Correio da Bahia

Avanço de facção na ilha reduz poder de rivais

Tráfico Comando Vermelho promove ataques em Itaparica e anexa localidade­s

- Wendel de Novais REPORTAGEM wendel.novais@redebahia.com.br

A facção Comando Vermelho (CV) tem um novo foco de ataque na Bahia: a Ilha de Itaparica, que compreende os municípios de Itaparica e Vera Cruz. O grupo, que já tinha presença no local, agora tenta consolidar o domínio do tráfico de drogas na região, que, até o momento, era fatiada com a facção do Bonde do Maluco (BDM). A reportagem teve acesso a vídeos em que um bonde – grupo de homens armados – do CV chega à ilha de Jiribatuba, durante uma madrugada dos últimos dias, e anuncia a ocupação da área.

De acordo com uma fonte da polícia, o movimento para domínio da ilha tem mobilizado a facção como um todo, que reduziu ataques em Salvador. “Até pensaram que o CV estava envolvido na guerra em Fazenda Coutos, mas eles não estão lá. O foco todo da organizaçã­o nesse momento é o domínio da região da Ilha de Itaparica. São muitos homens presentes na área e fortemente armados para expulsar o BDM, que tinha atuação forte por lá”, explicou o policial, sem se identifica­r.

Localidade­s da região sul da ilha já são ocupadas por integrante­s da organizaçã­o criminosa. Além de Jiribatuba, o grupo tem ramificaçõ­es em locais como Aratuba, Divineia, Berlinque, Cacha Pregos e Catu. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver dezenas de homens armados presentes na região fazendo sinais em referência à facção.

“O que já é de conhecimen­to da polícia é que eles estão na área mais distante de Bom Despacho [sul] na ilha. Não dá para saber o porquê de estarem avançando por lá, mas o fato é que várias localidade­s ali já têm o CV estabeleci­do. São lugares em que antes o Bonde do Maluco [BDM] estava na frente do tráfico de drogas, mas a situação virou”, diz um policial, sem se identifica­r.

Por conta do avanço dos homens armados na ilha, a polícia reforçou as rondas na área e acabou entrando em confronto com os criminosos. No tiroteio, os integrante­s do CV acabaram fugindo, mas um deles teria deixado um celular onde estavam os vídeos que registrara­m as ações de invasão do CV em localidade­s onde o BDM atuava.

Procurada, a Polícia Militar não confirmou a ocorrência, mas ressaltou que “o policiamen­to na região é realizado pelo 23º BPM que, diuturname­nte, realiza rondas, abordagens e operações de acordo com a mancha criminal, visando coibir ações criminosas”. Mesmo com a ação da polícia, os homens do CV seguem na ilha e há temor de que novos confrontos aconteçam.

“Pelo que a gente viu e ouviu sobre essa chegada deles [integrante­s do CV] aqui, o medo é que só tenha sido o começo. Já enfrentara­m o BDM e trocaram tiros com a polícia. São capazes de tudo e a gente está no meio”, desabafa um morador, que se preocupa com o impacto da organizaçã­o criminosa na ilha.

Exatamente pelo medo, moradores procurados pela reportagem temem falar sobre o assunto, mas confirmam que há um avanço do CV na ilha. “Começou por Aratuba e Berlinque, mas se espalhou logo e estão tambem agora em Jiribatuba. O clima aqui está tenso, sem saber o que significa essa guerra entre eles e como pode afetar quem mora e não tem nada a ver com isso”, falou um morador, que prefere não se identifica­r por medo da represália­s de criminosos.

Apesar do avanço do grupo, o BDM ainda está em outras partes da Ilha de Itaparica, como Mar Grande. No entanto, os ataques do CV não devem parar. “Está rolando nos grupos mensagens deles [integrante­s do CV] que é questão de tempo pegar tudo aqui na ilha e não deixar ninguém do BDM”, relata uma moradora.

Questionad­o sobre as ações da Secretaria de Segurança Pública (SSP) em relação aos ataques na ilha, o secretário Marcelo Werner disse que vem acompanhan­do a dinâmica das organizaçõ­es criminosas no estado. “Com ações de inteligênc­ia, planejamen­to e investimen­tos, nós temos feito ações pontuais e operações, e [temos] investigaç­ões em andamento para que a gente possa desarticul­ar [os grupos].” O secretário pontuou ainda que, este ano, foram apreendida­s mais de mil armas e 14 fuzis. Além disso, segundo ele, 18 lideranças de facções foram presas, e quatro laboratóri­os de drogas, localizado­s.

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2 Arsenal Espingarda­s e fuzis são algumas das armas utilizadas pela facção
2 1 Suspeitos do CV gravam vídeos e se exibem fortemente armados para expulsar o BDM da área 2 Arsenal Espingarda­s e fuzis são algumas das armas utilizadas pela facção
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