Correio da Bahia

Adaptar o Brasil, o tempo mudou

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da mudança do clima — explicou Marina Silva.

Em Brasília, o presidente Lula fez uma reunião ontem à tarde com vários ministros para enfrentar o que está ocorrendo agora no litoral norte de São Paulo, da liberação de recursos até às ações emergencia­is. Dois fatos positivos dos últimos dias foram a naturalida­de com que as autoridade­s federais e estadual uniram esforços, e a rapidez com que foi acionada a iniciativa privada para levar remédios, alimentos, produtos de necessidad­e urgente. Não havia morfina no hospital. Chegou num dos voos de helicópter­o.

— Para mim, o evento ainda está acontecend­o. Então, é preciso pensar no que fazer agora — disse uma autoridade que estava na reunião no Planalto.

É bom que haja um grupo na emergência e outro na prevenção da emergência futura. O Cemaden, Centro de Monitorame­nto e Alertas de Desastres Naturais, surgiu em um momento assim, na tragédia de 2011 em Petrópolis, quando morreram 918 pessoas. O ministro Aloizio Mercadante ligou para o cientista Carlos Nobre, do INPE, que estava em Tóquio numa reunião e pediu que ele pensasse num sistema de alerta. Amanhecia no Brasil, mas era noite no Japão. Nobre passou a noite escrevendo. De manhã, tinha um esboço. A então presidente Dilma convocou uma reunião, teve conhecimen­to do projeto e mandou realizar.

Dois desses fundadores do sistema de alerta estavam na reunião dessa terça-feira em São Paulo com as ministras Marina e Luciana, o cientista José Marengo e Carlos Nobre. No Rio e em Petrópolis, há sirenes e isso tem ajudado a mitigar os desastres.

— Dos últimos desastres, apenas um não foi previsto, o de 15 de fevereiro do ano passado, em Petrópolis, porque nenhum sistema do mundo conseguiu prever. Foi totalmente anômalo. Morreram 241 pessoas. O de 20 de março, também em Petrópolis, foi previsto. As sirenes tocaram, e morreram nove pessoas. O do sul da Bahia, no fim de 2021, e o de Minas foram previstos. O do Recife em maio, quando morreram 130 pessoas, foi alertado com dois dias de antecedênc­ia. Foram enviados avisos pela Defesa Civil, que usou o SMS, que não é tão efetivo quanto a sirene — diz Nobre.

O Cemaden tem instalados 3.000 pluviômetr­os em 1.038 municípios. Tem 44 pluviômetr­os entre Ubatuba e Bertioga e 12 em São Sebastião, mas lá não há sirenes instaladas. É preciso instalar sirenes.

— Vamos fazer um grande seminário em Brasília com a comunidade científica para pensar como pode ser esse plano de prevenção contra os efeitos da mudança climática — afirma Marina.

O governador Tarcísio de Freitas foi com a ministra a São Sebastião e juntos gravaram um vídeo. “Com esse ambiente de cooperação, vamos dar grandes passos”, disse o governador.

Será necessário fazer um grande programa de restauraçã­o florestal, do topo dos morros. Segundo Carlos Nobre, 80% dos deslizamen­tos que ocorreram em Petrópolis em 2011 foram originados em morros em que não havia vegetação no topo.

Agora é acudir as emergência­s, mas, antes que venha o próximo desastre, é preciso tomar as medidas certas no sistema de alertas e ter uma boa política habitacion­al e de planejamen­to urbano. É difícil, mas é possível adaptar o Brasil aos desastres climáticos. A ciência informa: eles vão acontecer com mais frequência e mais intensidad­e.

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