Estado de Minas (Brazil)

INDECISÃO PERSISTE ÀS VÉSPERAS DA ELEIÇÃO

Percentual de pessoas em dúvida sobre candidato a governador é maior do que para presidente. Já a indefiniçã­o para o Senado chega a superar um terço do total do eleitorado

- MARIANA COSTA

O primeiro turno das eleições deste ano se aproxima e muitos eleitores ainda estão indecisos na escolha dos candidatos. Desinteres­se pela política, polarizaçã­o, falta de tempo e de identifica­ção com as propostas dos candidatos são os motivos mais citados para a indefiniçã­o. As pesquisas de intenção de votos mostram um percentual maior de indecisos na disputa para o governo de Minas Gerais quando comparado com a eleição presidenci­al. A última pesquisa Ipec para Presidênci­a da República, divulgada em 26 de setembro, mostra que os indecisos são 4% do total de entrevista­dos. Já no levantamen­to do Datafolha, de 22 de setembro, os eleitores que não sabem em quem votar somam 2%.

Na disputa pelo Executivo estadual, os números de indecisos são os seguintes: na pesquisa Ipec, 8%, e no Datafolha, 9%. Além delas, pesquisa feita pelo Instituto F5 Atualiza Dados e divulgada com exclusivid­ade pelo Estado de Minas em 23 de setembro aponta que 6,2% ainda não definiram o voto para governador. Mas o percentual de indecisos é ainda maior na escolha do candidato ao Senado. Segundo o F5, 34,9% dos eleitores ainda não definiram o voto. Alexandre Silveira (PSD) tem 19,5% das intenções de voto, e o deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), 17,8%. Os dois candidatos estão tecnicamen­te empatados, por causa da margem de erro de 2,5 pontos percentuai­s para mais ou para menos.

O gerente de loja Henrique Silva, de 34 anos, decidiu apenas o voto para presidente até agora. Ele afirma que a polarizaçã­o deixa a escolha mais difícil. “O governador, por exemplo, não sei para que lado ele se posiciona nessa briga e acaba deixando a gente na dúvida também. Se Lula ganhar, será que vai ser bom para BH? E se for o Bolsonaro?”, questiona. Sobre o Senado, Silva diz nem saber quais são os candidatos. E destaca ainda a falta de motivação para acompanhar a campanha eleitoral, por causa da polarizaçã­o entre bolsonaris­tas e petistas.

“Hoje em dia, se criou uma rivalidade que a gente fica até com medo.” O gerente se declara eleitor de Bolsonaro, mas afirma ter receio de usar roupas e adereços com o nome ou o rosto do candidato à reeleição. “O clima está muito pesado, virou uma guerra, não é mais política. Tenho medo de falar que sou bolsonaris­ta e ser agredido. Tenho amigos petistas que também estão na mesma situação. Eu gostava [de acompanhar a política], mas acabei me afastando.” A decisão ficará para a última hora. “Se aparecer algum candidato na frente, eu vou votar, sem pesquisar muito. Nunca fui de anular ou votar em branco, sempre gosto de votar em alguém”, diz.

A estudante Luiza Gonçalves, de 18, vai votar pela primeira vez este ano e está indecisa na escolha do senador e do deputado estadual. “Ainda não achei alguém com quem me identifico com as propostas.” Ela conta que assiste à propaganda política na TV, já pesquisou candidatos para os outros cargos e pretende definir os votos restantes até domingo. O critério usado, segundo ela, será qual candidato a presidente o futuro senador ou deputado apoia. “A ideologia dos candidatos influencia demais, além do presidente que ele está apoiando.”

Luiz acredita que muitas pessoas vão anular o voto para não ter que escolher entre os dois lados da polarizaçã­o na eleição presidenci­al. “Vejo pelo que acontece na minha casa, muita gente vai anular porque não gosta de nenhum dos dois [Lula e Bolsonaro].” Luiza mora com a avó e muitos parentes na mesma casa.

A cabeleirei­ra Cátia Costa, de 40, está entre os poucos eleitores que ainda não sabem em quem votar para presidente da República. “É o que mais tenho dúvidas por causa das promessas que eles fazem.” Ela diz que pela disputa ser entre um candidato que tenta a reeleição e outro que já ocupou a Presidênci­a, já conhece o perfil dos dois, mas ainda não conseguiu decidir. “Por isso que eu estou pensando muito. Vou deixar para decidir no domingo mesmo e pensar até a última hora para não fazer besteira”, afirma.

Já o supervisor de merchandis­ing, Jeferson Lopes, de 42, está indeciso para os

Se aparecer algum candidato na frente, eu vou votar, sem pesquisar muito”

■ Henrique Silva, gerente de loja, que definiu até agora apenas o voto para presidente

cargos de deputados estadual e federal. “Não estou conseguind­o acompanhar a mídia. Quando tenho tempo vejo mais a internet e ainda não achei candidatos com propostas para a região onde moro, principalm­ente deputado estadual.” Lopes vive em Sabará, na Grande BH, e reclama da falta de candidatos para esses cargos que sejam da região. “Não vou votar em deputado estadual de outra área, porque ele não vai olhar os problemas do lugar onde eu moro”, explica.

Já para deputado federal, a reclamação é pelo perfil dos candidatos. “Vou ser bem sincero, está desanimand­o votar. Você vota em determinad­os candidatos e depois vê que eles não fazem nada do que prometem. Está difícil escolher”, desabafa. Mesmo com essas dificuldad­es, o supervisor diz que no sábado pretende fazer pesquisa na internet para definir os nomes, levando em consideraç­ão a região em que mora.

Laura Lopes, de 23, está desemprega­da e ainda não escolheu candidatos para nenhum dos cinco cargos. A jovem se diz desiludida com a política, está pensando no que fazer até domingo e cogita a possibilid­ade de votar em branco para todos os cargos.

“Acho que não vale a pena votar em nenhum.” Perguntada se as eleições não são oportunida­de para mudar a situação em que ela se encontra – sem emprego e sem perspectiv­as de conseguir um novo trabalho –, a jovem é categórica: “Acho que não”.

ANTERIORES As pesquisas em 2018 mostravam cenário diferente do atual para a Presidênci­a, com índice maior de eleitores indecisos. O levantamen­to do Ibope (atual Ipec) e do Datafolha contabiliz­avam 5% de pessoas que ainda não tinham definido o voto. Lembrando que os candidatos mais bem colocados eram Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Em Minas, a disputa pelo governo era liderada por Antônio Anastasia (PSDB) e Fernando Pimentel (PT). Além disso, as pesquisas mostravam percentual de indecisos semelhante às eleições deste ano.

Segundo o Ibope e o Datafolha, 10% dos entrevista­dos não sabiam em quem votar. Nas eleições de 2014, 7% dos entrevista­dos ainda não haviam definido o voto para a Presidênci­a, enquanto o Datafolha apontava 6% de eleitores indecisos. Na época, a disputa pelo Planalto tinha Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) liderando as intenções de votos. Já em Minas, o percentual de indecisos era bem maior para a escolha ao governo estadual. O Ibope mostrava que 14% não sabiam em quem votar. Já o Datafolha apontava 21%. A disputa pelo Palácio Tiradentes envolvia Fernando Pimentel (PT) e Pimenta da Veiga (PSDB) nas primeiras colocações das intenções de votos.

Vou deixar para decidir no domingo e pensar até a última hora para não fazer besteira”

■ Cátia Costa, cabeleirei­ra, que falta definir o voto para presidente

Ainda não achei alguém com quem me identifico com as propostas” ■ Luiza Gonçalves, estudante, que ainda não escolheu senador e deputado estadual

Não achei candidatos com propostas para a região onde moro, principalm­ente deputado estadual’’ ■ Jeferson Lopes, supervisor de merchandis­ing, ainda indeciso sobre deputados estadual e federal

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FOTOS: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
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