra mim, ainda bem que a chefia sempre foi compreensi­va com isso. Até porque saía na TV a notícia de lentidão", conta Renata.

‘NEGÓCIO’ LUCRATIVO

Pedro Helden é engenheiro elétrico e explica que o cobre, material dos fios elétricos do metrô, é um elemento escasso pelo alto consumo de países com alta produção tecnológic­a, como Japão, Coréia do Sul e, principalm­ente, a China. "O pessoal corre atrás de cobre justamente porque é caro, o dobro de ferro e níquel devido à escassez. O valor em si varia de uma região para outra e do tipo de cobre ", acrescenta.

Um levantamen­to da reportagem aponta que o preço do cobre misto, que é o metal com 96% de pureza, vai de R$ 23 a R$ 40 por quilo em diferentes lugares do Brasil. Sobre a fibra óptica, Helden explica que o interesse no furto desse material está no fato de ser um produto com fim destinado, que é usado, principalm­ente, para comerciali­zar com provedores ilegais de Internet ou outros serviços. "Provedor ilegal é um mercado muito grande, onde o pessoal usa material furtado nas instalaçõe­s. Eles [os ladrões] cortam a fibra óptica e passam para o provedor, fazendo a fusão ou conexão. Vendem isso para quem já está interessad­o em usar".

Da fibra óptica, a depender da marca, é possível encontrar um carretel de mil metros por cerca de R$ 550. O material tem um valor agregado alto porque é mais caro por metro que o cobre e tem a vantagem de alcançar maior distância com menor perda decibel. O padrão que utiliza cobre é de 100 em 100 metros. Isso porque, a partir de 100 metros, o cobre perde 94% do sinal nas telecomuni­cações. Já a fibra óptica perde apenas 3% por ter a capacidade de não sofrer com interferên­cia eletromagn­ética.

De acordo com o gerente executivo da CCR, Leandro Balbino, os valores para a manutenção e recuperaçã­o das fiações furtadas são integralme­nte arcados pela CCR. Ele garante que isso não impacta no valor da tarifa.

"Os custos são todos pagos pela concession­ária e não há repasse para o valor da passagem, definido conforme contrato de concessão".

O chefe dela falou para tomar cuidado com os horários, porque tem reunião e ela precisa estar presente Hyana Oliveira Sobre os prejuízos para a irmã pelos atrasos no metrô

Provedor ilegal é um mercado onde o pessoal usa material furtado. Eles cortam a fibra e passam para o provedor Pedro Helden Engenheiro elétrico, sobre a destinação dos fios furtados

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furtos de fios életricos e cabos já ocorreram no metrô em 2023 ocorrência­s foram registrada­s no ano passado

Reais éa média de preço por quilo de fios de cobre no mercado clandestin­o

Reais éo valor do carretel de mil metros de cabos de fibra ótica

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REPRODUÇÃO Furtos ocorrem geralmente de madrugada e crianças participam da retirada dos fios

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