Avanço de facção na ilha reduz poder de rivais
Tráfico Comando Vermelho promove ataques em Itaparica e anexa localidades
A facção Comando Vermelho (CV) tem um novo foco de ataque na Bahia: a Ilha de Itaparica, que compreende os municípios de Itaparica e Vera Cruz. O grupo, que já tinha presença no local, agora tenta consolidar o domínio do tráfico de drogas na região, que, até o momento, era fatiada com a facção do Bonde do Maluco (BDM). A reportagem teve acesso a vídeos em que um bonde – grupo de homens armados – do CV chega à ilha de Jiribatuba, durante uma madrugada dos últimos dias, e anuncia a ocupação da área.
De acordo com uma fonte da polícia, o movimento para domínio da ilha tem mobilizado a facção como um todo, que reduziu ataques em Salvador. “Até pensaram que o CV estava envolvido na guerra em Fazenda Coutos, mas eles não estão lá. O foco todo da organização nesse momento é o domínio da região da Ilha de Itaparica. São muitos homens presentes na área e fortemente armados para expulsar o BDM, que tinha atuação forte por lá”, explicou o policial, sem se identificar.
Localidades da região sul da ilha já são ocupadas por integrantes da organização criminosa. Além de Jiribatuba, o grupo tem ramificações em locais como Aratuba, Divineia, Berlinque, Cacha Pregos e Catu. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver dezenas de homens armados presentes na região fazendo sinais em referência à facção.
“O que já é de conhecimento da polícia é que eles estão na área mais distante de Bom Despacho [sul] na ilha. Não dá para saber o porquê de estarem avançando por lá, mas o fato é que várias localidades ali já têm o CV estabelecido. São lugares em que antes o Bonde do Maluco [BDM] estava na frente do tráfico de drogas, mas a situação virou”, diz um policial, sem se identificar.
Por conta do avanço dos homens armados na ilha, a polícia reforçou as rondas na área e acabou entrando em confronto com os criminosos. No tiroteio, os integrantes do CV acabaram fugindo, mas um deles teria deixado um celular onde estavam os vídeos que registraram as ações de invasão do CV em localidades onde o BDM atuava.
Procurada, a Polícia Militar não confirmou a ocorrência, mas ressaltou que “o policiamento na região é realizado pelo 23º BPM que, diuturnamente, realiza rondas, abordagens e operações de acordo com a mancha criminal, visando coibir ações criminosas”. Mesmo com a ação da polícia, os homens do CV seguem na ilha e há temor de que novos confrontos aconteçam.
“Pelo que a gente viu e ouviu sobre essa chegada deles [integrantes do CV] aqui, o medo é que só tenha sido o começo. Já enfrentaram o BDM e trocaram tiros com a polícia. São capazes de tudo e a gente está no meio”, desabafa um morador, que se preocupa com o impacto da organização criminosa na ilha.
Exatamente pelo medo, moradores procurados pela reportagem temem falar sobre o assunto, mas confirmam que há um avanço do CV na ilha. “Começou por Aratuba e Berlinque, mas se espalhou logo e estão tambem agora em Jiribatuba. O clima aqui está tenso, sem saber o que significa essa guerra entre eles e como pode afetar quem mora e não tem nada a ver com isso”, falou um morador, que prefere não se identificar por medo da represálias de criminosos.
Apesar do avanço do grupo, o BDM ainda está em outras partes da Ilha de Itaparica, como Mar Grande. No entanto, os ataques do CV não devem parar. “Está rolando nos grupos mensagens deles [integrantes do CV] que é questão de tempo pegar tudo aqui na ilha e não deixar ninguém do BDM”, relata uma moradora.
Questionado sobre as ações da Secretaria de Segurança Pública (SSP) em relação aos ataques na ilha, o secretário Marcelo Werner disse que vem acompanhando a dinâmica das organizações criminosas no estado. “Com ações de inteligência, planejamento e investimentos, nós temos feito ações pontuais e operações, e [temos] investigações em andamento para que a gente possa desarticular [os grupos].” O secretário pontuou ainda que, este ano, foram apreendidas mais de mil armas e 14 fuzis. Além disso, segundo ele, 18 lideranças de facções foram presas, e quatro laboratórios de drogas, localizados.