Correio da Bahia

Ferrovia Bahia-Minas terá R$ 12 bi investidos

Estrada de ferro fará a ligação entre as cidades de Caravelas e Araçuaí

- Maysa Polcri* REPORTAGEM maysa.polcri@redebahia.com.br * COM ORIENTAÇÃO DE MONIQUE LÔBO.

Houve um tempo em que quase todos os produtos transporta­dos no país eram levados por trilhos metálicos, o que mudou a partir da década de 1930, quando veículos de quatro rodas passaram a ser sinônimo de modernidad­e. Porém, a autorizaçã­o para a construção de uma ferrovia que ligará Minas Gerais à Bahia pode mudar o rumo dessa história. Além de mais rápida, a malha ferroviári­a pode reduzir os custos de transporte em até 30%.

A autorizaçã­o para construção e exploração da estrada de ferro que fará a ligação entre Caravelas, no sul baiano, e Araçuaí, no Vale do Jequitinho­nha (MG), foi publicada no Diário Oficial da União na terça-feira (7).

O prazo é para que a empresa MTC - Multimodal Caravelas comande a via por 98 anos. A deliberaçã­o foi feita pela Agência Nacional de Transporte­s (ANTT) e a MTC deve assinar o contrato de adesão em até 30 dias. O investimen­to estimado para que a obra seja realizada é de R$ 12 bilhões e ainda não há data para o início das obras. A empresa foi procurada para comentar o projeto, mas não se manifestou.

A ligação entre o sul baiano e o centro de Minas não é novidade. Há 57 anos, a Estrada de Ferro Bahia-Minas foi desativada por não garantir mais o lucro esperado no transporte de madeira e café. No imaginário brasileiro, a estrada ficou eternizada na canção Ponta de Areia (1975), de Milton Nascimento. A música leva o nome do local onde a estrada ficava à época.

Hoje, o que ainda resta do sistema ferroviári­o serve como rota de cicloturis­mo. O mesmo percurso da primeira via será utilizado, dessa vez com a inserção de outras cidades, como Teixeira de Freitas e Mucuri.

ARAÇUAÍ

NOVO CRUZEIRO

A ferrovia é necessária para o escoamento da produção agropecuár­ia do estado Humberto Miranda

Presidente da Federação da Agricultur­a e Pecuária da Bahia (Faeb)

TEIXEIRA DE FREITAS

MUCURI

POSTO DA MATA

CARAVELAS

MENOR PREÇO

Quando o assunto é transporte de produtos, as ferrovias são importante­s meios de reduzir o preço do que será exportado, como explica Antônio Carlos Bonassa, professor de cadeias de suprimento­s do curso de Administra­ção da ESPM.

"O retorno da utilização de uma estrada que liga a Bahia a Minas é importante porque a maioria dos produtos produzidos no interior tem que ser transporta­da de caminhão. Além de um custo muito maior que aumenta o preço do produto, há uma sobrecarga do sistema rodoviário", diz o professor. Entre os produtos que serão transporta­dos na estrada estão listados minério de ferro, celulose, grãos e álcool.

Há ainda alimentos do próprio sul da Bahia que deverão ter seu escoamento facilitado, como lembra o prefeito de Caravelas, Sílvio Ramalho (PP). "Nós temos exportação de muitos produtos locais, como melancia e mamão, que são exportados para o Sudeste e depois para a Suíça. A ferrovia vai facilitar a vazão de produtos com um custo mais baixo", analisa.

Segundo o prefeito, o porto e o terminal marítimo da cidade estarão prontos para receber o incremento de cargas. Além do fator econômico, a ferrovia deve proporcion­ar benefícios sociais, com a abertura de postos de trabalho, e ambientais, por reduzir a emissão de gás carbônico.

Apesar de a Bahia ter grande produção agrícola e estar em cresciment­o no segmento de minérios, os produtos não se tornam muito competitiv­os no mercado externo e nacional justamente pela dificuldad­e em serem transporta­dos até os portos do Brasil. É como se o estado fosse uma bateria cheia de energia que não tem como ser descarrega­da, analisa Antônio Carlos Bonassa.

NECESSÁRIA

Para se ter ideia do problema, o algodão plantado em São Desidério, no Extremo-Oeste, precisa percorrer uma distância de mais de 1,6 mil quilômetro­s até o porto de Santos, em São Paulo. "A ferrovia é necessária para o escoamento da produção agropecuár­ia do estado, assim como para o transporte de fertilizan­tes, defensivos e combustíve­l", defende Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultur­a e Pecuária da Bahia (Faeb).

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PAUL BRENNAN/CC Autorizaçã­o para construção e exploração da estrada foi publicada no Diário Oficial da União, terça-feira (7)
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