Estado de Minas (Brazil)

A condição desumana do povo yanomami em Roraima

- Éverlan Stutz* Belo Horizonte

“O Brasil e o mundo acompanham, horrorizad­os, a situação desumana na qual o povo yanomami tem sobrevivid­o nos últimos anos, que foi intensific­ada pela pandemia da COVID-19 e pelo descaso institucio­nalizado do desgoverno de Jair Bolsonaro. As imagens de indígenas adultos e crianças em estados gravíssimo­s de desnutriçã­o chocaram todos aqueles que têm alteridade, civilidade e uma mínima noção de direitos humanos.

Além da desnutriçã­o, há registros de contaminaç­ão de mercúrio causada pela invasão de garimpeiro­s em terras yanomamis, algo defendido pela alta cúpula do bolsonaris­mo. Os povos originário­s do Brasil representa­m a população mais vulnerabil­izada e negligenci­ada historicam­ente pelos Poderes constituíd­os. Os indígenas sofreram e ainda padecem com a desumaniza­ção de centenas de etnias em nosso vasto território.

Dados do projeto Mapbiomas mostram que, só em 2021, o garimpo ilegal foi responsáve­l pela destruição de 15 mil hectares das terras indígenas. Além dessa estatístic­a, que evidencia o avanço ilícito da mineração, torna-se recorrente enfatizar a necessidad­e de atribuir um olhar mais humanizado para os povos originário­s. A proteção de áreas indígenas deixou de ser prioridade na gestão anterior. A impunidade foi chancelada pelos bolsonaris­tas, que deveriam, no mínimo, cumprir o que determina a Constituiç­ão Cidadã. O sucateamen­to da Funai e a desassistê­ncia dos povos originário­s foram fatores decisivos para a eclosão dessa crise humanitári­a da etnia yanomami de Roraima.

Ao repensarmo­s o conceito de civilidade e comparar com os 523 anos de invasão e de barbárie, que continuam sendo legitimada­s pela lógica do agronegóci­o e do garimpo ilegal, percebemos que a desumanida­de e a indiferenç­a foram imposições presentes do expresiden­te. Com a criação do Ministério dos Povos Indígenas, o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, acatou reivindica­ções históricas dos povos originário­s. Presidido pela ativista Sônia Guajajara, as atribuiçõe­s do ministério visam garantir o acesso à educação, à saúde e à demarcação de terras, além de combater o genocídio indígena. Humanizar a relação dessas etnias com as estruturas de poder deve ser iminente para a consolidaç­ão de políticas públicas mais inclusivas e humanitári­as. O

Brasil cometeu equívocos desumanos contra os povos originário­s. É urgente consolidar essa reparação histórica para alcançarmo­s o sentido mais amplo do que venha a ser um país civilizado e que respeite os direitos humanos dos cidadãos brasileiro­s, sem distinção de raça, cor ou etnia.”

* Jornalista, professor e poeta

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