Correio da Bahia

Família de vítima descreve ‘covardia’

Corredor da Vitória Homem morto após espancamen­to fazia bicos na Barra, tinha filho e passagens por furto; suspeitos estão presos

- Wendel de Novais REPORTAGEM wendel.novais@redebahia.com.br

Três dias após a confusão que causou a morte de Willys Santos da Conceição, 27 anos, no Corredor da Vitória, em Salvador, a família da vítima teve acesso a fotos do corpo para reconhecim­ento na terça-feira (27), no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). Em entrevista ao CORREIO, parentes detalharam que Willys teve o rosto desfigurad­o. O irmão mais velho dele, Florisvald­o Santos Conceição, 29, conta que ficou revoltado com o que viu nas imagens.

“Quando me mostraram a foto do meu irmão no Nina [IML], não foi fácil de ver. Era uma face destruída porque fizeram uma covardia ali. Quatro elementos pegarem um jovem daquele, dar um mata-leão, apagar a vítima, dar cacetada e pedrada, é muita crueldade. Eles, como eram músicos, deveriam dar exemplo e fizeram uma barbaridad­e dessa”, relata.

Quatro suspeitos foram presos por espancar Willys até a morte: Marcelo da Cunha Rodrigues Machado, Sérgio Ricardo Souza Menezes, Lincoln Sena Pinheiro e Laércio Souza dos Santos. Lincoln e Laércio são músicos da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) e tiveram os contratos suspensos pela orquestra após terem prisão preventiva decretada na última segunda-feira (25).

A família de Willys só soube que ele foi a vítima do espancamen­to pela televisão na noite de domingo (24). Florisvald­o conta que as imagens eram tão fortes que chocaram a irmã e a mãe de Willys. “A gente chegou lá e, quando viu, minha irmã quase desmaiava. Tivemos que segurar ela para não cair. Minha mãe não está bem, não está boa para falar, porque, quando a pessoa perde um filho, é muito doloroso”, falou Florisvald­o ontem.

Além de detalhar a forma como o corpo do irmão ficou, ele pediu que os quatro suspeitos paguem pelo crime que teriam cometido. “Tem que pagar pelo crime que eles fizeram. Foi uma covardia, uma crueldade que eles fizeram com meu irmão. Nem com um cachorro pode fazer algo assim. A gente quer Justiça porque eles são assassinos”, completou.

Ao ser questionad­a sobre a versão dada pelos músicos, de que Willys teria tentado assaltá-los, a família não acredita na possibilid­ade. No entanto, confirmara­m que Willys tem passagem na polícia por crimes de furto.

Apesar de informaçõe­s iniciais apontarem que Willys era uma pessoa em situação de rua, a família negou. De acordo com parentes da vítima, além de trabalhar de maneira informal, Willys morava no bairro de Fazenda Coutos e não vivia na rua. Florisvald­o aponta que a família toda está muito abalada pela morte, pelas acusações de uma tentativa de assalto de Willys na confusão e a forma como souberam do crime.

“A família está toda em choque por saber que aconteceu isso com um cara alegre como era meu irmão. Ele não morava na rua como estão dizendo, mas comigo lá em Fazenda Coutos que é perto de onde a nossa mãe mora, em Valéria. Apesar disso, tanto eu como ele ficamos por essa região da Barra porque, sem emprego, vivíamos de trabalho informal, guardando carro ou qualquer outro emprego que pudesse gerar uma renda para nós”, conta Florisvald­o.

Ainda segundo familiares, Willys estava na região da Barra desde a última sexta-feira (22) aproveitan­do com amigos. Não se sabe ao certo o que ele fazia no Corredor da Vitória na madrugada em que foi morto, mas parentes não acreditam no que alegam os quatro acusados presos pela morte dele, que afirmaram em depoimento terem sido vítimas de uma tentativa de assalto por parte de Willys e que apenas teriam agido em legítima defesa para imobilizá-lo até a chegada da polícia (confira mais ao lado).

Irmão mais velho de Willys Santos da Conceição, 27 anos, morto na Vitória

PROJETO AXÉ

Ao descrever o irmão, Florisvald­o destaca um comportame­nto alegre e muito unido aos familiares que tinha como próximos. “A rotina dele era com a família, ele era um cara alegre que sempre estava ali, sempre ajudava também dentro de casa. Em qualquer oportunida­de, trazia dinheiro da rua e dava à minha mãe. Como fizemos parte do Projeto Axé, ele sempre ficava batucando as coisas, dançando e cantando”, descreve ele.

Apesar de ter sido morto na madrugada do último sábado, o corpo de Willys só será liberado nesta quinta-feira (28). Ele será enterrado no Cemitério Municipal de Plataforma, às 10h. Willys deixa um filho de 3 anos, que mora com a ex-companheir­a da vítima, no interior da Bahia.

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MARINA SILVA O irmão mais velho de Willys, Florisvald­o Santos Conceição, disse que a família está muito abalada

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