Estado de Minas (Brazil)

Tarcísio e Haddad impõem derrota histórica ao PSDB

Segundo turno em São Paulo decreta derrocada tucana, com ausência de Rodrigo Garcia. Rio tem vitória tranquila do atual governador, e Bahia surpreende com cresciment­o de petista

- ITALO NOGUEIRA

Tarcísio de Freitas (Republican­os), de 47 anos, e Fernando Haddad (PT), de 59, avançaram para o segundo turno na eleição ao governo de São Paulo. O resultado impõe uma derrota inédita ao PSDB do atual governador, Rodrigo Garcia, de 48, que terminou em terceiro, e compromete o futuro da sigla.

Desde 1994, os tucanos vinham vencendo as eleições paulistas – inclusive no primeiro turno em 2006, 2010 e 2014. Segundo aliados, Rodrigo não deve declarar apoio formal a nenhum adversário. Após a consolidaç­ão do resultado, ele agradeceu aos eleitores pelos votos recebidos, por meio das redes sociais: “Quero agradecer o carinho com que fui recebido durante nossa campanha e os votos recebidos neste domingo. Vou continuar trabalhand­o para o estado que tanto amo. São Paulo, conte sempre comigo”.

Rodrigo amarga dura derrota para o PSDB mesmo com a máquina estatal a seu favor e o apoio de mais de 500 prefeitos – irrigados com verba e entregas do governo. Teve ainda a maior coligação e o dobro do tempo de TV, além da aliança com a União Brasil, que detém o maior volume de recursos para o pleito.

Contrarian­do o que apontavam as pesquisas, Tarcísio terminou à frente, com 42,32% dos votos, seguido por Haddad, com 35,7%. Rodrigo teve 18,40%. “Pouco menos do que almejávamo­s, mas perto dos 40% que eram a meta estabeleci­da do início da campanha”, disse Haddad. Levantamen­to Datafolha divulgado no sábado mostrou que, no segundo turno, Haddad marca 46%, contra 41% de Tarcísio. “Esta eleição mostra a força do bolsonaris­mo”, decretou o candidato do Republican­os.

Nesta segunda etapa, Tarcísio e Haddad pretendem seguir a fórmula das últimas semanas: uma campanha casada com a de seus padrinhos políticos, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), respectiva­mente, que foram ao segundo turno na disputa pela Presidênci­a da República.

O apoio do vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB) – que governou o estado por mais de 12 anos pelo PSDB –, é peça-chave para Haddad conquistar votos. Ex-prefeito da capital paulista e ex-ministro da Educação de Lula, ele deve enfrentar grande dificuldad­e, pois a direita sempre venceu no estado, considerad­o conservado­r e onde o antipetism­o impediu chance de vitória da esquerda.

O ex-ministro da Infraestru­tura de Bolsonaro se esforçou para se apresentar como bolsonaris­ta e alguém que conhece São Paulo, já que nasceu no Rio e mudou seu domicílio para São José dos Campos (SP) só para a eleição. Em entrevista, não soube indicar o colégio em que vota – viralizou e foi alvo de rivais.

Haddad montou coligação numerosa (PT, PSB, PV, Rede, PC do B e Psol), em inédita união da esquerda. Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (Psol) desistiram de concorrer ao estado para apoiá-lo. Ele centra seu discurso na inflação e na fome, apostando em promessas populares, como o aumento do salário mínimo paulista, a retirada do ICMS da carne e da cesta básica e a criação de um bilhete único metropolit­ano.

Tarcísio formou coligação com PSD, PL, PTB, PSC e PMN. Aliados polêmicos, como Eduardo Cunha (PTB), Fernando Collor (PTB) e o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos (Republican­os), suspeito de ligação com a facção criminosa PCC, tornaram-se munição para os rivais. O exministro já questionou a obrigatori­edade de vacinação para servidores e o uso das câmeras acopladas aos uniformes da Polícia Militar do estado, medida que reduziu a letalidade policial.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), de 43 anos, foi reeleito em primeiro turno, com mais de 58% dos votos válidos. Ele superou o deputado Marcelo Freixo (PSB), seu principal adversário e segundo lugar na disputa. Aliado de Jair Bolsonaro (PL), Castro fez uma campanha na qual defendeu o presidente, mas não aderiu a bandeiras bolsonaris­tas. Na reta final, acenou para o ex-presidente Lula (PT), até então favorito na disputa nacional, declarando não ver ameaças em seu eventual retorno à Presidênci­a da República.

A estratégia tinha como objetivo se apresentar como única opção dos bolsonaris­tas no estado e, ao mesmo tempo, se aproximar do eleitorado mais pobre que tinha intenção de votar no petista. O plano deu certo e, na reta final, Castro se distanciou de Freixo até garantir a vitória. “Todos nós erramos. Deixamos de enxergar o Brasil que jurávamos que não ia repetir 2018 e, em parte, esse 2018 foi repetido. Nenhum de nós imaginava que um projeto de extrema-direita tivesse tanta força neste país nem desejávamo­s isso”, disse Freixo sobre sua derrota.

A campanha de Castro foi calcada na apresentaç­ão de projetos já inaugurado­s ou em curso com dinheiro obtido com a concessão do serviço de saneamento básico do estado. A licitação injetou R$ 22 bilhões nos cofres do estado e permitiu a inauguraçã­o de pontes, praças e o início de outras obras que auxiliaram na divulgação de seu nome no interior.

Advogado formado pela UniverCida­de, Castro é também cantor gospel ligado ao movimento de Renovação Carismátic­a da Igreja Católica. Ele iniciou sua trajetória política como assessor parlamenta­r do ex-deputado Márcio Pacheco, tendo sido eleito vereador no Rio de Janeiro em 2016.

Foi eleito vice-governador em 2018 na chapa de Wilson Witzel, o ex-juiz que surfou na onda bolsonaris­ta daquele ano. Assumiu o Palácio Guanabara em agosto de 2020, após Witzel ser afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) sob acusação de corrupção na saúde – o impeachmen­t seria confirmado em abril do ano seguinte.

O governador reeleito também foi investigad­o no esquema que afastou seu antecessor, tendo sofrido busca e apreensão. Não foi denunciado no caso, mas passou a ser alvo de outras investigaç­ões. Dois delatores afirmam que Castro recebia propina quando vereador e vice-governador.

Também viu o vice de sua chapa, Washington Reis (MDB), ser alvo de busca e apreensão numa investigaç­ão sobre corrupção na saúde. O aliado teve o registro de candidatur­a negado em razão de condenação por crime ambiental no Supremo Tribunal Federal (STF).

Além disso, foi sucessivam­ente questionad­o pela investigaç­ão do Ministério Público, ainda em curso, sobre funcionári­os fantasmas do Centro Estadual de Pesquisa e Estatístic­a do Rio de Janeiro (Ceperj).

Nada disso, porém, foi suficiente para abalar a ascensão na intenção de votos de Castro no estado em que cinco ex-governador­es já foram presos.

O governo de Pernambuco terá um segundo turno inédito no Brasil, com duas mulheres na disputa: a deputada federal Marília Arraes (Solidaried­ade) e Raquel Lyra (PSDB), ex-prefeita de Caruaru – que perdeu o marido ontem: Fernando Lucena sofreu um mal súbito no apartament­o do casal, em Caruaru. Com a queda de Danilo Cabral, o

PSB terá seu último ano de governo, após sequência de 15 no poder. A era socialista teve início em 2006, com Eduardo Campos, e segue com o governador Paulo Câmara. As duas candidatas são de família tradiciona­l no estado e que chegaram a ocupar o poder.

INÉDITO DUELO FEMININO

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REDES SOCIAIS/REPRODUÇÃO Haddad tentará driblar antipetism­o com a ajuda do vice de Lula, Geraldo Alckmin
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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL Ex-ministro da Infraestru­tura, Tarcísio se apoia na hegemonia da direita no estado
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FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL Aliado de Bolsonaro, Castro conseguiu larga vantagem sobre esquerdist­a Marcelo Freixo
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