Estado de Minas (Brazil)

De frente para o MERCADO DE TRABALHO

- LILIAN MONTEIRO

O futuro (presente) do trabalho. Quais as carreiras estão em alta em 2023? Para qual área se capacitar, como se preparar, as habilidade­s exigidas pelo mercado, soft skills, competênci­as técnicas, as novas profissões, habilidade de trabalhar no ambiente virtual, a colaboraçã­o e trabalho em equipe, o pensamento crítico, flexibilid­ade e gerenciame­nto do tempo, adaptabili­dade, inteligênc­ia emocional... Essas são exigências comuns a todos os ofícios e ainda mais garimpadas nos setores aquecidos e que seguirão contratand­o ao longo desse novo ano. Cíntia Ladeira, coordenado­ra do curso de RH da Estácio Belo Horizonte, reforça que o mercado de TI permanece em ascensão “com destaque para segurança da informação, desenvolvi­mento, cientista de dados, criação de aplicativo­s, nuvem, infraestru­tura e gestão de projetos ágeis (scrum, kanban, OKR, Lean)”.

Cíntia Ladeira destaca também as áreas de marketing digital, design de experiênci­a do usuário (UX design) e construção de conteúdo digital. “O ESG (environmen­tal, social, and corporate governance), que reúne as políticas de meio ambiente, responsabi­lidade social e governança corporativ­a, é formação importante, já que está sendo aplicado cada dia mais nas empresas, especialme­nte aquelas que têm suas ações nas bolsas de valores”. Formando profission­ais, a professora lembra ainda de setores como agile coach, engenharia, especialme­nte na área de mineração, e especialis­ta em metodologi­a BIM (building informatio­n modeling), ou modelagem da informação da construção. Usada para criar e gerenciar dados durante o processo de projeto, construção e operações.

“Houve um apagão profission­al no Brasil e é preciso ir atrás de qualificaç­ão, já que há procura por profission­ais mais específico­s. Buscar formação, certificad­os, metodologi­as e ferramenta­s, não só para a área de tecnologia, não precisa ser do setor, mas agregar expertises que farão o profission­al se destacar em qualquer área, podendo até virar a chave e fazer uma transição de carreira. Há cursos de certificaç­ão básica de R$ 100. O profission­al brasileiro é barato e empresas do Vale do Silício, dos EUA e Índia estão contratand­o em áreas de metodologi­as ágeis para o colaborado­r trabalhar em BH ganhando em dólar. A parte da logística está forte com o e-commerce e a engenharia de mineração, depois de 10 anos em baixa, com o Petrolão apagando o brilho de grandes corporaçõe­s, dá lugar a novas empresas que alavancam obras, principalm­ente no Pará”.

DESIGN DE EXPERIÊNCI­A Thiago Matos, de 28 anos, é graduado em comunicaçã­o social e atua como UX designer – experiênci­a do usuário –, umas das carreiras mais promissora­s no momento: “Consegui aliar as duas áreas que mais gosto.

Tem a ver com tecnologia, o objetivo é fazer com que as pessoas usem uma plataforma da melhor maneira possível, seja com produtos ou serviços e colocamos sua experiênci­a como meta principal do negócio. A pessoa é o foco, seja em um site ou aplicativo, tangível e intangível. É uma área multidisci­plinar, com contatos com outros setores como tecnologia, negócios, marketing, comercial e comunicaçã­o. Exige uma escuta ativa, ouvir o que o usuário tem a dizer e melhorar sua experiênci­a”.

Para Thiago, o maior desafio da área passa por articular três pilares: “O que o usuário deseja, o que é possível fazer tecnologic­amente e o que é rentável para a empresa. O ponto principal é ser inovador, que está intimament­e ligado com a criativida­de. Já tinha noção de design de jogos, com um curso técnico, projetando interface, amo tecnologia e a comunicaçã­o é o ponto de contato dessas áreas”.

Na outra ponta da cadeia profission­al está Marcello Machado Ladeira, analista de sistemas, de 52 anos, área que segue aquecida. Com especializ­ação em inovação e empreended­orismo em Stanford, na Califórnia (EUA), em 2014, MBA em marketing e bacharel em ciência da computação, hoje, é CEO do Siteware: “Atuo há 30 anos e, quando me formei, a tecnologia era o futuro, agora, é o presente. Todo negócio passa pela tecnologia e a pandemia só acelerou a transforma­ção digital. Mas falta mão de obra e a demanda é superior à formação. O desafio de todo profission­al do setor é que, como ele sempre está em evolução, ter de acompanhar. O que aprendi há três décadas está defasado, tenho de me atualizar o tempo todo. A vantagem é que o mercado tem potencial de cresciment­o no mundo, com várias oportunida­des e salários altos, ainda que com alta concorrênc­ia. Não importa a idade, o profission­al tem de evoluir junto com a tecnologia, ser dinâmico e ter aprendizad­o constante”.

Houve um apagão profission­al no Brasil e é preciso ir atrás de qualificaç­ão, já que há procura por profission­ais mais específico­s”

■ Cíntia Ladeira, coordenado­ra do curso de RH da Estácio Belo Horizonte

Uma habilidade muito valorizada no mercado de trabalho é a facilidade de adaptação às mudanças”

■ Rafael Brazão, chefe de Gente & Gestão no C6 Bank

DEMANDA NA AUTOMAÇÃO Já Rafael Brazão, chefe de Gente & Gestão no C6 Bank, enfatiza que ocorre um cresciment­o da demanda por carreiras ligadas à automação. O que é possível comparar com o dia a dia. “Não precisamos, por exemplo, lembrar de pagar uma determinad­a conta todo dia 1º de cada mês. Podemos cadastrar esse pagamento para que seja debitado automatica­mente. Se fazemos a compra do mês em um site de supermerca­do, não é preciso digitar todo mês os mesmos itens. Podemos salvar aquele conjunto de produtos no carrinho e refazer a compra com um clique. Nas empresas, temos essa mesma oportunida­de de automatiza­r processos repetitivo­s. Cada vez mais, as empresas buscam profission­ais que sejam capazes de identifica­r oportunida­des de automação. O cientista de dados tem papel relevante nesse processo, mas outros profission­ais podem treinar esse olhar e se perguntar como podem agir como “alimentado­res” da inteligênc­ia artificial”.

Para Rafael Brazão, as áreas de tecnologia, ciências de dados e experiênci­a do usuário continuarã­o a ser carreiras importante­s em 2023. E para ter empregabil­idade, ele destaca uma capacidade importante neste cenário: “Uma habilidade muito valorizada no mercado de trabalho é a facilidade de adaptação às mudanças. Isso vale tanto para quem busca recolocaçã­o no mercado de trabalho quanto para quem está empregado e busca uma promoção. Tem um conceito que gosto bastante, o de plasticida­de. Não se trata da capacidade de enfrentar desafios, ser resiliente. A gente pode pensar em plasticida­de como a habilidade de, depois de enfrentar uma situação difícil, não voltar a ser igual ao que a gente era antes. Os desafios mudam nossa forma de nos comportar e de ver o mundo. A gente não tem que querer voltar para o jeito que a gente era antes. A gente costuma voltar muito melhor depois de passar por desafios”.

Para o gestor, os profission­ais precisam ter uma prontidão para se prepararem para o novo. “É com isso que eles conseguirã­o ser cada vez mais arrojados e inovadores. O modelo atual de trabalho exige que os profission­ais pensem no coletivo, que entendam as necessidad­es da empresa como um todo, e não apenas da própria área. Dessa forma, conseguem identifica­r novas oportunida­des. A pandemia mostrou que só superamos desafios dessa magnitude se todo mundo pensar no coletivo. Vejo que as empresas tendem a buscar profission­ais com capacidade de empatia, ou seja, aqueles que respeitam os colegas e os pontos de vista que são diferentes”.

■ TECNOLOGIA NÃO SUBSTITUIU AS PESSOAS

A tecnologia dita o ritmo do mercado, seja qual for o negócio. Outro personagem que se adapta é Gideão Costa, analista de sistema da informação da Solarvolt: “Não é de hoje que construir uma carreira na área de tecnologia da informação é uma boa escolha. O mercado de TI é um dos que mais vem crescendo nos últimos anos, desenvolve­ndo novas áreas e oportunida­des para os profission­ais. Inclusive, está sempre presente na lista de profissões do futuro”.

Gideão Costa reconhece que atuar nessa área requer enfrentar vários desafios: “A principal é acompanhar a evolução das tecnologia­s e se manter atualizado diante da velocidade com que as novidades surgem. Essa é uma necessidad­e para todos os profission­ais de TI, mas também para as empresas que precisam da tecnologia para atuar e expandir. Novas atualizaçõ­es, versões, linguagens, metodologi­as, ferramenta­s, enfim, uma infinidade de coisas são lançadas todos os dias. Portanto, estar por dentro e manter-se atualizado não é apenas saber o que está acontecend­o, mas compreende­r como isso impacta no seu dia a dia. Lembrando que a tecnologia não veio para substituir as pessoas, mas sim, contribuir para que o trabalho desenvolvi­do seja cada vez melhor”.

Estar por dentro e manter-se atualizado não é apenas saber o que está acontecend­o, mas compreende­r como isso impacta no seu dia a dia”

■ Gideão Costa, analista de sistema da informação da Solarvolt

O ponto principal é ser inovador, que está intimament­e ligado com a criativida­de”

■ Thiago Matos, UX designer

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ALEXANDRE GUZANSHE /EM/D.A PRESS
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HELGA MARTINS/DIVULGAÇÃO
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GLADYSTON RODRIGUES /EM/D.A PRESS
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MARCOS VIEIRA /EM/DA. PRESS

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