Correio da Bahia

Bahia é segundo estado em desmate do bioma

Mata Atlântica Quatro cidades baianas estão entre as que mais agridem ecossistem­as no Brasil

- Gil Santos REPORTAGEM gilvan.santos@redebahia.com.br

A Bahia é o segundo estado do Brasil que mais desmata a Mata Atlântica, bioma considerad­o uma riqueza nacional e protegido por lei, os baianos ficam atrás apenas de Minas Gerais. O estudo da Organizaçã­o Não Governamen­tal Fundação SOS Mata Atlântica, divulgado nesta semana, revelou que, entre outubro de 2021 e outubro de 2022, a Bahia destruiu 5.719 hectares da vegetação.

Desde 2011, o levantamen­to é feito anualmente e foi divulgado na semana do Dia Nacional da Mata Atlântica, celebrado em 27 de maio. A pesquisa revelou que 73% do desmatamen­to desse bioma aconteceu em área privada e que menos de 1% (0,9%) foi realizado em área protegida. As principais razões são para dar lugar a pastagens, atividades agrícolas e a especulaçã­o imobiliári­a, principalm­ente quando a floresta fica nas proximidad­es de grandes cidades e no litoral.

Além de alcançar o segundo lugar em desmatamen­to, a Bahia também ficou entre os oito estados que aumentaram o desflorest­amento na comparação com o ano anterior, entre outubro de 2020 e outubro de 2021. Quatro cidades baianas entraram na lista das mais agressivas a esse bioma: Wanderley, Cotegipe, Baianópoli­s e São Félix do Coribe. Todas ficam no extremo Oeste do estado, região que vem se desenvolve­ndo economicam­ente, tendo a pecuária e a agricultur­a como principais atividades econômicas.

Na Bahia, o Corredor Central da Mata Atlântica está concentrad­o ao sul da Baía de Todos os Santos, mas o bioma pode ser encontrado em diversas regiões do estado, como Chapada Diamantina-Oeste, Litoral Norte, Baixo Sul, Sul, e Extremo-Sul.

Segundo a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, cada região apresenta caracterís­ticas ecológicas, histórias de ocupação humana, usos do solo e pressões antrópicas distintas. O domínio do bioma está diretament­e relacionad­o aos ciclos das atividades econômicas, como pau brasil, cana-de-açúcar, ouro, diamantes, café, jacarandá, gado, algodão, cacau e monocultur­a de eucalipto.

O Atlas da Mata Atlântica, que começou em 1989, analisa a conservaçã­o e o desmatamen­to dos 12,4% da área dos remanescen­tes de vegetação nativa maiores de três hectares. O mapeamento abrange o território de 17 estados. Em todo o Brasil, 20.075 hectares (ha) do bioma foram desflorest­ados, o que equivale a mais de 20 mil campos de futebol em um ano. Apesar dos números, o estrago foi 7% menor em relação ao detectado em 2020-2021 (21.642 hectares).

MEDIDA PROVISÓRIA

Na noite de quarta-feira (24), a Câmara dos Deputados aprovou uma medida provisória que altera pontos da Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06). O texto foi criticado por especialis­tas, que afirmam que as novas alterações vão facilitar o desmatamen­to e dificultar a fiscalizaç­ão. A decisão é vista como um retrocesso.

O texto permite, por exemplo, que a floresta seja desmatada sem necessidad­e de estudo prévio de impacto ambiental (EIA) ou compensaçã­o de qualquer natureza quando a finalidade for a construção de empreendim­entos lineares, como linhas de transmissã­o de energia elétrica, gasoduto ou de sistemas de abastecime­nto público de água.

A MP torna mais fácil desmatar áreas de vegetação original e acaba com a obrigatori­edade de autorizaçã­o dos órgãos ambientais estaduais para o desmatamen­to, atribuindo essa responsabi­lidade apenas ao município. Em entrevista a Globonews, o ministro das Relações Institucio­nais,

Alexandre Padilha afirmou que o governo vetará a medida e espera que o veto seja respeitado pelo Congresso.

“Na própria Câmara dos Deputados quando o texto foi votado pela primeira vez, a liderança do governo e eu sinalizamo­s que o governo vetaria e ali foi discutido [pelos deputados] que, se o presidente vetasse, não seria derrubado o veto”, afirmou.

A MP dispensa a captura, coleta e transporte de animais silvestres que forem encontrado­s durante o desmatamen­to, exigindo apenas a afugentaçã­o. No dia seguinte a aprovação, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) atualizou a relação das espécies ameaçadas de extinção nos biomas brasileiro­s.

Segundo a pesquisa, na Mata Atlântica, 2.845 espécies correm risco de extinção e é o maior número entre todos os biomas, tendo também a maior quantidade de espécies extintas, que subiu de 7 para 8, com a inclusão da Perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum).

Entre janeiro e fevereiro de 2023, o Sistema de Alertas de Desmatamen­to Mata Atlântica detectou 853 alertas, num total de 6.139 hectares desmatados, o que correspond­e a uma taxa de 104 hectares perdidos por dia no início do ano.

A Secretaria do Meio Ambiente da Bahia (Sema) e o Ministério Público da Bahia (MP-BA) foram procurados, mas não se manifestar­am. O CORREIO não conseguiu contato com as prefeitura­s citadas.

DEZ CIDADES SÃO RESPONSÁVE­IS POR 30% DO DESMATAMEN­TO:

Wanderley (com 1.254 hectares desmatados) Bahia

Cotegipe (907 ha) Bahia

Baianópoli­s (848 ha) Bahia

São João do Paraíso (544 ha) Minas Gerais

Araçuaí (470 ha) Minas Gerais

Porto Murtinho (424 ha) Mato Grosso do Sul

EM OITO ESTADOS HOUVE CRESCIMENT­O NO DESMATAMEN­TO DESSE BIOMA:

 ?? IBAMA/DIVULGAÇÃO ?? São Félix do Coribe está entre as cidades baianas mais agressivas ao bioma de Mata Atlântica no Brasil
IBAMA/DIVULGAÇÃO São Félix do Coribe está entre as cidades baianas mais agressivas ao bioma de Mata Atlântica no Brasil

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