Estado de Minas (Brazil)

Mulher ataca homem e acusa abuso em ônibus

Faixa preta de jiu-jítsu e lutadora de boxe para defesa pessoal denuncia passageiro por importunaç­ão sexual e acaba detida com suspeito, após reagir esmurrando-o no rosto

- MAICON COSTA, SÍLVIA PIRES E CLARA MARIZ

“A minha vontade é quebrar a cara dele de verdade.” Essa foi uma das reações da cobradora de ônibus de viagens Euzébia Lopes, de 49 anos, que afirma ter reagido a um caso de importunaç­ão sexual dentro de um coletivo da linha 83D, por volta das 5h32 de ontem, na Rua Curitiba com a Avenida Oiapoque, na Região Central de Belo Horizonte. Segundo a mulher, que é faixa preta de jiu-jítsu e luta boxe para defesa pessoal, o homem, de 46, sentou-se ao seu lado no ônibus e começou passar a mão no seu corpo, enquanto fingia que dormia.

“Um homem moreno, desconheci­do, sentou-se ao meu lado e começou a abusar de mim, passando a mão em mim. Pedi a ele umas duas vezes para eu sair de perto, porque eu estava do lado da janela, mas ele não arredava de jeito nenhum. Fingia que estava dormindo e ficava caindo em cima de mim, colocando a mão em mim”, relatou. O suspeito nega a versão, afirmando que estava dormindo e que foi acordado com agressões. Ele sofreu um pequeno corte no lábio e recusou atendiment­o médico.

O motorista do ônibus afirmou que, com o tumulto, estacionou o veículo ao lado da 6ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar para atendiment­o policial. Ele disse ainda que não percebeu a importunaç­ão sexual, tendo visto somente as agressões partindo da mulher.

Os dois receberam voz de prisão da Polícia Militar, pela denúncia de importunaç­ão sexual e pelo caso de lesão corporal. Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que ratificou o flagrante do suspeito por importunaç­ão sexual e que o homem foi encaminhad­o ao sistema prisional. Segundo a corporação, a mulher foi ouvida e liberada após assinar um Termo Circunstan­ciado de Ocorrência que será encaminhad­o ao Juizado Especial, por ter agredido o acusado.

Euzébia afirmou que, após perceber que o homem insistiria no abuso, decidiu reagir. “Depois que eu vi que ele estava insistindo, eu resolvi tomar as minhas providênci­as, já que eu não estava podendo descer, porque ele me cercou, eu levantei e comecei a dar golpes na cara dele.”

Ela disse que as pessoas se assustaram ao ver uma mulher reagindo a um assédio. “Acho que nunca viram uma mulher batendo da forma que eu bati na cara de uma pessoa, chegando a escorrer sangue. Os dentes dele quase ficaram presos na minha mão”, afirmou.

“A reação dele foi me ameaçar, dizendo que eu estava batendo nele, que eu o machuquei, e que se ele estivesse com a arma dele, podia me matar. Na hora que ele falou isso, aí eu fui para cima dele de verdade, para ver qual seria sua reação”, contou, aconselhan­do que mulheres não se calem nesse tipo de situação e busquem aprender a se defender.

Simara Coelho, que estava no ônibus e acompanhou Euzébia como testemunha, contou sua versão da história e afirmou ter ouvido as ameaças. “Eu estava no ônibus. O moço fingia estar sonolento, e a toda hora esbarrava nela. Ela pedia para ele se consertar, dizia: ‘Moço, você está caindo em cima de mim’. Então, observei que ele levou a mão nas partes íntimas dela. Foi muito humilhante, ninguém faz nada, ninguém ajuda. Eu desci, anotei meu número de telefone, entreguei para ela, caso ela precisasse de alguma coisa, porque nós mulheres temos que ser unidas. E ela lutou, arrancou sangue nele”, relatou. Simara ainda fez um apelo, dizendo que as mulheres precisam se defender e criticou a impunidade nos casos de violência contra a mulher.

Euzébia demonstrou indignação com o fato de ter recebido voz de prisão, assim como o suspeito de importunaç­ão. “Enxergo isso como uma falha na polícia. No estado em que eu cheguei com o agressor, ele com a boca machucada, e eu alegando que passei por tudo isso, que tinha testemunha... A polícia alegar, porque não falaram isso para mim antes, o que alegaram no boletim de ocorrência... Mas meu advogado já está tomando providênci­as sobre o caso. Eu não sabia que tinha polícia só enfeitando as ruas. Com certeza, se acontecer isso com a família deles, eles vão passar a enxergar”, comentou.

VERSÕES De acordo com Isabella Pedersolli, advogada e presidente da Comissão de Enfrentame­nto à Violência Contra a Mulher da OAB-MG, o registro do boletim de ocorrência contando a versão do homem faz parte do trabalho da polícia, que recebeu uma denúncia. Agora, caberá à Justiça e ao Ministério Público de Minas a definição sobre se o caso foi uma violência de fundo sexual ou legítima defesa.

“As vítimas de importunaç­ão sexual que reagirem à ação de seus agressores, como é o caso dessa senhora, estão resguardad­as pela legítima defesa. Mas o suspeito afirmou que não cometeu o crime e que foi agredido por ela. Naturalmen­te, os policiais precisavam fazer o registro da ocorrência dos dois lados”, explicou a especialis­ta.

 ?? FOTOS: MAICON COSTA/EM/D.A PRESS ?? Euzébia Lopes, de 49 anos, mostra as mãos machucadas após ataque ao homem que acusou de passar as mãos no corpo dela em coletivo: “Minha vontade é quebrar a cara dele de verdade”
FOTOS: MAICON COSTA/EM/D.A PRESS Euzébia Lopes, de 49 anos, mostra as mãos machucadas após ataque ao homem que acusou de passar as mãos no corpo dela em coletivo: “Minha vontade é quebrar a cara dele de verdade”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil