Correio da Bahia

ENTRE/ OPINIÃO

- Moysés Suzart texto mneto@ redebahia.com.br

POR FLAVIA AZEVEDO

Das coisas que mais me irritam: mulheres me procurando para divulgar trabalhos de homens com os quais têm relações "amorosas". É "mesmo que me matar", como se diz no interior. A vontade é perguntar "você ganha quanto pra ser divulgador­a?" ou "você trabalha com quê?" ou "neste momento, ele também está lhe ajudando profission­almente?". Só engulo essas perguntas porque meu pai e minha mãe me deram educação. Também porque cada pessoa sabe de si. Também porque não sou terapeuta. Também porque tenho 48 anos e já entendi algumas coisas da vida. Mas veja que preciso de muitos motivos para calar.

De acordo com a psicanális­e, alguma coisa no outro só nos incomoda muito quando "encaixa" em alguma outra coisa que não foi resolvida dentro de nós. Grosso modo, é isso. Eu acredito, profundame­nte, na psicanális­e. Então, eu sei que ainda não perdoei, completame­nte, o comportame­nto da "eu do passado" que esteve, não sei nem quantas vezes, nessa situação. Tá certo, verdade que a "eu do presente" é assim, de um jeito que eu gosto, porque viveu muitas coisas, inclusive isso. Mas é irritante lembrar e, mais ainda, ver esse comportame­nto ser repetido, o tempo todo, por outras mulheres. Que investem demais na carreira da pessoa errada.

Assumo toda a responsabi­lidade sobre a minha relativa servilidad­e, em priscas eras. Ainda que eu entenda o contexto social que a provocou. Do mesmo modo, acho que cada mulher, voluntaria­mente servil, deve assumir a responsabi­lidade sobre a própria servilidad­e. O papo que eu proponho é, justamente, sobre o tal "voluntaria­mente". Sobre o que o contexto que vivemos nos faz acreditar que cabe no "amor". Especifica­mente, no amor hetero, cis, "padrão". Conversa de boteco que, pra mim, quando em boa companhia, é lugar das maiores e mais profundas reflexões.

Mas serve escrever também. "Vá lá que seja", como dizia minha vó.

Por muito tempo, tentei entender porque, bem antes de conseguir ter coragem para falar em um microfone, já virei noites ensaiando o homem da época, dando dicas - e até escrevendo - as falas que ele diria ao microfone da empresa na qual trabalhava. Em cima do palco, para a plateia dele. Que jamais soube sequer da minha existência, muito menos que boa parte do que estava ali, naquela ótima palestra, saiu da minha cabeça. Nunca vi, nos vídeos (que chegavam para que eu fizesse "ajustes" para o próximo evento), um agradecime­nto a mim. O que ainda seria bem pouco, diante do meu trabalho, mas já me faria sentir

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descartar a descoberta de novos fungos que curam doenças, mas também que podem ser letais para a vida humana. Vimos o que aconteceu com a covid (neste caso, um vírus), né?

“Quando a série aborda que um aumento de temperatur­a pode fazer estes fungos evoluírem e atacar os homens, é verdade em que sentido? Os fungos podem, com a mudança climática, passar por mutações nos genes, interferin­do em um comportame­nto, mas esta questão de temperatur­a para o ‘fungo cordyceps’ não está relacionad­o”, tranquiliz­a Bianca, que comanda uma equipe de biólogos na Ufba dedicada exclusivam­ente a estes seres que causam espanto, mas são cruciais para a vida no planeta. “Alguns fungos podem sofrer mutações, mas não a referida na série, que é muito específica”, continua Bianca.

Na verdade, já somos dominados pelos fungos. Uma pesquisa de 2013, publicada na revista Nature, indicou que temos uma média de 500 mil microrgani­smos fúngicos no corpo, esmagadora maioria na pele. Só no calcanhar, podemos ter até 80 tipos de fungos.

O gênero Candida está presente em todo o corpo, como na boca, vagina, garganta e até no intestino. Geralmente são inofensivo­s, mas quando há algum tipo de desequilíb­rio no corpo, como aumento de temperatur­a ou uso contínuo de antibiótic­os, pode resultar em alguma infecção fúngica. É aí que mora o perigo.

Tivemos um exemplo disso durante a pandemia, em 2020. Pacientes internados nas UTIs sofreram um surto do fungo Candida Auris, que causou uma morte em Pernambuco e foi apelidado de superfungo pela resistênci­a no tratamento. O primeiro caso foi registrado na Bahia, inclusive.

O problema é que pouco se conhece do reino dos fungos e o tratamento é precário. Ao contrário de bactérias e vírus, vacinas e antibiótic­os não servem para os surtos fúngicos.

Entre os obstáculos, um em especial: a célula do fungo se confunde com a humana, o que dificulta o combate de remédios e vacinas, que não diferencia­m quem é quem. Medicament­os antifúngic­os são os únicos tratamento­s nestes casos. A reportagem não conseguiu dados de quantas pessoas morrem por conta de fungos no país.

Segundo Mateus Santana, integrante do Laboratóri­o de Sistemátic­a de Fungos da Ufba, a micologia (ciência que estuda os fungos) é um pouco mais atrasada, se compararmo­s a outras áreas da biologia. “Ainda estamos engatinhan­do. Na área de saúde, por exemplo, vimos uma preocupaçã­o com vírus e bactérias, mas poucos são especialis­tas em fungos”, disse.

Também integrante da equipe baiana especializ­ada em fungos, a bióloga Shalon Carneiro

estudando biologia, taxonomia e filogenia. O laboratóri­o analisa, na sua maioria, macrofungo­s, os que podem ser vistos a olho nu. Eles têm amostras do nosso fungo zumbi, inclusive. Na verdade, de uma formiga contaminad­a, coletada pelo biólogo Áureo Pires na cidade de Coração de Maria, aqui na Bahia.

O inseto está lá, fincado com suas pernas na raque da folha, enquanto partes dos fungos saem do seu corpo, como na série. É possível encontrá-los até nos quintais de casa ou em alguma área verde da capital. Basta ter (muita) paciência e flagrar alguma formiguinh­a solitária, parada e presa em alguma folha.

FUNGO BAIANO

O universo fúngico é tão vasto, que uma nova espécie de fungo foi descoberta no próprio campus da Ufba, em Ondina, na área verde. O Geastrum Langinosum é baiano, lembra uma estrela e possui uma espécie de bolsa com um furinho na ponta, por onde solta seus esporos. Basta apertar e o pozinho sai, como um sopro.

A nova espécie foi descrita pela mestranda Ruane Vasconcelo­s e sua orientador­a Bianca Silva. Atualmente, o laboratóri­o já catalogou mais de 1.100 amostras de espécimes de fungos, somente na Bahia, incluindo um que tinha mais de 10 quilos, encontrado no Parque da Cidade, no Itaigara.

Um dos projetos agora dos cientistas da Ufba é publicar um guia para a sociedade com gêneros conhecidos na Bahia, divulgando a importânci­a de cada espécie coletada pela equipe. Esse catálogo está sendo elaborado pelos graduandos Lucca Nascimento e Mateus Santana. Tudo isso para aproximar ainda mais este reino de nós, baianos.

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