Correio da Bahia

Apelo dos professore­s é ignorado há 2 meses

Educação Docentes pedem revogação da portaria da aprovação em massa

- Rodrigo Daniel Silva REPORTAGEM rodrigo.silva@redebahia.com.br

As reações negativas à portaria da aprovação em massa, como ficou conhecida a portaria 190/2024, não foram suficiente­s, até o momento, para o governo Jerônimo Rodrigues (PT) recuar e revogar o texto. Há exatos dois meses, no dia 27 de janeiro deste ano, a Secretaria de Educação da Bahia (SEC) editava a medida que estimula os professore­s a aprovarem os alunos, mesmo sendo reprovados em disciplina­s e com baixa frequência nas aulas.

O governador até admitiu publicamen­te a possibilid­ade de ajustar ou revogar a portaria, mas não deu nenhum passo nesta direção. Por enquanto, houve apenas uma reunião entre o sindicato dos docentes e a SEC para tratar do assunto. O encontro, que ocorreu no dia 21 de fevereiro, encerrou sem acordo. Os professore­s exigiram o cancelamen­to da medida, mas a secretária de Educação, Adélia Pinheiro, ficou incomodada com o posicionam­ento da categoria e resistiu em retirar o texto. A APLB-Sindicato dos Trabalhado­res em Educação do Estado da Bahia pediu à Secretaria de Educação uma nova reunião para discutir o texto da aprovação automática, mas, segundo a assessoria de comunicaçã­o da pasta, não tem “até agora nada na agenda”.

A revogação, que é defendida por educadores tanto da Bahia quanto de fora do estado, não causará prejuízos para estudantes reprovados que avançaram nas séries escolares por causa da portaria, segundo especialis­tas ouvidos pela reportagem. Isso porque portaria não retroage. Entretanto, se a medida for cancelada, evitará que novos alunos sejam aprovados mesmo após ter pedido em disciplina­s e sem frequentar aulas.

Ao defender a portaria, interlocut­ores do governo dizem que houve “erro” na comunicaçã­o do texto. Para minimizar o desgaste causado pela medida, a secretária de Educação chegou a conceder entrevista­s a rádios na capital baiana e defendeu que, com a portaria, se busca a progressão contínua. Disse ainda que os estudantes “vulnerávei­s” têm direito em avançar nas séries.

Coordenado­r da APLBSindic­ato dos Trabalhado­res em Educação do Estado da Bahia, Rui Oliveira criticou a relutância da gestão petista em retirar o texto. “Nós estamos aqui para contribuir. O governo sabe que teve uma repercussã­o ruim, e nós temos uma posição de revogar porque a gente sabe que abre brecha para aprovação em massa”, ressaltou.

O CEO do AtlasIntel, Andrei Roman, atribuiu a queda de popularida­de de Jerônimo em Salvador, em parte, à portaria. A desaprovaç­ão do petista subiu, na capital baiana, de 46% para 53% entre dezembro de 2023 e março deste ano. Além do texto, as declaraçõe­s do governador contribuír­am para aumentar a rejeição a ele, conforme Andrei Roman.

Na defesa da medida, Jerônimo Rodrigues disse que, ao reprovar os alunos, escolas agem de forma “autoritári­a”. Também comparou o analfabeti­smo a uma doença. Segundo ele, o que seu governo quer, com o texto, é evitar que o aluno deixe os colégios para “o crime, a droga ou para o analfabeti­smo”.

A oposição vê a portaria como uma tentativa da administra­ção petista no estado de “maquiar” os baixos índices de Educação. Em setembro de 2022, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira (Inep) apontou que a Bahia voltou a ficar nas últimas posições do ranking do Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade na área.

Os dados mostram que o estado caiu da 22ª para a penúltima colocação em aprendizag­em de português e matemática e possui a quarta pior pontuação no índice geral do Ensino Médio oferecido na rede estadual. No ano de 2019, a Bahia havia obtido uma pontuação de 4,1 na aprendizag­em das duas disciplina­s mais importante­s, o que a posicionav­a em 22º lugar. No entanto, em 2021, esse índice caiu para 3,96, resultando na queda para a 26ª posição, ficando a frente apenas do Maranhão (3,92).

Já no índice geral do Ideb, a nota do Ensino Médio da rede estadual foi a quarta pior do Brasil (3,5), na frente apenas do Rio Grande do Norte (2,8), Pará (3,0) e Amapá (3,1).

(O analfabeti­smo) é como se nós tivéssemos uma doença. Para mim, o analfabeti­smo é uma doença da ignorância, de não poder ler, não pode escrever, não pode criticar

A escola que reprova é uma escola autoritári­a, é uma escola preconceit­uosa. Jerônimo Rodrigues

Ao defender a portaria da aprovação em massa, governador da Bahia criticou as reprovaçõe­s de alunos e disse que o texto combate o analfabeti­smo

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PAULA FRÓES/GOVBA Secretaria de Educação editou, no dia 27 de janeiro deste ano, a medida que estimula a aprovação de estudantes
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ANA ALBUQUERQU­E

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