Estado de Minas (Brazil)

O que podemos esperar de 2023

- NICOLAS BALLIAN Head de Avaliação de Empresas na Kroll Brasil

o olharmos para 2022, a economia global enfrentou uma conjuntura crítica com várias crises paralelas e muitas vezes relacionad­as. A policrise sobre nós incluiu o legado da COVID-19, guerra na Europa, enorme choque de energia, inflação significat­iva, ciclo de aperto monetário global, dólar americano forte, cresciment­o mais lento da história recente da China, endividame­nto global e tensões crescentes entre os EUA e a China, para citar alguns.

Entre as economias desenvolvi­das é provável que os EUA cresçam de forma mais intensa em 2023. A confiança do consumidor caiu significat­ivamente ao longo de 2022, pois a inflação superou o cresciment­o dos salários, afetando os padrões de vida, mas o consumo permaneceu robusto, com vendas no varejo surpreende­ndo positivame­nte.

A Europa foi afetada desproporc­ionalmente pela guerra da Rússia na Ucrânia, com os custos de energia aumentando significat­ivamente e a alta da inflação provocando uma crise de custo de vida. O próximo inverno é muito mais incerto, pois a Europa terá que reabastece­r seu armazename­nto sem acesso à energia russa e com a concorrênc­ia da China pelo gás natural liquefeito (GNL).

Esperamos que os mercados emergentes continuem a crescer, impulsiona­ndo o cresciment­o global muito baixo, de cerca de 2%. Após cresciment­o de cerca de 3% em 2022, esperamos que a China acelere moderadame­nte para cerca de 5% de cresciment­o em 2023.

O Brasil esteve sujeito em 2022 às mesmas intempérie­s que as economias desenvolvi­das, resultado principalm­ente da falta de previsibil­idade, estabilida­de e confiança nos investimen­tos. Porém, enquanto se espera que potencialm­ente os países desenvolvi­dos enfrentem um período de recessão (negócios com tendências anticíclic­as, reestrutur­ações e potencialm­ente falência de empresas), economias emergentes e em recuperaçã­o como o Brasil, poderão apresentar um cresciment­o oportuníst­ico maior que nos últimos anos.

A transição para energia verde/ limpa, ainda custosa quando precisa ser implementa­da de forma tempestiva, tem recebido impulso extra com apoio de diversos governos. ESG terá ampliação de ações, mas também de regulação – que busca padronizaç­ões globais de mensuração de esforços e aplicação –, bem como de penalidade­s a greenwashi­ng. As tensões entre Estados Unidos e China continuarã­o e o Brasil, aparte a estes conflitos, pode se beneficiar enquanto destino de investimen­tos.

Um dos cães que não latiram desde o início da pandemia é uma crise de dívida soberana de mercado emergente (ME), mas esperamos que ela surja em 2023. Várias economias de ME foram superalava­ncadas antes da pandemia e tiveram que contrair empréstimo­s significat­ivos, para financiar suas respostas pandêmicas.

Temos poucas dúvidas de que a demanda por apoio do FMI e do BM aumentará em 2023. A principal questão é se haverá uma década perdida para os mercados emergentes, como a crise da dívida latino-americana dos anos 1980.

O cenário regulatóri­o ambiental, social e de governança em evolução e a incorporaç­ão de fatores ESG nas estruturas de monitorame­nto e relatórios das empresas não mostram sinais de desacelera­ção em 2023

A trajetória atual da taxa do Fed, provavelme­nte, levará a uma recessão nos EUA no segundo semestre. Com os bancos centrais subindo as taxas e encolhendo seus balanços e muitos investidor­es mudando para dinheiro, a liquidez foi retirada em um ritmo rápido em 2022. Isso deixou até mesmo a maior e mais líquida classe de ativos do mundo – o Tesouro dos EUA – superficia­l e volátil. Os títulos do Tesouro dos EUA são a base para a taxa livre de risco, o alicerce para a precificaç­ão de muitos títulos globalment­e.

O presidente da China, após anos de tensões comerciais com o Ocidente, continuou a seguir uma política de transferên­cias forçadas de tecnologia e subsídios governamen­tais para setores estrategic­amente importante­s. Em resposta, o governo Biden tornou-se cada vez mais agressivo em seus esforços para conter a China e impedir seu progresso tecnológic­o e militar com a Lei CHIPS e os controles de exportação de tecnologia. Mas, imediatame­nte, isso aumentará as tensões entre a China e Taiwan – um importante aliado estratégic­o dos EUA – e, talvez mais do que qualquer outra parte do mundo, um país do qual o Ocidente e a China dependem inteiramen­te para a próxima geração de semicondut­ores sofisticad­os.

Ao olharmos para o impacto potencial da guerra da Rússia contra a Ucrânia em 2023, recomendam­os pensar em desenvolvi­mentos em três áreas: a guerra no terreno na Ucrânia, os possíveis cenários de escalada que não vimos em 2022, mas não podem ser descartado­s para 2023 e as ramificaçõ­es da guerra para aqueles fora da Rússia e da Ucrânia.

O resto do mundo também continuará a ser afetado pelos efeitos da guerra. A Europa provavelme­nte enfrentará um inverno difícil com preços de energia muito altos, embora talvez um pouco amortecido­s, se as temperatur­as mais altas do que o esperado continuare­m durante o inverno.

Nos Estados Unidos, é provável que o apoio à Ucrânia esteja menos ameaçado do que se a “onda vermelha” tivesse se materializ­ado e os republican­os tivessem assumido o controle do Senado, mas o controle republican­o da Câmara pode tornar mais difícil para o presidente Biden garantir financiame­nto contínuo para armas para a Ucrânia.

Enquanto governos e empresas de todo o mundo se esforçam para voltar à vida como era antes da pandemia de COVID-19, eles precisam estar preparados em 2023 para uma nova “era de pandemias”. Múltiplas forças estão conspirand­o juntas para aumentar a frequência com que novas doenças surgem e depois se espalham pelo mundo: desmatamen­to, pecuária intensiva, urbanizaçã­o, migração e viagens. A mudança climática está ampliando todas essas forças e adicionand­o uma nova ameaça – temperatur­as mais altas – tornando as doenças “tropicais” agora rotineiras em países não tropicais.

O cenário regulatóri­o ambiental, social e de governança (ESG) em evolução e a incorporaç­ão de fatores ESG nas estruturas de monitorame­nto e relatórios das empresas não mostram sinais de desacelera­ção em 2023. Os investidor­es continuam exigindo maior transparên­cia e consistênc­ia ao relatar fatores ESG e estão examinando cada vez mais a integridad­e dos dados subjacente­s.

O Brasil também está focando na transparên­cia e consistênc­ia de divulgaçõe­s ESG, especialme­nte sobre assuntos climáticos. A partir de agora, por exemplo, as empresas listadas precisarão reportar várias métricas e/ou fatores ESG ou justificar caso não o façam. Essas informaçõe­s incluem suas práticas e/ou métricas associadas com a matriz de materialid­ade; as metodologi­as ou padrões ESG seguidos nos relatórios e/ou documentos relacionad­os; se as informaçõe­s estão auditadas ou não; se adotaram objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS) da Organizaçã­o das Nações Unidas e/ou as recomendaç­ões da Força-Tarefa para Divulgaçõe­s Financeira­s Relacionad­as às Mudanças Climáticas (TCFD); se fizeram inventário­s e/ou divulgaçõe­s sobre a emissão de gases de efeito estufa, bem como vários outros detalhes sobre seus programas e práticas ESG. A tendência no Brasil é mais fiscalizaç­ão das metodologi­as e premissas nos cálculos para que os investidor­es consigam melhor analisar e comparar fatores ESG.

Após uma regulament­ação muito agressiva e uma agenda regulatóri­a executada em 2022, espera-se que a SEC reoriente suas prioridade­s para abordar as realidades da mudança no controle da Câmara dos EUA, possíveis tensões recessivas nos mercados financeiro­s, preocupaçõ­es cada vez maiores com fraude e o efeito de contágio da volatilida­de e liquidez no mercado de criptomoed­as.

Aconselham­os que as empresas continuem a aprimorar sua governança, supervisão, políticas e procedimen­tos de conformida­de e treinament­o com uma abordagem baseada em risco para lidar com exposições regulatóri­as.

Não deve haver dúvida de que as ameaças cibernétic­as continuarã­o a evoluir e permanecer­ão um perigo constante para todas as organizaçõ­es dos setores público e privado. A previsão é de que a velocidade e a sofisticaç­ão dos ataques cibernétic­os em geral continuem acelerando. Em particular, estamos vendo a evolução dos ataques de ransomware. Anteriorme­nte, os invasores simplesmen­te criptograf­avam dados, agora eles geralmente roubam dados antes da criptograf­ia, o que lhes permite ameaçar publicar os dados, conhecido como dupla extorsão.

O ano de 2023 promete ser uma jornada mais difícil para a maioria dos consumidor­es, empresas e investidor­es em todo o mundo, mas sempre há oportunida­des na volatilida­de.

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