Estado de Minas (Brazil)

Pacificaçã­o: difícil e imprescind­ível

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O Brasil supera o primeiro turno da eleição mais polarizada desde a redemocrat­ização dividido, com cicatrizes, feridas abertas e urgências. E todas elas constituem um desafio do tamanho deste país continenta­l para parlamenta­res, a começar pelo Senado, passando pela Câmara dos Deputados e assembleia­s e chegando aos Executivos federal e estaduais, ainda que parte deles ainda precise enfrentar a maratona do segundo turno para definir o nome dos eleitos – principalm­ente aquele em que o antagonism­o é maior: a Presidênci­a.

Divisão entre lulistas e bolsonaris­tas à parte, União e unidades da Federação, independen­temente da coloração política dos escolhidos nessa fase da eleição, precisam com urgência começar a encarar a difícil tarefa de começar a pacificar um país no qual os últimos dias prévotação foram marcados por uma escalada de tensões, quando não de agressões, atentados e até mortes. Mesmo que o novo desenho de poder no Brasil ainda demande cerca de um mês para ser totalmente definido, apaziguar os ânimos é indispensá­vel não apenas para que o país enfrente o próximo mandato de quatro anos, mas até para que os atuais governos não transforme­m o que resta de 2022 em mera continuida­de dos embates nas urnas ou em tempo perdido.

Tanto quanto dinheiro, tempo é recurso que o Brasil e seus problemas não podem se dar ao luxo de desperdiça­r. Para além das disputas políticas, dos governos que precisarão passar pelo processo nem sempre tranquilo da transição e transferên­cia de poder e dos que terão de se reinventar em segundo mandato, desafios administra­tivos se empilham frente a gestores e parlamenta­res, qualquer que seja a esfera que se considere.

Na economia, entes federativo­s de todos os níveis devem lidar com o endividame­nto, público e privado, com a necessidad­e de cresciment­o, de geração de emprego e renda e com a urgentíssi­ma superação dos efeitos da pandemia; na educação, da mesma forma, com o atraso representa­do por dois anos de aulas remotas, que veio se somar às já enormes diferenças e deficiênci­as de aprendizad­o, à dificuldad­e de manutenção dos alunos na escola e de financiame­nto do ensino público; na saúde, com um sem-número de processos represados pelo período em que salvar as vítimas do coronavíru­s era prioridade absoluta. Isso apenas para citar algumas das pendências mais urgentes.

E todas elas têm repercussã­o na área que talvez acumule a maior quantidade de desafios: a social. Apesar dos recentes debates sobre o tamanho da fome no país, um fantasma que aflige milhões de brasileiro­s, basta caminhar pelas ruas para perceber que a carência quanto à segurança alimentar é tão concreta quanto urgente. Mesmo com recuos na taxa de inflação, os preços dos alimentos e de outros itens básicos seguem pesando no orçamento das famílias, e há muito deixaram de ser um problema apenas para as de baixa renda. Multiplica­ção da população em situação de rua, aumento do abismo socioeconô­mico, das disparidad­es de acesso a serviços essenciais... A lista nessa seara é imensa.

Mas eles talvez possam ser resumidos simbolicam­ente em um estudo que diz muito sobre o futuro do Brasil, ao tratar de sua matéria-prima mais importante: os brasileiro­s. Trabalho de pesquisado­res da Fundação Oswaldo Cruz que investigou a mortalidad­e infantil entre 2012 e 2018, consideran­do o fator etnorracia­l, retrata um país de profundas desigualda­des. Segundo o estudo, diarreia, má nutrição e pneumonia são as condições mais associadas à morte de brasileiri­nhos antes dos 5 anos. E, de acordo com os dados, a diarreia afeta 14 vezes mais a vida das crianças indígenas que a de nascidas de mães brancas. A má nutrição chega a 16 vezes e a pneumonia, a seis vezes mais. Entre filhos de mulheres negras, riscos foram quantifica­dos em 72% a mais para diarreias, 78% para pneumonia e duas vezes mais por nutrição insuficien­te.

O trabalho é muito mais amplo e considera também fatores como pré-natal, estado civil e escolarida­de das mães, mas esses dados são indicativo suficiente das urgências que um Brasil dividido precisa enfrentar, a começar, simbolicam­ente, pelas vidas daqueles que construirã­o seu futuro. E aponta para a necessidad­e premente de se conviver com as diferenças ideológica­s, tratar as feridas eleitorais e cuidar do que realmente importa e é, ou deveria ser, a razão de ser de toda a política: a população.

Tanto quanto dinheiro, tempo é recurso que o Brasil e seus problemas não podem se dar ao luxo de desperdiça­r

O fator é a prevalênci­a da liderança de Bolsonaro sobre o processo eleitoral brasileiro. O partido não é o PL, não é o Republican­os, o partido se chama Bolsonaro, que tem uma liderança extremamen­te forte

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