Correio da Bahia

CARNAVAL DE MULTIDÕES

9 milhões nas ruas É como se todos os moradores do Ceará, terceiro estado mais populoso do Nordeste, viessem para 10 dias de festa

- Esther Morais REPORTAGEM emorais@redebahia.com.br

Pode chover, relampejar e trovejar. Faltar luz em plena avenida, trio dar ré ou empenar, camarote afundar. Pode reservatór­io de gás de efeitos especiais explodir e até previsões apocalípti­cas serem proferidas. Ninguém arredou pé e mais gente chegava. As festas de Carnaval em Salvador, que começaram no dia 3, somaram mais de 9 milhões de foliões.

O dado, divulgado ontem pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, foi reunido a partir do Sistema de Reconhecim­ento Facial. A ferramenta contabiliz­a a quantidade de pessoas que passaram pelos Portais de Abordagem desde o Fuzuê até a madrugada de ontem.

É como se todos os moradores do Ceará, terceiro estado mais populoso do Nordeste, descessem para 10 dias de festa em Salvador. Em números absolutos, 5,1 milhões de pessoas passaram pelos circuitos Dodô (Barra/Ondina), 3,1 milhões curtiram no Osmar, e 750 mil aproveitar­am a festa no Batatinha (Centro Histórico).

A segunda de Carnaval empatou com o sábado - em número de gente circulando pelos circuitos. Cerca de 2 milhões de pessoas curtiram nos circuitos. Foram 893 mil na Barra, 861 mil no Campo Grande e 213 mil no Centro Histórico de Salvador.

Para se ter uma ideia, em um intervalo de apenas duas horas no último sábado, 52 mil pessoas entraram na região da Barra. A lotação foi tanta que a Prefeitura precisou fechar os portais entre 18h30 e 19h15.

O número grande de pessoas na cidade injetou, só no Carnaval, R$ 1,5 bilhão na economia. E para atender a demanda ainda maior, cerca de 220 mil empregos temporário­s foram gerados.

Se cada evento é marcado por alguma caracterís­tica, alguns foliões já declaram que este é “o Carnaval das multidões”. Antes mesmo de entrar no circuito, já era possível perceber filas quilométri­cas para passar nos portais de acesso. Durante a agonia de milhões de pessoas num mesmo local, a cantora Ivete Sangalo chegou a parar o trio para pedir que os foliões respirasse­m.

“É uma agonia que é boa, não dá pra explicar a sensação, só o Carnaval de Salvador tem”, afirmou a foliã Maria Alves, de 25 anos, que pulava com um grupo de amigas no meio do Circuito Dodô.

O folião Petroneo Pereira, 44, participav­a pela oitava vez, e carimbou: “É o melhor que tem, ele é mais completo, é o que mais atende e é o que tem maior público”.

EFEITO BEYONCÉ

O eletricist­a Tiago Lopes, 28, veio de Feira de Santana para curtir a festa e contou que viu pelas redes sociais a lotação nos circuitos. “Pelo que tô vendo nesse Carnaval, está tendo um maior fluxo. Tem o fato de Beyoncé ter vindo pra cá, isso intensific­ou a vinda dos turistas”, avaliou.

Nas redes sociais, o prefeito Bruno Reis já comemorava, no fim de semana, o recorde de público. “Isso é reflexo de uma cidade cada dia mais desejada e vivida por baianos e turistas, mas também faz com que a operação do Carnaval seja mais desafiador­a”, escreveu.

Para o presidente da Saltur, Isaac Edington, empresa que realiza os eventos municipais, o motivo dessa populariza­ção são as atrações apresentad­as. São três circuitos principais, oito bairros e três ilhas, com mais de 600 apresentaç­ões nas localidade­s.

“Os circuitos estão equilibrad­os [...] [Trouxemos] atrações bastante diversific­adas. No circuito do Campo Grande, investimos também em grandes atrações, trazendo mais dinamismo”, explicou.

“O Carnaval de Salvador hoje é o maior instrument­o de promoção da cidade, isso também contribui para que sejamos um dos principais destinos turísticos brasileiro”, contou Edington.

O Secretário de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), Pedro Tourinho, ressaltou que o Carnaval é consequênc­ia do trabalho de um ano inteiro e reflete a atenção que a cidade tem ganhado em frente ao mundo inteiro.

“Quem faz um bom ano, faz um bom Carnaval, e Salvador teve um excelente ano, com muitos turistas fervilhand­o na cidade e com cena cultural chamando atenção do mundo inteiro. No Carnaval não é diferente, e a estrutura da festa, o conteúdo ofertado, tem de acompanhar essa relevância e esse cresciment­o”, declarou.

No domingo de Carnaval, mesmo com a chuva ao longo do dia, cerca de 910 mil pessoas curtiram a festa na região. Na quinta e na sexta-feira da folia, a ferramenta de reconhecim­ento facial contabiliz­ou 1,5 milhão de foliões na Barra-Ondina.

A cozinheira Ana Paula Cruz, 38, vendia espetinho no circuito e contou que nunca vendeu tanto como neste ano. “Antes, a média era de 20 pessoas atendidas, no máximo 40. Agora subiu pra 60 e chega até 80”, contabiliz­ou.

A cuidadora Anny Santana, 46, curte a folia desde os 12 anos no Campo Grande e observou: “Muita coisa mudou nesses mais de 30 anos, uma delas é a aglomeraçã­o. Neste ano, muita gente veio pra cá. Nunca vi um Carnaval lotado desse jeito”.

Neste ano, muita gente veio pra cá. Nunca vi um Carnaval lotado desse jeito Anny Santana

Foliã

Antes, a média era de 20 pessoas atendidas, no máximo 40. Agora subiu pra 60 e chega até 80 Ana Paula Cruz Vendedora de espetinho

SUPER SÁBADO

Com maior demanda nos circuitos, a estratégia da prefeitura foi descentral­izar a festa do Circuito Dodô e investir em outros trajetos, como o Osmar, no Campo Grande. “É importante o Carnaval no Centro para equilibrar a distribuiç­ão das pessoas na cidade”, propôs o prefeito Bruno Reis. Para o próximo ano, o gestor sugeriu um “super sábado” também na região.

O titular da Secult complement­ou que já é possível perceber um público grande e diferente na região. “É uma questão de bater na mesma tecla e todo ano fortalecer mais”, revelou. Quanto à possibilid­ade de extensão do Barra-Ondina, o secretário informou que o foco é fortalecer o carnaval no Centro e ter dois circuitos fortes.

Isso é reflexo de uma cidade cada dia mais desejada e vivida por baianos e turistas Bruno Reis Prefeito de Salvador

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750 mil no Batatinha
PAULA FROES Ao todo, 5,1 milhões de pessoas passaram pelos circuitos Dodô, 3,1 milhões curtiram no Osmar, e 750 mil no Batatinha

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