‘Morte aos brasileiros’; por que os portugueses nos rejeitam?
Xenofobia Brasileiros que atravessam o Atlântico na direção contrária ao do colonizador sofrem com o movimento anti-imigrantes
Cinco minutos de caminhada pelas ruas de Lisboa e é difícil não ouvir a voz de um brasileiro. Difícil também encontrar um que não tenha sofrido ou, ao menos, conheça uma vítima de xenofobia. Os ataques podem ser diretos, com agressões físicas, ou através de frases pixadas em paredes e muros desejando a morte dos imigrantes da antiga colônia. Ou, ainda, velados, com um discurso protecionista contra o uso do português no seu modo falado no Brasil nas escolas e universidades lusitanas.
O movimento anti-imigração ganha força com a extrema-direita e a direita radical e faz estrangeiros temerem pela própria vida. ‘Brasileiros filhos da p***’, ‘Morte aos brasileiros e pretos’ e ‘Brasil é merda’ foram as frases encontradas na parede de um bar em Lisboa pelo baiano Leonardo Almeida, 23, intercambista em Portugal. “Quando eu li, fiquei paralisado, sem reação. Começou a vir ansiedade, um pânico de estar tão perto de pessoas que desejavam a minha morte”.
O bar é bastante frequentado por jovens de países como Angola, Cabo Verde, Brasil e Índia, que estão no top 10 do ranking de nacionalidade dos imigrantes em Portugal. Os quatro países tiveram colonização [Angola, Cabo Verde e Brasil] ou forte presença portuguesa (regiões da Índia) nos tempos coloniais. Seria até esperado o fluxo migratório na direção contrária. Mas a antiga metrópole rejeita seus ‘filhos’.
No próximo dia 22, a chegada dos portugueses ao Brasil completa 524 anos. Hoje, os brasileiros são os estrangeiros em maior número no país europeu. São 204 mil (29.3%) com residência ou visto de longa duração, de acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). O número é o mais elevado desde 2012.
Em novembro do ano passado, a agressão contra uma brasileira na Universidade de Minho viralizou nas redes sociais. Ela levou um soco de um estudante português durante uma discussão sobre um trabalho em grupo. “Ele começou a me xingar. Me deu um soco no lado direito do rosto, ferindo minha boca. Caí no chão, ele me chutou e disse: ‘O que você faz estudando no meu país? Deve pagar a mensalidade com o c*’, como se eu fosse prostituta. E falou para eu voltar para o Brasil”, relatou a vítima, na ocasião.
No mesmo período, outra brasileira foi alvo de xenofobia no aeroporto de Porto após uma confusão com uma mala. “Sua porca. Vai para a sua terra. Sou portuguesa de raça. Você, que é brasileira, vai para a sua terra. Estão invadindo Portugal, essa raça de filha da p***”, diz a portuguesa em um vídeo divulgado na internet.
QUESTÃO RAÇA E GÊNERO
De acordo com o Relatório Sobre a Situação da Igualdade e Não Discriminação Racial e Étnica de 2022, as discriminações em Portugal contra a nacionalidade brasileira somam 34%, enquanto a de estrangeiros e imigrantes em geral é de 4,5%. Para a cientista social e mestre em Ciência Política Camila Tribess, não é possível falar sobre xenofobia sem tratar de raça e gênero.
“Os portugueses não discriminam
economia portuguesa sustentar custos da sua sociedade".
DIVISÕES NA DIREITA
O discurso anti-imigração não segue um único caminho. Algumas organizações mais radicais fazem críticas ao Chega, reclamando da utilização de um discurso e postura mais moderados. David Magalhães explica que há uma diferença entre a direita radical e a extrema direita. “O Chega apresenta algumas pautas contra imigração, mas atua ainda dentro de determinados marcos democráticos e não defende a pauta salazarista, mais próxima ao fascismo”, explica.
“Já as organizações de extrema direita são completamente vinculadas ao salazarismo, considerando que a Revolução dos Cravos representa a destruição da identidade portuguesa”, adiciona.
A Revolução dos Cravos, que aconteceu em 1974, completa 50 anos no próximo dia 25 deste mês e pôs fim à ditadura em Portugal, um dos regimes autoritários mais longos do século XX, em sua grande parte encabeçado pelo ditador António de Oliveira Salazar, de inspiração fascista.
“O Chega entende que o brasileiro partilha de uma mesma ideia de identidade de civilização ocidental judaico-cristã, tendo proximidade cultural e fazendo parte da mesma matriz, colocando o problema na imigração muçulmana”, acrescenta o professor. “Isso porque o partido identifica a grande presença de brasileiros conservadores, bolsonaristas no país que podem ser eleitores úteis”, diz.
A ascensão da direita no país faz parte da chamada quarta onda, iniciada no 11 de setembro de 2001 e fortalecida pela crise econômica de 2008 e pela crise de refugiados de 2014. A onda atingiu primeiro países como Alemanha e França e, agora, chega ‘atrasada’ em Portugal, pela distância geográfica e menor força econômica do país em relação a outros da Europa.
“A direita cresce fortemente após 2008. Em Portugal, existe um delay porque o país é muito dependente da União Europeia e isso fez com que o discurso direitista não tivesse tanto espaço por certo tempo”, destaca David.
“Mas aí você chega ao cansaço da opinião pública com a elite política portuguesa, em decorrência da hegemonia da centro-esquerda no poder, envolvida em escândalos de corrupção. Isso cria sentimento de repulsa contra o sistema, alimentando essa abordagem mais populista”, continua.
O discurso adotado pela direita é o de que os imigrantes ocupam os espaços (tanto moradias quanto vagas de emprego) que deveriam ser dos portugueses por direito. Além disso, acreditam que os estrangeiros chegam para
onde ele possa ser honrado e respeitado como parte essencial da identidade e da cultura tupinambá.
Para o povo tupinambá, o manto é uma prova viva da resistência e poderá ajudar no processo de demarcação do território. A decisão sobre o destino do manto levanta questões sobre o interesse do governo da Bahia em preservar seu patrimônio cultural e em proteger os direitos dos povos originários da região. A Cacique Valdelice, como Cacique Geral e primeira cacique mulher do povo tupinambá e a segunda do Brasil, está tendo seu apelo ignorado pelas autoridades e pelas universidades. Essa situação ressalta a importância de discutir e debater sobre a preservação da cultura indígena e o respeito aos direitos dos povos originários.
JADE LOBO É PESQUISADORA, ATIVISTA E ESCRITORA BAIANA, PERTENCENTE AO POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA. DOUTORANDA EM ANTROPOLOGIA SOCIAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, FOI SCHORLASHIP STUDENT NO AFRO-LATIN AMERICAN RESEARCH INSTITUTE AT HARVARD UNIVERSITY, ADQUIRINDO O CERTIFICADO EM ESTUDOS AFRO-LATINO-AMERICANOS. AUTORA DO LIVRO: "PARA ALÉM DA IMIGRAÇÃO HAITIANA: RACISMO E PATRIARCADO COMO SISTEMA INTERNACIONAL". CRIADORA E EDITORA DA REVISTA ODÙ: CONTRACOLONIALIDADE E ORALITURA.
porém, a história do casal está mais para um ‘implicantes a amantes’.
Sempre que descreve Catarina, Vanessa destaca dois aspectos: a mocinha é alguém que odeia admitir que está errada e que tem aversão a homens com nomes bíblicos. Além disso, a personagem é uma pessoa em cadeira de rodas. Desde o início da publicação independente, Vanessa já recebia mensagens de meninas que diziam ‘ser Catarina’. Percebeu, assim, que era uma carência não só dela, mas de várias pessoas.
"Em uma resenha que li, a pessoa dizia que Interseção faz jus ao meme da gay trambiqueira empinando moto", brinca Vanessa, referindo-se a um famoso meme dos últimos anos. Na postagem viral, o print de um usuário do Facebook dizia que ‘ninguém aguenta mais história de gay sofrendo. Queremos mais gays assim, gays empinando moto, gay dando tiro, etc’. Para Vanessa, isso reforça a necessidade de que as pessoas vejam as personagens com deficiência mas que não as reduzam a isso. "Catarina vem dessa necessidade, mas é uma pessoa como qualquer outra", enfatiza.
SOCIAL
Assistente social e servidora pública, Vanessa trabalha na prefeitura de sua cidade diretamente com os programas de habitação, como o Minha Casa, Minha Vida. Ela costuma dizer que é servidora até 14h. Depois, fica livre para contar histórias e criar universos.
A experiência como funcionária pública foi importante para ambientar a história. Vanessa via muitas comédias românticas gringas em escritório, mas pensava que a realidade brasileira tem muito da vida em repartições públicas.
Assim, decidiu emprestar um pouco de sua realidade a Catarina, que é uma cientista social e trabalha com programas sociais. "Escuto muito que Catarina é a chata que as pessoas amam. Não quero personagens que sejam boazinhas. Amo ouvir que ela é chata, cabeça dura, teimosa. Graças a Deus ela é isso, porque ela é uma pessoa".
O outro lado do casal, o mocinho JPS, é administrador