Moraes: ‘É uma sala aberta, nem secreta nem escura’
Presidente do TSE apresenta local de totalização de votos a dirigentes partidários. Líder do PL diz que não há ambiente secreto, mas partido divulga questionamentos
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, apresentou ontem a representantes das entidades fiscalizadoras das eleições a chamada sala de totalização, em que servidores da Justiça Federal farão o monitoramento da soma dos votos nas eleições 2022. O local, formado por divisórias de vidro, montadas dentro do Centro de Divulgação das Eleições (CDE), no terceiro andar do TSE, estará aberto, a partir das 16h30 de domingo, para que as entidades fiscalizadoras das eleições possam acompanhar o andamento da totalização de votos. “É uma sala aberta, uma sala clara, não é nem uma sala secreta, nem uma sala escura”, afirmou Moraes, referindo-se a boato de que haveria contagem de votos em uma sala secreta no TSE.
Após a visita, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que o setor de totalização de votos do TSE não é uma sala secreta, ao contrário do que afirmou diversas vezes o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). “Não tem mais (sala secreta).
Agora é aberta”, disse Valdemar ao visitar o setor. O espaço, porém, já era aberto aos partidos e fiscais das eleições em pleitos anteriores.
Além do presidente do PL, acompanharam a visita representantes do PT, PDT, PTB, e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Também estiveram no espaço membros de entidades de observação das eleições. Após a visita, Alexandre de Moraes, disse que a sala não é “secreta” nem “escura”, repetindo termos usados por Bolsonaro. O setor de totalização é um dos alvos de teorias da conspiração de Bolsonaro.
No espaço trabalham 20 funcionários do tribunal que desenvolvem e monitoram os sistemas que recebem os dados de boletins de urna para a totalização dos votos. Ao contrário do que também afirma Bolsonaro, esses servidores não interferem no resultado do pleito. Na quinta-feira passada, o presidente disse que as Forças Armadas pretendem “colocar técnicos” dentro da “sala-cofre” do TSE. “Uma sala que ninguém sabe o que acontece lá dentro”, declarou o presidente. Para reagir às falas do chefe do Executivo, Moraes convidou no sábado passado candidatos a presidente para visitarem o local.
A totalização é feita sem a interferência dos funcionários, por um computador que fica em outro local, no centro de processamento de dados da corte. Essa sala fica restrita a poucos servidores que fazem a manutenção do equipamento. Terminada a votação, são gerados boletins de urna com os resultados de cada seção eleitoral. Cópias desses documentos são coladas nas portas dos locais de votação e entregues para fiscais de partidos e à Justiça Eleitoral. Os dados digitais com os resultados das urnas, retirados de uma espécie de pen drive que fica no equipamento, são enviados ao TSE para a totalização por meio de uma rede privada e criptografada.
É comum que partidos façam uma checagem paralela dos resultados dos boletins de urna que são colados nas portas das seções eleitorais com os dados que chegam ao TSE. Neste ano, o tribunal vai divulgar os boletins em tempo real, após o fim da votação.
POLÊMICA Apesar da afirmação do presidente do PL, quatro dias antes das eleições, relatório apresentado pelo partido de Bolsonaro (PL) questionando a segurança das urnas eletrônicas fez o TSE elevar o tom, chamar o documento de fraudulento, abrir investigação e citar que parlamentares já foram cassados por divulgar informações falsas sobre o pleito. O TSE afirmou que as conclusões do partido são falsas, mentirosas, fraudulentas e visam tumultuar as eleições. “Sem nenhum amparo na realidade, reunindo informações fraudulentas e atentatórias ao Estado democrático de direito e ao Poder Judiciário, em especial à Justiça Eleitoral, em clara tentativa de embaraçar e tumultuar o curso natural do processo eleitoral”, disse o tribunal, presidido por Alexandre de Moraes.
O relatório foi divulgado no momento em que Bolsonaro repete insinuações golpistas e aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto a presidente, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Chamado de “resultado da auditoria de conformidade do PL no TSE”, o documento apresentado pelo PL ontem tem duas páginas e afirma que “o quadro de atraso encontrado no TSE” gera “vulnerabilidades relevantes” e pode resultar em invasão interna ou externa nos sistemas eleitorais. “Com grave impacto nos resultados das eleições”, diz ainda o partido.
Em nota, o tribunal afirma que “diversos dos elementos fraudulentos” citados no documento do partido de Bolsonaro são objetos de investigações no Inquérito das Fake News, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria de Moraes. O tribunal ainda cita que já cassou parlamentares que divulgaram informações falsas sobre o pleito, e anunciou que enviou o documento do PL ao inquérito do Supremo e para o corregedorgeral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves. “Para instauração de procedimento administrativo e apuração de responsabilidade do Partido Liberal e seus dirigentes, em eventual desvio de finalidade na utilização de recursos do fundo partidário”, afirmou o TSE.