Cenário de surpresas e direita consolidada
Disputa nacional mostrou desempenho de bolsonaristas acima do projetado em pesquisas. Dos 20 governadores que buscavam novo mandato, mais da metade se manteve no poder
Folhapress - A polarizada disputa nacional entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) impulsionou de última hora candidatos dos presidenciáveis nas eleições para governador pelo país, e os dois partidos irão se enfrentar no segundo turno também em um dos estados. O fenômeno foi simbólico, por exemplo, em dois dos principais colégios eleitorais do país, onde bolsonaristas tiveram desempenho bem acima do projetado nas pesquisas. Os resultados consolidaram a direita em várias instâncias do poder e apresentaram algumas surpresas.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), se reelegeu em primeiro turno com 58% dos votos válidos, batendo Marcelo Freixo (PSB), apoiado por Lula. Em São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas, do Republicanos, chegou na frente e irá disputar a segunda rodada contra o petista Fernando Haddad.
Situação parecida ocorreu no Rio Grande do Sul, onde Onyx Lorenzoni (PL), ex-ministro de Bolsonaro e seu aliado de primeira hora em 2018, vai disputar o segundo turno após superar Eduardo Leite (PSDB), aliado no plano nacional da emedebista Simone Tebet e que era líder nas sondagens ao longo da campanha.
Uma das maiores surpresas das eleições estaduais ocorreu em Mato Grosso do Sul, com a votação do candidato Capitão Contar, do nanico PRTB. Sem alianças, ele foi empurrado nas vésperas do primeiro turno por declaração de apoio de Bolsonaro em pleno debate nacional da TV Globo, na quinta-feira. O presidente endossou a candidatura na ocasião apesar de seu partido, o PL, estar formalmente coligado com o tucano Eduardo Riedel. Contar foi o mais votado e disputará a segunda rodada contra o representante do PSDB.
O efeito da corrida presidencial sobre os estados não ocorreu apenas sobre os aliados de Bolsonaro, mas também sobre a performance do PT pelo país.
Um caso exemplar foi o de Santa Catarina, que tinha cenário bastante embolado na definição das vagas no segundo turno. Embora o estado tenha se consolidado como reduto antipetista na década passada, o PT arrancou com Décio Lima eliminando o atual governador, Carlos Moisés (Republicanos), que acabou em terceiro. No estado, Lula teve quase 30% dos votos válidos. O mais votado foi Jorginho Mello, do PL, aliado do presidente, com 39%.
Na Bahia, o candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, que já mostrava sinal de alta nas pesquisas das últimas semanas, superou o favorito ACM Neto, da União Brasil, com quem disputará o segundo turno. O PT defende uma hegemonia local que vem desde 2006.
Outra vitória não muito prevista de petistas ocorreu no Ceará, onde Elmano de Freitas superou outros dois grupos políticos de força: o bolsonarismo de Capitão Wagner, da União Brasil, e os irmãos Ciro e Cid Gomes, que haviam lançado o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, do PDT. O PT ainda manteve seu domínio em outros dois estados nordestinos, Piauí e Rio Grande do Norte.
No DF, um aliado do PT por pouco não complica eleição que parecia garantida a um aliado de Bolsonaro. O candidato à reeleição Ibaneis Rocha, do MDB, liquidou a disputa em primeiro turno por vantagem mínima sobre um candidato do PV, partido que formou federação com petistas. O candidato verde, Leandro Grass, fez 26,5%.
REELEICÃO A maioria dos governadores que tentou reeleição renovou o mandato já no primeiro turno. Concorriam novamente 20 governadores: 11 tiveram a vitória confirmada.
Um dos incumbentes derrotados é o tucano Rodrigo Garcia, que assumiu o governo de São Paulo após renúncia do titular, João Doria, em abril deste ano. Ele ficou em terceiro lugar, encerrando uma hegemonia de 28 anos do PSDB paulista. Outra derrota foi de Carlos Moisés, do Republicanos, em Santa Catarina.
Em 2018, auge da onda antipolítica na esteira da Operação Lava Jato e da ascensão do bolsonarismo, também 20 governadores concorreram, mas só 10 se elegeram. Um dos vitoriosos por maior margem ontem foi Helder Barbalho, no Pará, que formou a maior aliança do país em sua tentativa de reeleição e fez quase 70% dos votos válidos.