DESPEDIDA COM SABOR DE ‘QUERO MAIS’
Depois de dois anos sem Carnaval em Salvador, aquela música que diz que ‘queria que essa fantasia fosse eterna’ nunca fez tanto sentido. Por isso, o tradicional Arrastão da Quarta-feira de Cinzas teve um gostinho especial em 2023, afinal, quanto maior a saudade, maior a dor da despedida.
Às 10h, pontualmente, o cantor Bell Marques saudou os "inimigos do fim". “Eu sabia que vocês viriam”, brincou o cantor, que, aos 70 anos, não perde o pique nem mesmo no sétimo dia seguido em cima do trio.
Ao lado dos filhos Rafa e Pipo Marques, Bell se despediu de mais uma folia com músicas de sua antiga banda, Chiclete com Banana, e clássicos carnavalescos como "Chame Gente". "Obrigado por todos esses dias. Só posso dizer: ‘Até o ano que vem, com fé em Deus'", declarou.
Chicleteiro com direito a tatuagem em referência à banda, o turista paraibano Aldrin Aasafe, de 29 anos, chegou a Salvador na quinta-feira (16). “Eu vim (para os circuitos da festa) todos os dias. Só vou embora domingo, porque a Bahia é maravilhosa”, disse ele.
O jovem confessou que estava sedento pela folia baiana. “Eu sou de João Pessoa (PB), e minha esposa é de Maceió. Todo Carnaval, 'tamo' aqui em Salvador”, contou Aldrin. "Não quero ir embora nunca mais", gracejou.
TRABALHADORES
Se, por um lado, havia quem brincou durante todos os seis dias de festa, por outro, havia o público para o qual o arrastão foi idealizado por Carlinhos Brown: os trabalhadores do Carnaval, incluindo ambulantes, cordeiros e funcionários de camarotes.
"Trabalhei todos os dias no Carnaval. Peguei a 'pipoca' de
“Virei rato do Centro. Fui na Barra quinta e sexta-feira, mas voltei no meio da noite para a avenida. De sábado para frente, só fiquei por aqui mesmo”, relembra Thiago Assunção, 35 anos, um entre milhares de foliões que ficaram na região histórica de Salvador durante os seis dias de Carnaval.
Seja na Praça Castro Alves, no Espaço Cultural da Barroquinha ou na Praça Municipal, quando se fala do Centro na folia, duas coisas não faltaram: público e atração - dois componentes indispensáveis para despertar de vez a festa em um lugar onde ela andava, há tempos, adormecida.
“Eu amo o Carnaval do Centro, mas antes parecia largado. Isso me afastou por um tempo. Quando vi a grade de atrações que tinha aqui, fiz morada. É assim que tem de ser sempre. Se tem artista, tem gente e a festa aqui não morre”, acredita Marcela Pereira, 45, que ficou todos os dias da folia do Centro.
A fala da soteropolitana tem todo sentido se consideramos os números de atrações que passaram por lá. De acordo com a prefeitura de Salvador, o circuito Osmar recebeu 346 atrações contra as 181 do circuito Dodô, na Barra/Ondina. Ou seja, quase o dobro.
O prefeito Bruno Reis (União Brasil) comemorou o despertar do percurso mais tradicional da cidade e a garantia da permanência dele. “Acabamos com especulações de qual seria o futuro desse circuito e foram dadas as respostas durante todos os dias, em especial entre domingo e terça”, reforçou.
Ao todo, foram 512 atrações nos palcos temáticos. Não há, porém, um número que defina quantas tocaram somente no Centro, que concentrou a maioria. “Nós estamos fortalecendo mais o Centro. Vamos trazer mais novidades, mais conteúdo. Quem viu as imagens aqui durante esse período lembrou o passado”, disse Bruno Reis, durante uma coletiva.
Quem faz coro por esse fortalecimento é o governador Jerônimo Rodrigues (PT). Ele reconhece a gestão municipal como responsável pela festa, e disse que vai atuar conjuntamente para fazer a sua parte. “Já pedi para minha equipe que avalie como a gente pode fortalecer o circuito do Campo Grande. No próximo ano, queremos fazer de uma forma combinada e garantir uma programação mais extensa”, afirmou.
Tudo isso para ampliar uma programação que já foi recheada de artistas e apresentações. Os palcos montados na Praça Castro Alves, na Praça Municipal ou no Espaço Cultural da Barroquinha garantiram muita música para quem passava e ficava - por lá. No projeto 'Donas do Som', teve Larissa Luz, Márcia Castro, Karol Conká, Sued Nunes e Melly.
No Palco Brisa, na Barroquinha, teve Pedro Pondé, Ju Moraes, Afrocidade, Vandal, Nêssa e outros artistas. No After da Batekoo, que rolou todos os dias a partir da sexta-feira (17), teve Afrobapho, Freshprincedabahia, Tícia, Deise Tigrona e Mu540. Na Praça Municipal, rolou Majur, Diamba e Sistema Pagotrap.
A multidão que se formou por lá agradou quem se apresentou, como Daniela Mercury, que passou na Castro Alves com seu trio por duas vezes. A artista disse ao CORREIO que não é preciso abandonar a Barra, mas o Centro precisa ser reocupado. “No meu desfile de terça, o circuito do Campo Grande estava lotado. Tinha um mar de gente me acompanhando, uma coisa linda. Meu trio este ano me possibilitou ficar próxima do público, tocar nas pessoas, sentir esse calor”, lembra.
“E na terça eu fiz boa parte do circuito lado a lado com as pessoas. Foi muito especial. O Carnaval do Centro é o máximo”, afirma a cantora.
O prefeito também convidou Ivete Sangalo para tocar na pipoca do Campo Grande, na terça-feira de Carnaval, mas a artista se apresentaria no interior de São Paulo, e não houve como viabilizar a vinda a tempo. Mas, para o ano que vem, Bruno Reis já anunciou: “Consegui um compromisso importante. Ano que vem, Ivete vai estar aqui no Campo Grande com a gente, já me garantiu isso, e isso vai ser muito importante pra gente fazer um Carnaval ainda melhor aqui no Centro da cidade”, disse Reis. Foi no Campo Grande ainda que Xanddy Harmonia falou: “Prefeito mandou dizer que em 2024 serão 20 dias de Carnaval”. Fechou?
Eu amo o Carnaval do Centro, mas antes parecia largado. Quando vi a grade de atrações este ano, fiz morada Marcela Pereira, fã do Centro
Na terça eu fiz boa parte do circuito lado a lado com as pessoas. Foi muito especial. O Carnaval do Centro é o máximo Daniela Mercury, sobre o circuito
Virei rato do Centro. Fui na Barra quinta e sexta, mas voltei para a avenida. De sábado para frente, só fiquei por aqui mesmo Thiago Assunção, folião