EXPOSIÇÃO EM BH REPASSA A CARREIRA DO QUADRINISTA VITOR CAFAGGI
Autor com a irmã, Lu Cafaggi, de séries da “Turma da Mônica”, ele exibirá também na Casa dos Quadrinhos páginas ainda inacabadas, para revelar seu processo de trabalho
“Desenhar é muito mais treino do que talento”, afirma o quadrinista Vitor Cafaggi, de 44 anos. Tal afirmação vem da experiência de anos como professor – ele contabiliza pelo menos 300 alunos, boa parte deles crianças. “Há aquelas que têm talento, mas são minoria absoluta. A grande maioria mesmo é treino”, diz.
A trajetória de Vitor Cafaggi – coautor com a irmã, Lu, das graphic novels
“Turma da Mônica: Laços” (2013) e “Turma da Mônica: Lições” (2015), ambos adaptados para o cinema – é prova disso. Ele desenha desde a infância. No entanto, abraçou a carreira tardiamente para os padrões do mercado. Tinha 30 anos quando abandonou o design gráfico para se dedicar integralmente aos quadrinhos.
“Passos valentes!”, exposição que será aberta nesta segunda-feira (30/1) na Casa dos Quadrinhos, repassa a carreira de Cafaggi. É a primeira individual do mineiro, que se notabilizou também pelo cão Valente. Tímido e à procura do amor de sua vida, o personagem da tirinha homônima, publicada por uma década no jornal “O Globo”, já rendeu alguns livros.
“Foram escolhidas peças que mostram de tudo um pouco, desde o início da carreira com ‘Puny Parker’ (publicada em blog) até ‘Franjinha: Contato’, que saiu no ano passado. A ideia não é mostrar somente o produto final, mas falar também do processo. Tem páginas sem cores e referências que uso, como livros teóricos, materiais e bonecos”, explica Cafaggi. A mostra também vai contar com vídeos com entrevistas e esculturas de seus personagens feitas pelo artista Eddie Vieira.
PAPEL Suas histórias são criadas no papel e finalizadas no computador. “O primeiro esboço é sempre no papel”, diz ele que, mesmo tendo tido aulas de desenho no curso de design na UEMG, encontrou seu próprio traço na base do treino constante, em casa.
O convite para participar da série “MSP 50 artistas” (2010), em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa, foi um divisor de águas – a série ainda rendeu um terceiro título, “Turma da Mônica: Lembranças” (2017). E o projeto também tem uma ligação pessoal com a família Cafaggi.
Na infância, ele leu muito as aventuras da “Turma da Mônica”, já que eram as preferidas do irmão mais velho. “Eu era uma criança muito sozinha, tímida, então a companhia que tinha eram as revistinhas.” Dez anos mais velho que a irmã caçula, ele a via no início da adolescência lendo as mesmas histórias. “Quando veio o convite para a graphic novel, achei que seria como brincar com os amigos da infância.” Os três títulos foram assinados com a irmã, Lu.
Para ele, o que mais chama a atenção na produção nacional de quadrinhos é a diversidade. “À exceção da ‘Turma da Mônica’, o quadrinho é pouco visto pelo público em geral. As publicações são independentes e eventos como o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos, realizado bienalmente em BH) mostram como a cena é grande. Tem quadrinho de tudo que é gênero, formato, tamanho, preço. Qualquer pessoa que for a um evento como este vai encontrar um quadrinho que ‘conversa’ com ele, não importa a idade”, comenta.