Correio da Bahia

E o STF, já vai legalizar?

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FOI ADIADO, mais uma vez, o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da ação que trata da descrimina­lização do porte de drogas para consumo pessoal. O processo estava na pauta da quarta (24), mas foi retirado para que a Corte desse prosseguim­ento ao julgamento do ex-presidente Fernando Collor (PTB), que acabou condenado por corrupção. A pena será discutida em outra sessão.

A ação começou a tramitar no STF há 8 anos e, até o momento, três ministros já votaram. Todos a favor de algum tipo de descrimina­lização. O caso tem repercussã­o geral e a decisão do Supremo vai servir de parâmetro para todos os tribunais do país.

Gilmar Mendes votou pela descrimina­lização de todos os tipos de drogas, sem especifica­r quantidade, em razão do direito à intimidade e à inviolabil­idade da vida pessoal do usuário. Já Edson Fachin opinou que a descrimina­lização seja válida somente para o porte de maconha. Luís Roberto Barroso também votou nesse sentido, mas sugeriu que o STF determine que não é crime andar com até 25 gramas de maconha ou cultivar até seis plantas da erva para consumo pessoal.

A análise do caso foi interrompi­da, ainda em 2015, por um pedido de vista (mais tempo de análise) feito pelo ministro Teori Zavascki, que morreu em um acidente aéreo em 2017. Ele foi substituíd­o por Alexandre de Moraes, que liberou o recurso para ser pautado ainda em 2018. Desde então, o caso ficou parado.

O processo surgiu a partir de questionam­entos à Lei das Drogas, que estabelece­u que o porte de drogas para uso pessoal tem baixo poder ofensivo e pode ser punido com penas brandas, como advertênci­a sobre os efeitos das drogas, serviços comunitári­os e medida educativa de comparecim­ento a programas ou cursos sobre uso de drogas.

Os críticos argumentam que, sem prevê a quantidade que caracteriz­e uso pessoal, o dispositiv­o dá excessivo poder aos juízes para enquadrar quem for flagrado com drogas como usuário ou traficante. Entidades de defesa dos direitos das pessoas negras afirmam que isso leva à discrimina­ção nas decisões judiciais, pois a maioria dos presos por tráfico são negros, ainda que boa parte tenha sido flagrada com quantidade­s menores de droga do que réus brancos enquadrado­s como usuários. E mesmo quem é enquadrado como usuário precisa enfrentar processo penal, perdendo benefícios como o de ser réu primário

Quem é contra a descrimina­lização alega que, ao consumir drogas ilegais, o usuário ameaça a saúde pública e alimenta o tráfico. Outro argumento utilizado é o de que o uso pessoal já foi despenaliz­ado, não havendo sanções mais graves, o que esvaziaria a necessidad­e de se descrimina­lizar o uso.

A política de guerra às drogas adotada globalment­e consome muito dinheiro e tem pouca eficácia. É um retumbante fracasso. Mesmo com todo o aparato repressivo e publicidad­e negativa, o número de usuários aumenta, bem como o de presos (há uma associação com a política de encarceram­ento em massa, que é outra ferramenta usada de maneira racista). No caso do Brasil, como todos sabem, a prisão é a grande escola do crime. É lá que uma pessoa presa injustamen­te (por exemplo, por roubar um pacote de margarina ou andar com 3 gramas de maconha), desassisti­da pelo estado, perde todas as perspectiv­as de futuro e é facilmente aliciada por facções.

Ainda no caso brasileiro, o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) é uma das vozes a favor da descrimina­lização das drogas. Mas há outras, em todos os países. E há exemplos de políticas bem e mal sucedidas de descrimina­lização que podem ajudar o Brasil – nesse debate tão necessário - a formar suas leis e seguir seu próprio caminho. O que não é possível é insistir no que deu e dá errado. Enquanto a maconha é proibida, o uso de álcool, tabaco e remédios ‘tarja preta’ é liberado. Essas substância­s viciam, matam, destroem famílias e consomem uma enormidade de recursos públicos do sistema de saúde. de reais em emendas parlamenta­res foi liberado pelo governo Lula no dia da votação do arcabouço fiscal. 99% desses recursos são da área da Saúde e vão direto para as prefeitura­s indicadas pelos parlamenta­res. Foi, segundo O Estado de S. Paulo, a maior liberação de recursos em um único dia deste ano. As novas regras fiscais foram aprovadas com 372 votos favoráveis, 108 deputados se posicionar­am contra. A ideia do projeto de lei é a de ter uma política de controle de gastos do governo.

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SHUTTERSTO­CK Supremo analisa ação e pode descrimina­lizar porte da maconha

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