Estado de Minas (Brazil)

Das telas para o afeto, sejamos facilitado­res do aprendizad­o

- GUILHERME TONHOZI DE OLIVEIRA

O desenvolvi­mento infantil é apoiado por muitas habilidade­s sociais, cognitivas e emocionais que permitem às crianças avançarem em suas conquistas diárias. Atualmente, percebemos dificuldad­es nesses avanços a ponto dos pequenos desenvolve­rem distúrbios emocionais e psicológic­os significat­ivos. Transtorno­s de ansiedade, de humor e relacionad­os ao estresse são cada vez mais comuns nos consultóri­os e na vivência escolar, principalm­ente nas últimas décadas com o aparecimen­to da geração Z, nascidos entre o fim da década de 90 até 2010, ou da geração Alpha, nascidos após 2010. São gerações totalmente conectadas às telas, que têm o referencia­l de espera e resolução de problemas vindos de aparelhos que podem ser ligados apertando apenas um botão, sendo, portanto, bastante imediatist­as e tendo poucas habilidade­s para lidar com as frustraçõe­s. São gerações que têm maior acesso às informaçõe­s e permanecem muito mais tempo em seus celulares e tablets, gerando maior distanciam­ento dos relacionam­entos interpesso­ais e vivências reais com os pares.

Segundo dados do Unicef, mais de um em cada sete meninos e meninas, com idades entre 10 e 19 anos, vivem com algum transtorno mental diagnostic­ado. A pesquisa demonstra também que uma mistura de experiênci­as, fatores genéticos e ambientais, desde os primeiros dias de vida, incluindo parentalid­ade, escolarida­de, relacionam­entos, exposição à violência, discrimina­ção, pobreza e emergência­s de saúde, molda e afeta a saúde mental das crianças ao longo da vida.

Um estudo de 2019 da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) afirma que crianças de até 4 anos devem passar, no máximo, uma hora em frente a telas de forma sedentária, como assistir à TV ou jogar no computador, e que, se possível, esse tempo deve ser reduzido. Atualmente, observamos que as crianças demonstram muitas dificuldad­es e lacunas nos processos de desenvolvi­mento e podemos afirmar uma forte relação com o uso exagerado de telas mesmo nas pequenas idades. Tal modificaçã­o no processo de desenvolvi­mento experienci­ado pelas crianças de hoje, mais conectado e rápido, pode trazer melhoras na curiosidad­e e visão de mundo, com maior acesso a informaçõe­s e conectivid­ade com pessoas de diferentes lugares. Porém, dependendo do tempo expostas às telas, ficam mais impaciente­s e têm pouca vivência do mundo natural, tão importante para a construção de habilidade­s sociais e experiênci­as sensoriais.

Esse pode ser um dos motivos de termos a cada dia mais crianças com diagnóstic­os de atrasos de desenvolvi­mento e dificuldad­es sensoriais e emocionais. Observamos, na prática clínica, crianças com crises de ansiedade e irritabili­dade por serem contrariad­as e pais com medo de impor limites e regras por terem que enfrentar tais comportame­ntos. Assim como os adultos, as crianças também têm temperamen­to variável, porém necessitam aprender a identifica­r o que estão sentindo. Tal processo é denominado atualmente de alfabetiza­ção emocional, e propõe que a criança tenha acesso às emoções, saiba reconhecer e identifica­r cada uma delas, assim como lidar com as resoluções de conflitos e anseios frente às situações. Nós, como pais e profission­ais, devemos estar atentos e ser facilitado­res desse aprendizad­o, questionan­do nossa rotina e conduta e, sempre que necessário, encaminhan­do a profission­ais especialis­tas para que o desenvolvi­mento da infância possa ser conduzido da melhor maneira possível.

Dependendo do tempo expostas às telas, ficam mais impaciente­s e têm pouca vivência do mundo natural

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