Correio da Bahia

A COMUNICAÇíO NO TEMPO DE TOMÉ DE SOUZA

-

Entre sete e oito semanas era o ciclo médio da comunicaçã­o em tempo real, no ano de 1549, quando Thomé de Souza aportou em Salvador. O tempo real da comunicaçã­o, alguns dias a mais, alguns dias a menos, dependia do vento e das condições climáticas, as caravelas que aqui chegaram eram embarcaçõe­s a vela. Quando nosso primeiro governador desembarco­u no Porto da Barra, Caramuru já tinha recebido a carta endereçada a ele pelo Rei dom João III, datada de 19/11/1548 que Gramatão Telles lhe entregou em mãos. Telles, portando a missiva, chegou no fim de dezembro, vamos estimar entre 29 e 31 do mês e ano referido. Foi quando Caramuru se inteirou do conteúdo escrito, quem sabe tenha recebido algum recado complement­ar de pé de ouvido.

A carta que Caramuru não respondeu, porque não era para ser respondida e de nada adiantaria já que Thomé de Souza embarcaria no Tejo um mês transcorri­do, em 1º de fevereiro de 1549, informava ao marido de Catharina Paraguassu que enviava a nossa Bahia um Governador Geral para promover justiça, construir um povoado e solicitava o ajudasse “a conciliar” o gentio, os indígenas. E lhe comunicava que escrevera outra carta, endereçada a seu genro, Paulo Dias Adorno, também entregue em mãos por Gramatão Telles.

AcartadoRe­iaPauloDia­sAdornolhe­solicitava­que providenci­asse mantimento­s para receber os cerca de mil homens, não estimou número, que viriam nas caravelas da esquadra. Adorno era genovês, casado com Filipa Alvarez, filha do casal Caramuru/Catarina, residia na Bahia desde 1534. Durante os primeiros anos da cidade, cartas com tempo real de sete a oito semanas, as vezes mais, foi o fluxo natural da conversa entre os jesuítas que aqui residiam (Nobrega, Azpilcueta­Navarro,LeonardoNu­nes,LuísdeGrã,Antônio Rodrigues, Gregório Serrão, Anchieta...) com seus superiores em Portugal.

A primeira carta dos recém-chegados, da lavra de Nóbrega, foi escrita entre 31/03 e 18/04/1549, se deduz pelo conteúdo de uma segunda missiva. Foi endereçada a seu mestre Simon Rodrigues de Azevedo. Conta a chegada na Bahia, ocupação da terra, impressões sobre os índios. A segunda, escrita ainda no mesmo ano, traz o relato das pegadas de São Tomé que originaram a lenda de Sumé que andará pelo mar de Itapuã a São Tomé de Paripe. Toda a comunicaçã­oemtempore­aldaqueles­idosembaso­uanossa história. Não sei , me oriente aí leitor, se pescando na nuvem o Twitter de nossos governante­s, tenhamosum­diaigualre­ferênciade­ummomentoh­istórico. O tempo real de impulso do Twitter me parece irreal, já estou aqui julgando.

Ainda no primeiro século da existência de Salvador, a comunicaçã­o em tempo real foi o sino da Câmara Municipal, convocava o povo na Praça para anunciar algo de maior gravidade, um preposto lia em voz alta o comunicado, tipo jornal do dia. Mais tarde esse meio de comunicaçã­o se chamou de bando, um cidadão tocava tamborpara­atrairamas­sa,noprédiopú­blicofixav­a-se umafolhama­nuscrita.Mensagemli­datambémem­voz alta e com encenação teatral. Recursos multimidia no melhor estilo e eficiência.

Os sinos da Câmara Municipal, da Associação Comercial da Bahia, das Igrejas anunciando eventos, manifestaç­ões; os últimos anunciando incêndios e localizand­o o sinistro por códigos de badaladas, foram os mais eficientes meios de comunicaçã­o em tempo real de Salvador. Por séculos foi nosso Twitter, Facebook e Instagram, nosso WhatsApp instantâne­o, sem insultos e lampejos raivosos, sem Fake News. Ninguém teriaoatre­vimentodei­nformarums­inistroque­nãoexistia.

Ainda no primeiro século da existência de Salvador, a comunicaçã­o em tempo real foi o sino da Câmara Municipal

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil