LULA E BOLSONARO TERÃO DISPUTA ACIRRADA
Com diferença de cinco pontos percentuais nas urnas no primeiro turno, o petista e o atual presidente anunciam que começarão de imediato a busca de novas alianças
Aescolha do presidente da República terá o segundo turno. A apuração das eleições de ontem indicou que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) irão às urnas novamente em 30 de outubro. O resultado segue a tendência dos pleitos estaduais, que tiveram candidatos apoiados pelo chefe do Executivo com números mais expressivos do que o sugerido nas pesquisas. Lula teve 48,42 % dos votos válidos e foi o mais votado no primeiro turno. Bolsonaro ficou na segunda colocação, com 43,21%, com 99,95% dos votos apurados. Menos de dois pontos separaram o petista da vitória já ontem, chance apontada nas pesquisas. Simone Tebet (MDB) terminou em terceiro, com 4,16% dos votos, seguida por Ciro Gomes (PDT), com 3,05% dos eleitores. Soraya Thronicke (União Brasil) e Luiz Felipe d’Avila tiveram 0,51% e 0,47% dos votos, respectivamente. Uma das principais conclusões do primeiro turno foi a vitória dos candidatos bolsonaristas nos governos estaduais e para o Senado.
Antes de 100% da apuração do Tribunal Superior Eleitoral, todos se pronunciaram. Lula comemorou a vitória parcial e disse que o segundo turno será uma “prorrogação”. O petista citou seu retorno às eleições após ter sido preso e ficado de fora da disputa em 2018. “Nós vamos ganhar essas eleições. Isso [segundo turno] é apenas uma prorrogação. A gente tem que lembrar o que estava acontecendo há quatro anos. Eu era tido como um ser humano fora da política. Eu disse que a gente retornaria, com mais força e mais vontade. E nosso país tá pior, a economia tá pior, a qualidade de vida tá pior, a saúde tá pior… Então, para mim, nós precisamos recuperar esse país”, seguiu.
Lula antecipou o novo embate com Bolsonaro e criticou o atual presidente: “Vai ser importante. Vai ser a chance de debater com o presidente da República. Vamos ver se ele segue contando mentiras ou vai resolver falar verdades. Para a desgraça de alguns, eu tenho mais 30 dias para fazer campanha. Eu quero dizer pra vocês que começo amanhã a fazer campanha. Agora é fazer campanha. Eu adoro ir para a rua”.
Lula recordou suas participações em eleições presidenciais anteriores e declarou ter esperanças em uma terceira vitória no segundo turno. "Eu nunca ganhei uma eleição no primeiro turno. Toda eleição que eu disputei foi no segundo turno, todas. O que é importante é que o segundo turé a chance de você amadurecer as tuas propostas e a tua conversa com a sociedade. É de você construir um leque de alianças, um leque de apoio antes de você ganhar para você mostrar pro povo o que vai acontecer, o que vai governar este país”, disse.
“Vamos ter que convencer a sociedade brasileira daquilo que estamos propondo. A luta continua até a vitória final. Nós esperamos contar com o apoio e a solidariedade de cada um de vocês para mapear as regiões e ver quais regiões em que precisamos andar”, disse também o petista. Por fim, Lula afirmou: “São Paulo será o grande palco de um confronto nacional e estadual. Um confronto de ideias, de propostas para a sociedade. Estou disposto a fazer tudo o que for possível. Eu e Haddad vamos ganhar São Paulo e vamos ganhar o Brasil”.
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Em entrevista à imprensa, Jair Bolsonaro analisou a votação e disse ter ficado atrás de Lula porque houve um aumento do custo de vida no país, associando o fato à pandemia e as regras de isolamento social. "Eu entendo que tem muito voto que foi pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos. Em especial, da cesta básica. Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior", afirmou.
Antecipando a campanha de segundo turno, Bolsonaro mira novamente nos eleitores mais pobres. "Temos um segundo turno pela frente, onde tudo passa a ser igual, o tempo [de propaganda] para cada lado passa a ser igual. E vamos agora mostrar meram lhor para a população brasileira, em especial a classe mais afetada, que é consequência da política do 'fica em casa, a economia a gente vê depois', de uma guerra lá fora, de uma crise ideológica também".
Sobre apoios para o segundo turno, Bolsonaro citou que iniciou interlocução com o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) e também falou das futuras bancadas, principalmente, do seu partido, o PL. “Parece que o PL fez grande bancada de deputados. Esse pessoal todo vai ser convidado a conversar conosco. Nosso partido fez 20% da Câmara. Creio que a gente vai fazer boas alianças para ganhar as alianças. Nós crescemos bastante, são pessoas extremante alinhadas comigo e vão se empenhar no segundo turno”.
O presidente também manifestou maior confiança na vitória devido à pequena diferença que teve para Lula. “Confiança total, até porque a diferença foi de quatro [cinco, na verdade]. Isso tudo ajuda. Neste segundo turno, a gente vai mostrar para eles [eleitores] que a mudança [Lula] que estão buscando vai ser pior. Estamos no terceiro mês com deflação. Preços dos combustíveis em baixa. Auxílio de R$ 600, Pix é revolução, queda no número de mortes por violência, caiu pela metade número de roubos a agências de banco”, disse.
Bolsonaro afirmou ainda que eleitores de Simone Tebet são mais “simpáticos” a ele. “Os eleitores de Tebet e Ciro são mais simpáticos a mim do que o outro lado. Estamos numa democracia, respeito à família, à liberdade culto. O outro lado é o desrespeito de tudo, volta do MST, liberação de certas coisas, voltar a emprestar recurso para ditaduras mundo afora”, disse.
Vai ser a chance de debater com o presidente da República. Vamos ver se ele segue contando mentiras ou vai resolver falar verdades’’
■ Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT
* COM 99,95% DAS URNAS APURADAS
Neste segundo turno, a gente vai mostrar para eles [eleitores] que a mudança [Lula] que estão buscando vai ser pior. Estamos no terceiro mês com deflação’’
■ Jair Bolsonaro, candidato do PL
PESQUISAS Os números finais da eleição pesam contra as projeções das pesquisas de intenção de voto. Datafolha e Ipec erraram por mais de seis pontos percentuais nos levantamentos divulgados na véspera da eleição. No sábado, o Ipec apontou Bolsonaro com 37% e o Datafolha mostrou o presidente com 36%. As projeções para Lula não tiveram a mesma discrepância: Datafolha mostrou 50% e o Ipec 51% de intenções de voto para o ex-presidente.
Nos estados, as pesquisas também falharam em apontar os percentuais de votação de candidatos ligados ao presidente. Em São Paulo, por exemplo, Fernando Haddad (PT) aparecia na liderança e Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Infraestrutura da atual gestão, tinha 31% das intenções no sábado, segundo o Datafolha. As urnas apontano a liderança do bolsonarista com mais de 42% dos votos.
Bolsonaro, que atacou as pesquisas durante todo o período eleitoral, voltou a falar sobre o tema após as eleições, em tom de comemoração: “O resultado desmoralizou de vez os institutos de pesquisa”.
■ BANCADA BOLSONARISTA
Bolsonaro chega ao segundo turno fortalecido pelo crescimento fora da margem estimada pelas pesquisas e pela eleição de boa parte dos candidatos apoiados pelo atual presidente nas disputas estaduais. Somente no Senado, nomes ligados ao bolsonarismo faturaram 16 cadeiras, contra 7 que serão ocupadas por parlamentares da base de Lula.
A debandada de nomes da equipe ministerial de Bolsonaro se provou uma estratégia bemsucedida para a eleição de nomes ligados ao presidente nos estados. Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos; Marcos Pontes (PL-SP), ex-Ciência e Tecnologia; e Rogério Marinho (PL-RN), ex-Desenvolvimento Regional, foram eleitos ao Senado por seus estados.
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL-RJ), o exministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PLRN) e o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS) foram eleitos deputados federais. No Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni (PL), que chefiava a Casa Civil, vai ao segundo turno com Eduardo Leite (PSDB) pelo governo do estado, que elegeu também Hamilton Mourão (Republicanos), eleito vice-presidente em 2018, como senador.