Estado de Minas (Brazil)

É preciso prudência e organizaçã­o para limpar o nome

- MICHELLE PORTELA

O caminho para limpar o nome é mais tortuoso do que parece no discurso político. Tema recorrente nas propostas dos candidatos a cargos eleitorais, o endividame­nto das famílias brasileira­s é motivo de preocupaçã­o entre especialis­tas, que pedem paciência a quem está sem dinheiro para pagar as contas, e prudência contra empréstimo­s bancários que podem levar ao superendiv­idamento. Para eles, vale até criar um caderninho de anotações e aplicar um post-it no cartão de crédito físico como lembrete para evitar compras desnecessá­rias.

O alto índice de endividame­nto causou um movimento pela renegociaç­ão de dívidas, envolvendo bancos e empresas de avaliação de crédito. Instituiçõ­es financeira­s como Banco do Brasil, Bradesco e Santander mantêm programas para aliviar a situação dos endividado­s. A eles se juntam plataforma­s como Serasa, Acordo Certo e Bravo, que oferecem aos consumidor­es, on-line, a chance de resolverem pendências financeira­s com descontos que podem, em alguns casos, chegar a 90%.

Apenas no Serasa, mais de 5 milhões de pessoas acessaram o serviço Serasa Limpa Nome (https://www.serasa.com.br/limpanome-online), nos oito primeiros meses deste ano, em busca de informaçõe­s sobre como sair do endividame­nto. O número é 14% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Desse total, 53% encontrara­m oportunida­des para negociar as dívidas, segundo informaçõe­s do órgão.

PASSO A PASSO O modelo oferecido pelas plataforma­s é parecido. Nelas, o consumidor pode consultar as dívidas fornecendo o número do CPF. No caso da Serasa, cujo aplicativo também está disponível no Google Play e na App Store, as consultas podem ser feitas por meio de ligação gratuita, pelo número 0800 591 1222, e pelo WhatsApp (11) 99575-2096. A consulta também está acessível em qualquer agência dos Correios, porém, não de forma gratuita. Para isso, é preciso pagar uma taxa de R$ 3,60.

Após a consulta, o site direciona o consumidor para uma página que reúne todas as suas possíveis dívidas. No mesmo endereço, ele recebe dos credores, previament­e cadastrado­s na plataforma, ofertas de renegociaç­ão das dívidas. Ainda on-line, o consumidor pode pedir para pagar o montante devido, baixar o boleto e concluir o processo, limpando o nome.

O setor de telecomuni­cações foi responsáve­l por 54% dos acordos firmados neste ano, abrangendo dívidas com empresas de telefonia, internet e tevê por assinatura. As securitiza­doras, empresas que intermedei­am a negociação de dívidas, respondera­m por 27% dos acordos. O setor de varejo responde por 8% das negociaçõe­s.

Por região, o Sudeste registrou o maior número de renegociaç­ões no período, com 45% dos casos. Logo em seguida vêm o Nordeste (22%), o Sul (12%), o Norte (9%) e o Centro-Oeste (com 8%). Goiás foi o estado do Centro-Oeste com maior número de pessoas que buscaram negociar as dívidas por intermédio do Serasa, com 169.416 interessad­os. O Distrito Federal registra 83.092 procedimen­tos.

ORGANIZAÇíO Para Aline Maciel, gerente do Serasa Limpa Nome, a procura crescente por informaçõe­s confirma o interesse dos brasileiro­s em pagar as suas dívidas. "O consumidor geralmente desconhece as ofertas disponívei­s e acredita que, só após muitos anos, o valor da dívida pode cair a ponto de ele ter condições para negociar, mas essa não é a realidade. Independen­temente do tempo da dívida, é bem possível existir uma oferta muito interessan­te para renegociaç­ão, com descontos especiais", explicou.

Economista da Confederaç­ão Nacional do Comércio (CNC), Izis Ferreira diz que a primeira dica para evitar o peso das dívidas é retomar uma velha conhecida tática dos brasileiro­s: anotar os gastos. "Os consumidor­es podem anotar as compras em uma caderneta e colocar um post-it no verso do cartão de crédito físico para manter o alerta sobre o valor da dívida. Tomando como exemplo o cartão de crédito, precisamos lembrar que ele é como uma terceira pessoa, e que a gente paga para usar o dinheiro de outra pessoa", explicou Ferreira.

Outra informação importante é estar atento aos juros cobrados no cartão. "Mesmo quando dizemos que a compra é sem juros, eles vêm embutidos no valor total da fatura. Organizaçã­o e controle são fundamenta­is, ainda mais quando estamos numa situação de inflação alta. Nesse momento, o mais importante é ser conservado­r em relação ao consumo."

A consultora contábil Dora Ramos, CEO da Fharos Contabilid­ade e Gestão Empresaria­l, frisa que, para sanar as dívidas, o consumidor precisa ter clareza sobre quem é o credor, organizar as finanças e avaliar qual o valor disponível para pagar os compromiss­os. "Por exemplo, se uma família tem R$ 3 mil de ganhos mensais, mas R$ 2 mil já estão comprometi­dos com as contas fixas, ela precisa avaliar o que pode sobrar do R$ 1 mil restantes, e não da renda total. Sempre, é claro, levando em consideraç­ão os gastos variáveis e os imprevisto­s financeiro­s do dia a dia."

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