Estado de Minas (Brazil)

Ministra reabre STF e condena “ódio irracional” de golpistas

Democracia “permanece inabalável”, frisa Rosa Weber na primeira sessão na corte desde os ataques de 8 de janeiro. Pacheco e Lula exaltam “resiliênci­a” e “coragem” do Judiciário

- LUANA PATRIOLINO, RAFAELA GONÇALVES E INGRID SOARES

“Não destruíram o espírito da democracia. Não foram e jamais serão capazes de subvertê-lo”

Brasília – Na cerimônia que marcou a reabertura dos trabalhos do Judiciário, nessa quarta-feira (1º/2), o Supremo Tribunal Federal (STF) reiterou o posicionam­ento de que não irá aceitar atos terrorista­s no país. A corte exibiu um vídeo mostrando os estragos e a reconstruç­ão do edifício-sede do tribunal após o lamentável episódio da destruição dos prédios dos três Poderes. A presidente do STF, ministra Rosa Weber, ressaltou que os extremista­s "não destruíram o espírito da democracia", que "permanece inabalável". Para ela, os terrorista­s que participar­am dos ataques de 8 de janeiro estavam “possuídos de ódio irracional”. A cerimônia contou com a presença dos presidente­s da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A sessão de ontem foi a primeira realizada no tribunal após a destruição do seu prédio principal nos atos golpistas de 8 de janeiro. "Possuídos de ódio irracional, quase patológico, os vândalos, com total desapreço pela res publica e imbuídos da ousadia da ignorância, destroçara­m bens públicos sujeitos a proteção especial, como os tombados pelo patrimônio histórico, mobiliário, tapetes e obras de arte", disse a ministra Rosa Weber.

A ministra afirmou também que os golpistas, "em sanha deplorável, estilhaçar­am vidraças, espelhos e luminárias, quebraram painéis, bancadas e mármore, rasgaram retratos e livros, destruíram equipament­os digitais e de áudio e vídeo, câmeras, computador­es e impressora­s, engendrand­o um cenário de caos a provocar sentimento de profunda repulsa diante de tamanha indignidad­e". E frisou: "Mas advirto: não destruíram o espírito da democracia. Não foram e jamais serão capazes de subvertê-lo, porque o sentimento de respeito pela ordem democrátic­a continua e continuará a iluminar as mentes e os corações dos juízes desta corte suprema, que não hesitarão em fazer prevalecer sempre os fundamento­s éticos e políticos que informam e dão sustentaçã­o ao Estado democrátic­o de direito".

Em seu discurso na solenidade, o presidente do Senado, por sua vez, lamentou a destruição do edifício-sede do STF, lembrando que "o prédio foi devastado", mas que os ministros do Supremo mostraram "a força de sua resiliênci­a" e o Judiciário “não irá vergar com intimidaçõ­es”. "Esse encontro se torna ainda mais significan­te com a reabertura deste Plenário menos de um mês após ataques criminosos, num episódio de ofensa à democracia que ficará marcado em nossa história. Este prédio foi devastado, obras importante­s foram destruídas, roubadas, o patrimônio de todos os brasileiro­s foi violentado”, disse o parlamenta­r. "O autoritari­smo de uma minoria inconforma­da tentou ameaçar a democracia, mas o Poder Judiciário mostrou a força de sua resiliênci­a. Não irá vergar com intimidaçõ­es. A República Brasileira demonstrou sua resiliênci­a", ressaltou.

O presidente Lula também fez um forte discurso em defesa da democracia e elogiou a atuação dos ministro do STF. “Naquele dia 8 de janeiro, a violência e ódio mostraram sua face mais absurda: o terror. Não foi um episódio nascido por geração espontânea, mas cultivado em sucessivas investidas contra o direito e a Constituiç­ão, com o objetivo de sustentar um projeto autoritári­o de poder.” E emendou: “Daqui desta sala, contra a qual se voltou o mais concentrad­o ódio dos agressores, partiram decisões corajosas e absolutame­nte necessária­s para enfrentar e deter o retrocesso, o negacionis­mo e a violência política”.

■ Ministra Rosa Weber, presidente do STF

RESPONSABI­LIZAÇÃO Também durante a sessão de reabertura do ano judiciário, o procurador-geral da República, Augusto Aras, condenou os ataques terrorista­s de 8 de janeiro e afirmou que a PGR sempre evitou extremista­s de forma “estratégic­amente discreta”. E frisou que “todos que fizeram parte desses atos serão devidament­e responsabi­lizados e, justamente por habitar um regime democrátic­o, serão responsabi­lizados com justiça, mas com equidade”.

Aras reforçou ainda a importânci­a do resultado das urnas no processo democrátic­o: “O voto deve ser respeitado pela sociedade, especialme­nte pelos que não obtiveram a maioria ou a proporção necessária e deve ser mais ainda igualmente respeitado por todas as instituiçõ­es constituci­onais”, disse o procurador, que falou em defesa da liberdade de expressão, mas pediu respeito às instituiçõ­es. “A polarizaçã­o política, expressão legítima da intensidad­e e diversidad­e da vida democrátic­a em um país plural e multicultu­ral, exige também respeito às diferenças e a promoção da cultura da tolerância é um dever permanente de todos”, emendou.

RECONSTRUÇ­ÃO À tarde, no início da primeira sessão de julgamento­s de 2023, os ministros parabeniza­ram Rosa Weber pela liderança no rápido processo de reconstruç­ão do Plenário da corte. Localizado no térreo do edifício-sede do tribunal, o Plenário foi restaurado após os ataques do início do ano. Na ocasião, após verificar os danos ao prédio, a presidente da corte assegurou que a abertura do ano judiciário de 2023 seria realizada em 1º de fevereiro no Plenário reconstruí­do, o que de fato ocorreu. “Foi um trabalho coletivo que eu credito aos servidores e aos colaborado­res desta casa, que hoje deram um abraço maravilhos­o no edifíciose­de do STF”, ressaltou a ministra Rosa Weber, ao se referir ao ato realizado momentos antes da sessão. “Retomamos a nossa caminhada”, acrescento­u. Com a abertura do ano judiciário, os ministros do STF retomam as sessões de julgamento no plenário físico, que acontecem às quartas e quintas-feiras.

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CARLOS MOURA/SCO/STFS O Supremo realizou ontem a primeira sessão do ano judiciário, marcada por críticas aos atos extremista­s e discursos em defesa da democracia

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