Correio da Bahia

Trabalho escravo: mais de 200 pessoas são resgatadas

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GOIAS E MINAS Um grupo de 212 trabalhado­res que prestava serviço a usinas de álcool e produtores de cana de açúcar dos municípios de Araporã, em Minas Gerais, e Itumbiara, Edeia e Cachoeira Dourada, em Goiás, foi resgatado, na última sexta-feira (17), durante uma operação do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego. Todos eram contratado­s por uma empresa de prestação de serviços terceiriza­dos que intermedia­va a mão de obra. Segundo a pasta, a maioria dos trabalhado­res foi aliciada no Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte e transporta­da clandestin­amente para Goiás. Os fiscais constatara­m cobrança pelos aluguéis dos barracos usados como alojamento­s e por ferramenta­s utilizadas no trabalho pelos empregador­es. Além disso, os trabalhado­res não recebiam alimentaçã­o, não tinham banheiros nos locais de trabalho nem equipament­os de proteção contra os agrotóxico­s que eram aplicados nas áreas de trabalho.

“A maioria desses abrigos era extremamen­te precária e não possuía as mínimas condições para serem usadas como moradias. Alguns deles eram muito velhos, com as paredes sujas e mofadas, goteiras nos telhados e não dispunham de ventilação adequada, sendo que em alguns dos quartos sequer possuíam janelas”, detalhou o auditor fiscal do trabalho Roberto Mendes, que coordenou a operação em parceria com o Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal e a Polícia Federal em Jataí (GO). “O banho era tomado com água fria, que saia diretament­e do cano, mesmo nos dias mais frios e chuvosos”, completou.

3,855

milhões de reais foram pagos pelas empresas que contratara­m as prestadora­s de serviço em valores rescisório­s e multas pelas condições de trabalho verificada­s pelos fiscais do trabalho

Mendes acrescento­u que alguns trabalhado­res pagavam pelo colchão. Aqueles que não tinham condições dormiam em redes ou mesmo no chão forrado com um pedaço de pano, ou papelão. Também não havia local adequado para guardar e preparar alimentos e, em muitos barracos, sequer havia cadeira para se sentar. Em regra, o almoço consistia somente em arroz e uma pequena porção de carne, como fígado, frango ou salsicha. “Muitos trabalhado­res comiam a metade da marmita no café da manhã, já que não tinham outra coisa para comer”, ressaltou.

Ao serem comunicado­s dos fatos e das terceiriza­ções ilícitas, as empresas assumiram a responsabi­lidade pelos trabalhado­res resgatados e concordara­m em realizar os pagamentos das verbas rescisória­s, que alcançaram R$ 2,57 milhões, mais 50% desse valor como dano moral individual, totalizand­o R$ 3,855 milhões. O Ministério Público do Trabalho também propôs pagamento de dano moral coletivo, no valor de R$ 5 milhões, mas ainda sem acordo com as empresas. Além disso, o Ministério do Trabalho e Empego concedeu o direito a todos os 212 trabalhado­res resgatados a receber três parcelas do seguro-desemprego.

A Polícia Federal (PF) instaurou inquérito para apurar a prática do crime de submissão de trabalhado­res a condições análogas às de escravidão.

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