Divergência respeitosa enriquece
O BBB, todo ano, dá o que falar. Falem bem, falem mal do programa, ele exibe o retrato exato da vaidade, do desejo de ficar famoso, de ser visto, de ser lembrado, de ser filmado, de ser rico, de competir, de vencer, de fazer parte do elenco da TV. Somos humanos, quem não quer um lugar ao sol? Os masoquistas, evidentemente, querem um lugar junto à escuridão. Somos humanos, cheios de imperfeições, mas não precisamos ser tóxicos! Desavença, interesse, fofoca, mentira, drama, competição, deslealdade; relacionamentos tóxicos e saudáveis, emoções à flor da pele e na corrente sanguínea, tudo isto faz parte do pacote chamado: realidade.
Conviver com o outro sempre foi um desafio elementar, seja em casa, no trabalho, na rua, na escola, na vizinhança etc. Conviver com estranhos, no mesmo espaço, 24 horas por dia, deve ser um baita teste de resistência à saúde mental. Não há como bloquear ou deixar de conviver com o oponente, ou com quem não se tem afinidade ou não se vai com a cara, nos programas que “encarceram” os competidores na mesma casa, tendo como jurado o público em massa.
Todos os participantes são oponentes; parceiros enquanto não for prioridade de voto do outro, ou até que a aliança os separe, ou até a primeira grande querela ou mudança de interesse ou tática. Discussões saudáveis engrandecem as relações. Ninguém converge o tempo inteiro. Viver na acomodação da convergência é enxergar com um olho só. Já de trancos e durezas de palavras, diálogos e ações, nenhuma relação sobrevive. As palavras têm poder de se concretizarem, dizia minha mãe. E é verdade.
“Vou te empurrar do carro, se você terminar o relacionamento, comigo. Vou lhe arrancar os olhos, se você olhar para outro. Se você não trocar esta roupa curta, vou te dar uma coça... Vou quebrar seu celular, se você não me deixar olhar as mensagens. Você tem algo a esconder?” As ameaças viraram rotina na relação daquele casal de namorados, até se materializarem. Um soco, um olho roxo, um celular quebrado, um tiro para o alto.
Discussões tóxicas são gatilhos para a violência, para o ódio, para o olho por olho – dente por dente. “E eu que achei que estava fazendo algo errado, ou deveria tentar entender os motivos dele; ou mudar meus hábitos, minha forma de expressar, não responder, não contrariar... Quem sabe, ele voltaria a ser o que era?” Ninguém deve se anular para agradar o outro, ou viver “pisando em ovos”, para saber se fulano gostou ou não de sua forma de se vestir ou se expressar. Relacionamento saudável destaca a luz que há no outro. Relacionamento saudável faz o outro crescer. Relacionamento saudável respeita a privacidade do outro. Relacionamento saudável respeita as opiniões contrárias. Relacionamento saudável diverge de forma respeitosa. Relacionamento saudável: respeita, cuida, conversa, ama...
O exemplo do casal deste texto foi a concretização de situações tóxicas que se arrastaram ao longo do relacionamento. A moça não acreditava mais nela, deixou de ter amor-próprio e autenticidade, para agradar o companheiro. A moça pensava que ele mudaria, mas não mudou. O moço perdeu a saúde emocional, a razão e a liberdade. O moço perdeu o limite, o respeito, o amor, o cuidado... Ninguém procurou ajuda especializada, pois não sabia da toxicidade da relação. Foi a materialização da dureza das palavras, que deram vida a um olho roxo e a uma prisão por violência doméstica.
Falem bem, falem mal do programa, mas que ele exibe o retrato da sociedade, é fato. Quem não quer ser rico, famoso, filmado? Os masoquistas, evidentemente. Mas, que bom ver que certos programas televisivos, como o BBB, mostram que toda divergência respeitosa enriquece.
Falem bem, falem mal do programa, mas que ele exibe o retrato da sociedade, é fato