Correio da Bahia

DESPEDIDA COM SABOR DE ‘QUERO MAIS’

- Marcos Felipe Soares REPORTAGEM marcos.nascimento@redebahia.com.br

Depois de dois anos sem Carnaval em Salvador, aquela música que diz que ‘queria que essa fantasia fosse eterna’ nunca fez tanto sentido. Por isso, o tradiciona­l Arrastão da Quarta-feira de Cinzas teve um gostinho especial em 2023, afinal, quanto maior a saudade, maior a dor da despedida.

Às 10h, pontualmen­te, o cantor Bell Marques saudou os "inimigos do fim". “Eu sabia que vocês viriam”, brincou o cantor, que, aos 70 anos, não perde o pique nem mesmo no sétimo dia seguido em cima do trio.

Ao lado dos filhos Rafa e Pipo Marques, Bell se despediu de mais uma folia com músicas de sua antiga banda, Chiclete com Banana, e clássicos carnavales­cos como "Chame Gente". "Obrigado por todos esses dias. Só posso dizer: ‘Até o ano que vem, com fé em Deus'", declarou.

Chicleteir­o com direito a tatuagem em referência à banda, o turista paraibano Aldrin Aasafe, de 29 anos, chegou a Salvador na quinta-feira (16). “Eu vim (para os circuitos da festa) todos os dias. Só vou embora domingo, porque a Bahia é maravilhos­a”, disse ele.

O jovem confessou que estava sedento pela folia baiana. “Eu sou de João Pessoa (PB), e minha esposa é de Maceió. Todo Carnaval, 'tamo' aqui em Salvador”, contou Aldrin. "Não quero ir embora nunca mais", gracejou.

TRABALHADO­RES

Se, por um lado, havia quem brincou durante todos os seis dias de festa, por outro, havia o público para o qual o arrastão foi idealizado por Carlinhos Brown: os trabalhado­res do Carnaval, incluindo ambulantes, cordeiros e funcionári­os de camarotes.

"Trabalhei todos os dias no Carnaval. Peguei a 'pipoca' de

“Virei rato do Centro. Fui na Barra quinta e sexta-feira, mas voltei no meio da noite para a avenida. De sábado para frente, só fiquei por aqui mesmo”, relembra Thiago Assunção, 35 anos, um entre milhares de foliões que ficaram na região histórica de Salvador durante os seis dias de Carnaval.

Seja na Praça Castro Alves, no Espaço Cultural da Barroquinh­a ou na Praça Municipal, quando se fala do Centro na folia, duas coisas não faltaram: público e atração - dois componente­s indispensá­veis para despertar de vez a festa em um lugar onde ela andava, há tempos, adormecida.

“Eu amo o Carnaval do Centro, mas antes parecia largado. Isso me afastou por um tempo. Quando vi a grade de atrações que tinha aqui, fiz morada. É assim que tem de ser sempre. Se tem artista, tem gente e a festa aqui não morre”, acredita Marcela Pereira, 45, que ficou todos os dias da folia do Centro.

A fala da soteropoli­tana tem todo sentido se consideram­os os números de atrações que passaram por lá. De acordo com a prefeitura de Salvador, o circuito Osmar recebeu 346 atrações contra as 181 do circuito Dodô, na Barra/Ondina. Ou seja, quase o dobro.

O prefeito Bruno Reis (União Brasil) comemorou o despertar do percurso mais tradiciona­l da cidade e a garantia da permanênci­a dele. “Acabamos com especulaçõ­es de qual seria o futuro desse circuito e foram dadas as respostas durante todos os dias, em especial entre domingo e terça”, reforçou.

Ao todo, foram 512 atrações nos palcos temáticos. Não há, porém, um número que defina quantas tocaram somente no Centro, que concentrou a maioria. “Nós estamos fortalecen­do mais o Centro. Vamos trazer mais novidades, mais conteúdo. Quem viu as imagens aqui durante esse período lembrou o passado”, disse Bruno Reis, durante uma coletiva.

Quem faz coro por esse fortalecim­ento é o governador Jerônimo Rodrigues (PT). Ele reconhece a gestão municipal como responsáve­l pela festa, e disse que vai atuar conjuntame­nte para fazer a sua parte. “Já pedi para minha equipe que avalie como a gente pode fortalecer o circuito do Campo Grande. No próximo ano, queremos fazer de uma forma combinada e garantir uma programaçã­o mais extensa”, afirmou.

Tudo isso para ampliar uma programaçã­o que já foi recheada de artistas e apresentaç­ões. Os palcos montados na Praça Castro Alves, na Praça Municipal ou no Espaço Cultural da Barroquinh­a garantiram muita música para quem passava e ficava - por lá. No projeto 'Donas do Som', teve Larissa Luz, Márcia Castro, Karol Conká, Sued Nunes e Melly.

No Palco Brisa, na Barroquinh­a, teve Pedro Pondé, Ju Moraes, Afrocidade, Vandal, Nêssa e outros artistas. No After da Batekoo, que rolou todos os dias a partir da sexta-feira (17), teve Afrobapho, Freshprinc­edabahia, Tícia, Deise Tigrona e Mu540. Na Praça Municipal, rolou Majur, Diamba e Sistema Pagotrap.

A multidão que se formou por lá agradou quem se apresentou, como Daniela Mercury, que passou na Castro Alves com seu trio por duas vezes. A artista disse ao CORREIO que não é preciso abandonar a Barra, mas o Centro precisa ser reocupado. “No meu desfile de terça, o circuito do Campo Grande estava lotado. Tinha um mar de gente me acompanhan­do, uma coisa linda. Meu trio este ano me possibilit­ou ficar próxima do público, tocar nas pessoas, sentir esse calor”, lembra.

“E na terça eu fiz boa parte do circuito lado a lado com as pessoas. Foi muito especial. O Carnaval do Centro é o máximo”, afirma a cantora.

O prefeito também convidou Ivete Sangalo para tocar na pipoca do Campo Grande, na terça-feira de Carnaval, mas a artista se apresentar­ia no interior de São Paulo, e não houve como viabilizar a vinda a tempo. Mas, para o ano que vem, Bruno Reis já anunciou: “Consegui um compromiss­o importante. Ano que vem, Ivete vai estar aqui no Campo Grande com a gente, já me garantiu isso, e isso vai ser muito importante pra gente fazer um Carnaval ainda melhor aqui no Centro da cidade”, disse Reis. Foi no Campo Grande ainda que Xanddy Harmonia falou: “Prefeito mandou dizer que em 2024 serão 20 dias de Carnaval”. Fechou?

Eu amo o Carnaval do Centro, mas antes parecia largado. Quando vi a grade de atrações este ano, fiz morada Marcela Pereira, fã do Centro

Na terça eu fiz boa parte do circuito lado a lado com as pessoas. Foi muito especial. O Carnaval do Centro é o máximo Daniela Mercury, sobre o circuito

Virei rato do Centro. Fui na Barra quinta e sexta, mas voltei para a avenida. De sábado para frente, só fiquei por aqui mesmo Thiago Assunção, folião

 ?? ARISSON MARINHO ?? Bell Marques e Carlinhos Brown cantam juntos no último dia do Carnaval deste ano
ARISSON MARINHO Bell Marques e Carlinhos Brown cantam juntos no último dia do Carnaval deste ano
 ?? ??
 ?? MARINA SILVA ?? O cantor comandou a sua tradiciona­l pipoca no Campo
Grande e, desta vez, lotou
MARINA SILVA O cantor comandou a sua tradiciona­l pipoca no Campo Grande e, desta vez, lotou

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil