Estado de Minas (Brazil)

ZEMA E KALIL TROCAM ACUSAÇÕES EM DEBATE

Cara a cara pela primeira vez nesta campanha, candidatos mais bem colocados nas pesquisas travam na TV duelo áspero, marcado por comparação de gestões e momentos de tensão

- BERNARDO ESTILLAC, NATASHA WERNECK E THIAGO BONNA

“O meio ambiente é uma das maiores carências desse governo. Essa valentia toda eu queria que tivesse com minerador, queria que tivesse no cuidado com a Serra do Curral”

■ Alexandre Kalil (PSD), em referência à gestão de Romeu Zema, que acusa de ser dominada por interesses econômicos e empresaria­is “Temos condição (…) com a sensibilid­ade do presidente, que está preocupado com Minas Gerais, de ajudar Minas, retomando o desenvolvi­mento”

■ Carlos Viana (PL), ao afirmar que foi a União que deu respostas a prefeitos que não conseguiam apoio no estado para enfrentar a pandemia

“Nós sofremos muita violência na política, e é muito importante ter mulheres que ocupem esse espaço, para mudar a concepção”

■ Lorene Figueiredo (Psol), ao criticar falas que classifico­u como agressivas de Zema e Bolsonaro e incentivar a eleição de mulheres

“Queria sugerir ao Kalil deixar o telefone do Pimentel para o Zema marcar um debate, porque o Pimentel não está aqui presente”

■ Marcus Pestana (PSDB), sobre a insistênci­a do governador Romeu Zema em citar a administra­ção do petista Fernando Pimentel

“Candidato Kalil, o que o senhor herdou, o senhor acabou com tudo. (…) O senhor não tem nenhuma moral para falar comigo”

■ Romeu Zema (Novo), ao responder crítica do adversário por ter batido na mesa durante uma de suas intervençõ­es

No único debate em que estiveram frente a frente até este ponto da campanha, os candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto para o governo de Minas travaram um duelo político tenso, áspero, com troca de acusações e pontuado por episódios como um tapa na mesa dado pelo governador Romeu Zema (Novo), que concorre a novo mandato, o que gerou reação imediata do principal adversário, o ex-prefeito de BH Alexandre Kalil (PSD). Como pano de fundo do enfrentame­nto, os números da mais recente pesquisa do instituto Ipec, que mostram o candidato do PT ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, ampliando a vantagem em Minas sobre o presidente e postulante à reeleição Jair Bolsonaro (PL), enquanto o aliado petista no estado, Kalil, encurtou a distância para Zema.

O ex-prefeito sugeriu que a presença do governador no debate da TV Globo foi motivada pelos números da sondagem. Zema reagiu procurando vincular o adversário à administra­ção do petista Fernando Pimentel, que o antecedeu e ficou marcada por desgastes. A comparação de gestões foi uma das tônicas do embate, embora o desempenho do candidato do PSD à frente da Prefeitura de BH tenha sido pouco explorado por adversário­s – diferentem­ente do atual governo, criticado por supostamen­te ser controlado pelo empresaria­do. Marcus Pestana (PSDB) exaltou as administra­ções tucanas em Minas e o governo FHC no plano nacional, enquanto Carlos Viana (PL) defendeu o correligio­nário Bolsonaro – por sua vez fortemente atacado por Lorene Figueiredo (Psol), que pregou o voto em Lula.

O debate entre candidatos ao governo de Minas realizado pela Rede Globo, que começou às 22h30 e terminou no início da madrugada de hoje, foi o único a reunir os cinco principais nomes na disputa eleitoral. O governador Romeu Zema (Novo) esteve presente, após duas ausências em confrontos anteriores, e teve sua administra­ção como alvo dos demais postulante­s ao Executivo estadual, em especial do exprefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), seu principal adversário. Os dois candidatos trocaram acusações em tom áspero. Ao longo de quatro blocos de perguntas diretas entre os participan­tes, os embates foram marcados também por um confronto entre gestões. Zema citou, repetidas vezes, a gestão “PT-Pimentel” do seu antecessor. Marcus Pestana (PSDB) defendeu as administra­ções do seu partido em Minas, enquanto Kalil e Carlos Viana (PL) ressaltara­m ações dos apoiadores que disputam o Paláco do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), respectiva­mente.

Frente a frente pela primeira vez, Zema e Kalil partiram para o ataque. Sob críticas dos adversário­s à sua gestão, logo no início do debate, Zema se irritou e deu um tapa no púlpito. Em seguida, Kalil criticou a postura do adversário e direcionou uma das declaraçõe­s mais ríspidas ao governador, se referindo a ele como subservien­te ao setor industrial do estado. “Primeiro, quero dizer que pedi o direito de resposta [que foi negado, mas o ex-prefeito falou em outro momento] porque eu fui citado e acrescenta­r que tapa na mesa aqui, não, não é a Fiemg [Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais]. Ele não está rodeado nem de puxa saco nem de bilionário. São quatro candidatos que merecem respeito. Aqui não tem lugar para tapa na mesa”, disse o ex-prefeito de BH. O candidato do PSD disse também: “Tapa na mesa aqui, não. Queria que [Zema] tivesse essa valentia com minerador”.

O confronto seguiu ao longo do debate. Zema citou um site intitulado “Mentiras do Kalil” e disse que o ex-prefeito “não tem moral” para falar com ele por ser um “mentiroso profission­al”. O governador também questionou a formação do rival como engenheiro. Em um terceiro momento, o governador mencionou “dívida” de Kalil de IPTU, fato negado pelo candidato do PSD posteriorm­ente.

Para se defender dos ataques, Kalil disse que não teria coragem de mencionar uma denúncia sobre o governador. “A acusação que pesa em um processo contra o senhor, eu teria que dizer às 3h da manhã, porque não pode ter criança na sala [...] Eu não vou entrar na acusação que tem contra o senhor na Polícia Civil que o senhor como governador arquivou”, disse sem entrar em detalhes. Zema também pediu direito de resposta, mas não foi atendido pela TV Globo.

Kalil também ironizou a ausência de Zema nos dois debates desta campanha organizado­s pela Rede Bandeirant­es e pela TV Alterosa. Segundo o candidato do PSD, o governador só foi à Globo ontem após a divulgação do resultado da pesquisa Ipec horas antes do evento. “Ele está vendo a onda vir e a pesquisa está avisando para ele que o negócio ficou feio. Ele está aqui hoje por causa da pesquisa”. O levantamen­to mostra que a distância entre o candidato à reeleição e o ex-prefeito da capital caiu para 11 pontos percentuai­s após Kalil subir cinco pontos no páreo.

Em outro momento do debate, Zema errou o nome da candidata do Psol, chamando-a de Edilene e se referindo ao partido dela como “social”. Depois, ela respondeu com ironia: “Romeu da Zema, meu nome é Lorene. Grava esse nome. E não sou do social, sou socialista, eu sou feminista e sou antifascis­ta. Luto pelo direito de todas as minorias políticas”.

CRÍTICAS

SOBRE GESTÕES

Zema foi criticado por todos os quatro adversário­s, que questionar­am pontos específico­s da sua gestão. O governador chegou a reclamar: “Esse pessoal está bom de discurso. E só acusando o meu governo. Parece que está tendo muito direcionam­ento ao meu governo”, logo antes de voltar a criticar a administra­ção de Pimentel no estado. Repetidas vezes, o governador citou a gestão “PT-Pimentel”, associando o partido e o antecessor a Kalil, que tem sua candidatur­a apoiada por Lula. As menções reiteradas ao ex-governador petista viraram munição para críticas.

Marcus Pestana fez sua primeira participaç­ão dizendo a Zema: “Esqueça Pimentel e comece a governar”. Em outra oportunida­de, com tom irônico, o tucano ofereceu passar o número do celular do petista ao candidato do Novo. Já no fim do debate, Zema justificou a insistênci­a em citar o petista: “E muito difícil esquecer o Pimentel” e emendou citando dívidas que teriam sido deixadas pelo antecessor.

O Regime de Recuperaçã­o Fiscal, alternativ­a proposta por Zema para o pagamento da dívida do estado com a União, também foi citado. Kalil trouxe o tema à tona em fala sobre propostas para a saúde, alegando que a medida impede a contrataçã­o de novos funcionári­os para os hospitais. Carlos Viana também criticou a proposta e disse que o atual governo “só conseguiu algum avanço porque não pagou a dívida”. Viana também criticou a gestão de Zema na segurança pública, afirmando que as polícias do estado estão sucateadas e dizendo que o governo ‘terceirizo­u’ o policiamen­to para as prefeitura­s.

Os governos de Aécio Neves e Antônio Anastasia em Minas foram diversas vezes citados por Pestana, que integrou as gestões. Ele falou sobre índices de educação, sobre negociaçõe­s para ampliação do metrô de Belo Horizonte e construção de hospitais como trunfos dos governos do PSDB, pouco relembrado­s por outros candidatos durante o debate.

PRESIDENCI­ÁVEIS Durante o debate, Lorene Figueiredo pediu votos para Lula e também falou do ambiente de violência na campanha. Carlos Viana defendeu Bolsonaro em diversas oportunida­des, inclusive criticando Zema. “Muitos prefeitos iam no meu gabinete em Brasília porque a Secretaria de Saúde não dava respostas. Iam lá pedir socorro porque faltava remédio, faltava leito de UTI e o governo federal foi quem deu respostas”, afirmou Viana, que disse que o presidente tem sensibilid­ade e "está preocupado com Minas Gerais". Kalil fez críticas ao presidente, dizendo que “tudo que Bolsonaro fez para Minas Gerais, foi nada”. Ele também se disse orgulhoso por estar ao lado do petista nas eleições.

 ?? FERNANDO RABELO/GLOBO ??
FERNANDO RABELO/GLOBO
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil