Correio da Bahia

Carlinhos Brown e blocos afro encerram folia

Carnaval Um encontro inédito marcou o Arrastão da Quarta-Feira de Cinzas, no Circuito Dodô (Barra-Ondina)

- Millena Marques REPORTAGEM millena.marques@redebahia.com.br COM ORIENTAÇÃO DA CHEFE DE REPORTAGEM PERLA RIBEIRO

O tradiciona­l Arrastão atraiu uma multidão ao Farol da Barra na manhã de ontem. O início do fim da festa foi comandada por Bell Marques. “Vamos terminar essa festa hoje de maneira muito especial. Agora é hora de nos divertirmo­s. A alegria permaneceu, nosso compromiss­o maior”, disse Bell, antes da apresentaç­ão. Além dele, também desfilaram os trios de Léo Santana, Danniel Vieira, Carlinhos Brown e convidados.

A multidão que esperava por Brown no Farol da Barra foi surpreendi­da com uma chegada emocionant­e. Por volta das 12h, o cacique do Candeal apareceu no local correndo, com um cocar em homenagem ao Ilê Aiyê, acompanhad­o de centenas de percussion­istas do projeto Os Zárabes.

Assim o artista iniciava um encontro histórico: pela primeira vez, Ilê Aiyê, Olodum e Os Zárabes se reuniam para encerrar o tradiciona­l Arrastão da Quarta-Feira de Cinzas na capital.

SAGRADOS

Um pai-nosso, uma ave-maria e o padê marcaram o início do desfile, que reuniu cerca de 500 percussion­istas dos convidados e centenas de foliões. “O Ilê é uma casa que abrange o mundo, me acolheu, acolheu o Axé Music e acolhe os grandes cantores, que hoje são molas propulsora­s de sucesso no Brasil para o mundo”, disse o cacique, que, junto ao Ilê, abriu e fechou o Carnaval de 2024.

Na bateria do Ilê, o técnico em Segurança do Trabalho Aldenízio Rocha, 39 anos, celebrou o encontro promovido por Brown. Em 18 anos na percussão do bloco, essa foi a primeira vez que desfilou no encerramen­to da folia. “Esse encontro fortalece a nossa negritude, a nossa ancestrali­dade, as nossas raízes”, avisou.

O encontro histórico no Arrastão representa o encerramen­to do Carnaval, mas é muito mais que isso neste ano. Isso porque, em 2024, o Ilê Aiyê celebra 50 anos de existência, enquanto o Olodum comemora 45 anos. “Estamos muito felizes e consciente­s de que esse momento é um marco na história do Carnaval da Bahia. É uma honra enorme celebrar os 50 anos de bloco afro através dos nossos irmãos do Ilê”, afirmou o presidente executivo do Olodum, Jorginho Rodrigues.

O Olodum colocou na rua cerca de 120 percussion­istas para celebrar esse momento histórico. O presidente ainda informou que pretende realizar mais ações para celebrar essa data histórica. “Vamos fazer disso uma série de eventos que se repitam e que enalteçam e valorizem a cultura afro-brasileira”, concluiu.

Esse encontro fortalece a nossa negritude, a nossa ancestrali­dade, as nossas raízes Aldenízio Rocha

Técnico em Segurança do Trabalho e músico da bateria do Ilê Aiyê

NEGRITUDE

Ao longo do percurso, Carlinhos e os cantores dos blocos puxaram canções que representa­m a história do Olodum e do Ilê. No repertório, estavam os clássicos ‘Que Bloco É Esse?’, ‘Canto da Cor’, ‘Charles Ilê’, ‘Protesto do Olodum’ e ‘Alfabeto do Negão’. Na multidão, muito swing, emoção e representa­tividade.

Embalada pelos tambores dos blocos, a professora Marivalda Barreto, 61, comemorou o encontro no Farol da Barra. “A importânci­a desse encontro é de valorizaçã­o da cultura afro-baiana, que é uma das maiores culturas do Carnaval. As pessoas se valorizam enquanto negras, enquanto importante­s como negras”, comentou.

A cantora Tatiane Brito, conhecida como Tati Brito, trabalhou todos os dias do Carnaval de Salvador 2024. Apesar do sol escaldante desta quarta-feira, a artista fez questão de curtir o Arrastão atrás de Brown, dos Zárabes e dos blocos Ilê e Olodum.

“A importânci­a desse momento é ratificar a nossa negritude, a nossa ancestrali­dade, renovar as energias do ano inteiro porque o arrastão é o melhor do Carnaval, é para lavar a alma”.

Ao chegar em Ondina, Brown finalizou o desfile com outra participaç­ão especial: Mariene de Castro, que acompanhou todo o desfile. Esse foi o momento em que o cacique subiu ao trio - ele conduziu as baterias no chão, durante todo o circuito - e cantou o hino do Senhor do Bonfim ao lado da cantora.

“Nunca vi tanta gente aqui [no Arrastão], provando que o trabalho do Ilê Aiyê vale e valeu para todos nós. Que Neguinho do Samba continue nos nossos ouvidos, ensinando-nos a missão do amor e do toque sonoro. Que Vovô do Ilê tenha força, que João Jorge tenha força”, deu o recado ao finalizar o circuito em Ondina, com centenas de pessoas na rua.

 ?? MARINA SILVA ?? Brown fez um encerramen­to emocionant­e, levando para o Circuito Dodô os Zárabes e os blocos afro Ilê Aiyê e Olodum, representa­ntes do povo
MARINA SILVA Brown fez um encerramen­to emocionant­e, levando para o Circuito Dodô os Zárabes e os blocos afro Ilê Aiyê e Olodum, representa­ntes do povo
 ?? ARISSON MARINHO ?? Léo Santana e Tony Salles fizeram a felicidade do folião que, mesmo de ‘perna bamba’, queria mais festa
ARISSON MARINHO Léo Santana e Tony Salles fizeram a felicidade do folião que, mesmo de ‘perna bamba’, queria mais festa

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