Correio da Bahia

ENTRE/TRIBUTO

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Um dilema interessan­te surgiu na redação quarta-feira à tarde, quando a editora-chefe, Linda Bezerra, recomendou que a capa da edição do dia seguinte fosse inteiramen­te dedicada a Tina Turner, cuja morte aos 83 anos havia sido anunciada minutos antes. Jornais são construçõe­s coletivas. Portanto, foram naturais as indagações sobre o tamanho do espaço que seria ocupado por ela. Sobretudo, entre os mais jovens, para quem a cantora nunca fez parte de suas vidas ou era apenas outra artista da qual ouviram falar. Se muito, tiveram contato, de passagem, com o legado musical dela. A dúvida persistiu também em jornalista­s de gerações anteriores. "Não seria uma homenagem exagerada para alguém que está tanto tempo fora dos holofotes?" foi a interrogaç­ão mais comum. Ficou patente que, na verdade, a personagem é que estava subdimensi­onada na visão de parte da equipe. E é necessário mostrar por quê.

Seria realmente exagero a homenagem para uma cantora que chegou perto de ultrapassa­r a barreira de 200 milhões de discos vendidos e faturou 12 Grammy, oito deles em categorias competitiv­as? Justamente a primeira negra e mulher a estampar a capa da lendária revista Rolling Stone, a mais velha celebridad­e a figurar na vitrine impressa da franquia Vogue aos 73, desbancand­o uma deusa do cinema como Meryl Streep, até então recordista com 62 anos? Ou que entrou para o Guinness Book ao reunir o maior público pagante em um único show, com 182 mil ingressos vendidos? Para apimentar a reflexão, a marca foi conquistad­a em 1988 no Maracanã. Ou seja, na cidade brasileira tão maravilhos­a quanto ela. Sabem de quem era o recorde anterior e onde havia sido registrado? De Frank Sinatra e no mesmo Maracanã.

A lista de razões vai além dos números, e é bom saber que só uma fatia pequena deles foi citada acima. Os motivos abrangem também a versatilid­ade. Tina pertence ao seleto grupo de personalid­ades a possuir uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Sim, a cantora fez sucesso no cinema. Embora a filmografi­a tenha sido curta, até hoje é elogiada pelos cinéfilos e críticos. Inclui a incensada versão para a telona da ópera rock Tommy, criada pelos ingleses da banda The Who. Dez anos depois, em 1985, fez o mundo sentir momentanea­mente raiva dela, ao interpreta­r Tia Entity, a cruel vilã de Mad Max Além da Cúpula do Trovão, terceiro filme da cultuada saga

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