Das telas para o afeto, sejamos facilitadores do aprendizado
O desenvolvimento infantil é apoiado por muitas habilidades sociais, cognitivas e emocionais que permitem às crianças avançarem em suas conquistas diárias. Atualmente, percebemos dificuldades nesses avanços a ponto dos pequenos desenvolverem distúrbios emocionais e psicológicos significativos. Transtornos de ansiedade, de humor e relacionados ao estresse são cada vez mais comuns nos consultórios e na vivência escolar, principalmente nas últimas décadas com o aparecimento da geração Z, nascidos entre o fim da década de 90 até 2010, ou da geração Alpha, nascidos após 2010. São gerações totalmente conectadas às telas, que têm o referencial de espera e resolução de problemas vindos de aparelhos que podem ser ligados apertando apenas um botão, sendo, portanto, bastante imediatistas e tendo poucas habilidades para lidar com as frustrações. São gerações que têm maior acesso às informações e permanecem muito mais tempo em seus celulares e tablets, gerando maior distanciamento dos relacionamentos interpessoais e vivências reais com os pares.
Segundo dados do Unicef, mais de um em cada sete meninos e meninas, com idades entre 10 e 19 anos, vivem com algum transtorno mental diagnosticado. A pesquisa demonstra também que uma mistura de experiências, fatores genéticos e ambientais, desde os primeiros dias de vida, incluindo parentalidade, escolaridade, relacionamentos, exposição à violência, discriminação, pobreza e emergências de saúde, molda e afeta a saúde mental das crianças ao longo da vida.
Um estudo de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que crianças de até 4 anos devem passar, no máximo, uma hora em frente a telas de forma sedentária, como assistir à TV ou jogar no computador, e que, se possível, esse tempo deve ser reduzido. Atualmente, observamos que as crianças demonstram muitas dificuldades e lacunas nos processos de desenvolvimento e podemos afirmar uma forte relação com o uso exagerado de telas mesmo nas pequenas idades. Tal modificação no processo de desenvolvimento experienciado pelas crianças de hoje, mais conectado e rápido, pode trazer melhoras na curiosidade e visão de mundo, com maior acesso a informações e conectividade com pessoas de diferentes lugares. Porém, dependendo do tempo expostas às telas, ficam mais impacientes e têm pouca vivência do mundo natural, tão importante para a construção de habilidades sociais e experiências sensoriais.
Esse pode ser um dos motivos de termos a cada dia mais crianças com diagnósticos de atrasos de desenvolvimento e dificuldades sensoriais e emocionais. Observamos, na prática clínica, crianças com crises de ansiedade e irritabilidade por serem contrariadas e pais com medo de impor limites e regras por terem que enfrentar tais comportamentos. Assim como os adultos, as crianças também têm temperamento variável, porém necessitam aprender a identificar o que estão sentindo. Tal processo é denominado atualmente de alfabetização emocional, e propõe que a criança tenha acesso às emoções, saiba reconhecer e identificar cada uma delas, assim como lidar com as resoluções de conflitos e anseios frente às situações. Nós, como pais e profissionais, devemos estar atentos e ser facilitadores desse aprendizado, questionando nossa rotina e conduta e, sempre que necessário, encaminhando a profissionais especialistas para que o desenvolvimento da infância possa ser conduzido da melhor maneira possível.
Dependendo do tempo expostas às telas, ficam mais impacientes e têm pouca vivência do mundo natural