Correio da Bahia

Famílias estão ilhadas há três dias no bairro do Rio Vermelho

- MAYSA POLCRI

“Sobre o Colégio Estadual José Tourinho Dantas, em São Cristóvão, a Secretaria da Educação do Estado informa que a equipe de engenharia irá vistoriar a unidade escolar atingida pelas fortes chuvas registrada­s na cidade. As aulas seguem suspensas, mas um calendário de reposição deverá ser feito para garantir o cumpriment­o dos 200 dias letivos”, diz a nota.

Um aluno da unidade explicou que primeiro caiu o forro do teto da cantina, na segunda-feira (8); “E agora pela manhã [ontem], quando eu vim, caiu também o teto da parte da frente da escola. Na segunda, falaram que não teria aula a semana toda, e que só semana que vem, provavelme­nte, voltaria a ter”, contou Levi Guimarães, 15.

“Isso já aconteceu várias vezes no Parque [São Cristóvão], todo ano é desse jeito. O telhado do colégio caiu ontem e agora estamos sem aula. A escola está cheia de mofo. Isso é muito ruim para nós que queremos estudar e ficamos sem aula muito tempo por isso”, reclamou outra estudante que preferiu não se identifica­r na reportagem.

PREJUÍZO AOS MORADORES

Quem vive no Parque São Cristóvão contabiliz­a perdas de até R$ 5 mil com os danos causados pela chuva e a inundação do bairro após a abertura das comportas para a vazão da barragem Ipitanga I.

“A geladeira queima, a máquina de lavar para de funcionar, os móveis são estragados pela água, ficando sem condição de utilizar. E o prejuízo pode ficar maior, já que eu estou com o carro na garagem e não tenho como tirar porque a rua está toda alagada. Se continuar subindo [a água], como está desde sábado, a tendência é piorar, porque pode também afetar meu veículo. E todo ano é assim, já passei pelo problema antes”, reclama o morador Fernando da Silva, o motorista por aplicativo ouvido no começo desta reportagem.

Uma outra moradora do Parque São Cristóvão, que prefere não se identifica­r, diz que perdeu o sofá e o rack de casa, totalizand­o um prejuízo de R$ 2 mil. Ela destaca que os prejuízos são recorrente­s. Por isso, junto com familiares, até conseguiu se antecipar à chegada da água em relação a outros eletrodomé­sticos, mas não teve tempo para mover os itens mais pesados para que não fossem molhados.

“Estava com mais uma pessoa em casa e deu para salvar ventilador, cadeira e outros itens que são mais leves, que a gente conseguiu colocar em cima das coisas. Mas não dava para pegar o sofá, por exemplo, que serviu de abrigo para essas coisas e está com o material todo prejudicad­o pela água. O rack, que é baixo e de madeira, está na mesma situação. Juntos, os dois somam R$ 2 mil. Outra vez, perco coisas. Já tive TV perdida há dois anos. É muito difícil ficar perdendo as coisas para a chuva”, lamenta.

O Rio Ipitanga I passa pelo Parque São Cristóvão e por Cassange, desaguando no Rio Joanes, na Região Metropolit­ana de Salvador (RMS).

A barragem Ipitanga I fica em Boca da Mata. A abertura das comportas da barragem, um procedimen­to de segurança para que a estrutura não estoure pela pressão exercida pelo alto volume de água, é apontada pelos moradores como principal causa dos problemas de alagamento no bairro quando a temporada da chuva intensa começa.

Procurada, a Embasa Empresa Baiana de Águas e Saneamento - informou que o problema “reflete principalm­ente o grande volume de chuva que caiu na bacia do rio Ipitanga, manancial que possui moradias ocupando irregularm­ente trechos em suas margens”, diz o texto enviado à redação.

A empresa destacou ainda que a abertura das comportas da barragem Ipitanga I foi iniciada desde a semana passada de forma gradual; além de explicar que ainda não é possível determinar o tempo necessário para que as condições meteorológ­icas permitam o fechamento gradual das comportas da barragem, que seguem abertas para dar vazão ao excesso de água.

Outra vez, perco coisas. Já tive TV perdida há dois anos. É muito difícil ficar perdendo as coisas para a chuva Anônima Moradora do Parque São Cristóvão

A escola está cheia de mofo. Isso é muito ruim para nós que queremos estudar e ficamos sem aula muito tempo por isso Anônima Estudante da Escola Estadual José Augusto Tourinho, situada no Parque São Cristóvão

Há 72 horas, Marilene Carneiro, 58, não coloca os pés fora de casa. Moradora do Rio Vermelho, ela e outras dez famílias estão ilhadas em um beco estreito próximo à Rua do Canal, na avenida Juracy Magalhães Júnior. A chuva dos últimos dias provocou o acúmulo de água barrenta na entrada das casas da Avenida Reis. Um imóvel foi invadido pela enxurrada na madrugada. Quem arrisca ir para a rua, enfrenta o alagamento que ultrapassa o nível dos joelhos.

A preocupaçã­o de Marilene é maior porque o marido, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) há 6 anos, tem dificuldad­es de locomoção. Ela teme que ele precise de atendiment­o médico. E o sofrimento fica maior quando ela se depara com os armários da cozinha cada vez mais vazios. “O alimento está acabando e a gente está sem saber como sair para comprar”, acrescenta.

Segundo os moradores da Av. Reis, a situação piorou depois que um prédio foi demolido no entrocamen­to da R. Potiguares e a Av. Juracy Magalhães Júnior. Os moradores acreditam que a obra da construtor­a Moura Dubeux obstruiu a passagem da água.

Em nota, a construtor­a afirmou que “antes de iniciar obras, seguimos todas as normas que são essenciais para garantir a segurança dos trabalhado­res e do público envolvido, além de minimizar os impactos ambientais, assegurand­o a correta execução das atividades”, diz trecho da nota da empresa.

No final da tarde de ontem, segundo os moradores, a construtor­a enviou uma equipe com retroescav­adeira ao local e pouco depois a água começou a escoar. Por volta das 20h, uma moradora informou que a água havia sido completame­nte escoada.

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FOTOS DE ARISSON MARINHO

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