Olho de Peixe chega ao streaming
Lançado em 1993 apenas em CD, o cultuado álbum Olho de Peixe, de Marcos Suzano e Lenine está finalmente nas plataformas de música. Gravado de maneira independente, o disco já dava mostrava em suas 11 faixas por que Lenine seria logo depois ratificado como um dos melhores compositores brasileiros de sua geração. E Marcos Suzano, claro, também foi confirmado como um dos maiores percussionistas brasileiros, acompanhando artistas como Zizi Possi, Marisa Monte e Gilberto Gil.
O pernambucano Lenine tinha apenas um álbum gravado antes, Baque Solto, junto com o conterrâneo Lula Queiroga, lançado em 1983. Mesmo com o aval da gravadora Philips e de seu diretor artístico, Roberto Menescal, aquele disco, como se diz por aí, não “aconteceu”.
Lenine passou os dez anos seguintes compondo e entregando canções a outros intérpretes. Mas tinha coisa que deixava na gaveta, para ele mesmo gravar quando surgisse uma chance. Finalmente, foi o que aconteceu quando conheceu Suzano, através de um amigo em comum, Paulo Muylaert.
Lenine e Suzano se entenderam bem, viram que tinha uma química entre eles e mandaram para a extinta TV Manchete uma gravação para a trilha sonora da novela Ana Raio & Zé Trovão (1990), As Voltas que o Mundo Dá.
Partiram então para o próximo trabalho, a gravação de Olho de Peixe. Contaram com a ajuda de um amigo, Denilson Campos, que tinha umas horas disponíveis para gravação num estúdio do Rio. “Na época, não tinha como gravar disco se não fosse num estúdio profissional, porque era tudo analógico. Nada era digital, como hoje. Essa coisa do Denilson disponibilizar um estúdio pra gente foi ótimo. Se não tivesse, seria muito difícil”, diz o percussionista. Lenine lembra como foi puxado o trabalho: “A gente ocupou os finais de semana, porque era bom ter um mergulho intenso, de seis horas da noite de sexta-feira até segunda-feira, perto da oito da manhã”.
Depois da gravação, partiram para a mixagem, em Nova York. Lançamento e distribuição ficaram com o selo Velas, de Ivan Lins e mais dois sócios. Olho de Peixe acabou tendo uma repercussão bem maior que a de Baque Solto e levou Lenine e Suzano para o exterior, para uma série de festivais na Europa, em países como Alemanha, Espanha e França, além de uma temporada de quatro semanas no Japão.
Mas, depois de 30 anos, qual a sensação da dupla ao escutar o álbum? Afinal, ele envelheceu bem ou mal? “Não costumo ouvir um álbum depois de feito. Mas, agora, ouvi para saber como ficou a remasterização. Teve umas coisas difíceis de ouvir, ao constatar minha voz como era, a maneira como eu cantava. Me causa um certo estranhamento”, diz Lenine, revelando ser autoexigente, mas com certeza leveza, rindo. Além de chegar às plataformas, o álbum vai ser lançado em vinil, em setembro, e ganhará um songbook, em junho.
Na época, não tinha como gravar disco se não fosse num estúdio profissional, porque era tudo analógico. Nada era digital, como hoje Marcos Suzano percussionista carioca
Não costumo ouvir um álbum depois de feito. Teve umas coisas difíceis de ouvir, ao constatar minha voz como era, a maneira como eu cantava Lenine cantor e compositor pernambucano