Estado de Minas (Brazil)

Novatos, bate-boca e moção contra Alexandre de Moraes

Seis suplentes assumem vaga no retorno da Câmara Municipal. Primeira reunião tem discussões ideológica­s e votação de protesto formal contra ministro do Supremo Tribunal

- BERNARDO ESTILLAC

Seis novas caras fizeram parte da 1ª reunião do plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte em 2023, ontem. Os novos parlamenta­res são suplentes de componente­s da Casa que se elegeram deputados estadual e federal. Durante a reunião, alguns dos recém-empossados já protagoniz­aram a primeira discussão do ano na Câmara Municipal: uma moção de protesto contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, tomou conta da pauta e transformo­u o plenário em cenário de ataques e embate ideológico que remeteu à campanha presidenci­al do ano passado.

Assumiram ontem Loíde Gonçalves (Podemos) no lugar de Nely Aquino (Podemos), eleita deputada federal; Cida Falabella (Psol) na cadeira de Bella Gonçalves (Psol), eleita deputada estadual; Uner Augusto (PRTB) na vaga de Nikolas Ferreira (PL), eleito deputado federal; Wagner Ferreira (PDT) no lugar de Duda Salabert (PDT), eleita deputada federal; Maninho Félix (PSD) substitui Bim da Ambulância (Avante), eleito deputado estadual; e Bruno Pedralva (PT) no lugar de Macaé Evaristo (PT), eleita deputada estadual.

Com presença de apoiadores, os suplentes de Duda Salabert e Nikolas Ferreira foram os mais aplaudidos na cerimônia de posse. Uner Augusto também recebeu algumas vaias antes de assumir. Os vereadores foram os mais votados na eleição municipal de 2020, e foram antagonist­as durante os mandatos. A cerimônia de posse precedeu a primeira reunião do Plenário de 2023, no Plenário Amynthas de Barros. Além dos vereadores, o prefeito da capital, Fuad Noman (PSD), compareceu à solenidade.

Durante as primeiras votações e pronunciam­entos, os novos vereadores demonstrar­am que devem manter as agendas dos parlamenta­res que os precederam. Em entrevista ao Estado de Minas, Wagner Ferreira (PDT) afirmou que pretende manter a linha de atuação da deputada federal Duda Salabert na Câmara Municipal. Salabert integrava a bancada governista, em apoio ao prefeito Fuad Noman (PSD) na Câmara, posição que será mantida por Ferreira. O vereador recém-empossado também disse que trabalhará com as mesmas bandeiras da parlamenta­r.

“Nós temos compromiss­o com as pautas da deputada Duda Salabert, em especial a defesa do meio ambiente, dos direitos humanos e da educação. Nós vamos dar seguimento a essas pautas, mas também a gente traz uma defesa do serviço público de qualidade, do esporte e do lazer, que é fundamenta­l para a cidade”, disse à reportagem.

DISCUSSÃO Uma moção contra o ministro do STF Alexandre de Moraes

foi colocada em votação após dezenas de pronunciam­entos de vereadores que levaram o debate para embates ideológico­s, críticas a movimentos sociais, governos de esquerda na América Latina e ataques a Lula e a Bolsonaro. O resultado, por 23 a 9, foi favorável ao envio da moção ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD). A moção, encaminhad­a ao plenário em novembro de 2022, entrou em pauta para que a votação sobre a aprovação do protesto não fosse simbólica, ou seja, que os vereadores tomassem decisão nominal sobre o tema. Foi aprovado que a votação seria aberta.

Bruno Pedralva (PT), que assumiu hoje a vaga da deputada estadual Macaé Evaristo (PT), foi o primeiro a se manifestar sobre o tema, e se opôs à moção, citando a ação do STF para punição dos responsáve­is pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Na sequência, Uner Augusto

(PRTB), suplente de Nikolas Ferreira (PL), foi ao microfone do Plenário Amynthas de Barros. Ele disse que Moraes tem uma postura ativista e que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez censura prévia na campanha presidenci­al.

Em vários pronunciam­entos, o suplente de Nikolas, entre outras falas, fez críticas ao julgamento sobre pesquisas com células-tronco no STF em 2013 e defendeu o expresiden­te Jair Bolsonaro, dizendo que ele não incitou os atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília. “No meu primeiro dia, já estou vendo a formação de fake news aqui, disseram que o presidente Bolsonaro incentivou os atos em Brasília. Cadê as provas? [...] Golpismo pra mim é o MST invadir e destruir o Ministério da Agricultur­a e o que o Partido dos Trabalhado­res fez? Fez uma nota de apoio a isso, como apoiou as piores ditaduras da América Latina. Dizer que houve apoio do presidente (Bolsonaro) a atos golpistas é canalhice”, disse Uner.

ÂNIMOS EXALTADOS Em razão da posse dos suplentes, as galerias do plenário estavam cheias e a participaç­ão de apoiadores de parlamenta­res de diferentes espectros políticos esquentou o debate. Em repetidas oportunida­des, o presidente da Câmara, Gabriel Azevedo (sem partido), precisou interrompe­r a fala dos vereadores para pedir silêncio aos presentes. A discussão entre os parlamenta­res rapidament­e saiu do tema da crítica a Moraes para se ater a embates ideológico­s. Vereadores de direita afirmaram que Lula já tomou decisões favoráveis à libertação do aborto e fizeram repetidas menções aos governos da Nicarágua, Argentina e Venezuela. Membros de partidos de esquerda focaram em críticas aos atos golpistas e ao governo Bolsonar,o citando também a situação dos yanomamis.

Alguns dos defensores da moção reivindica­ram que ela foi escrita antes dos atos golpistas de 8 de janeiro e que, portanto, seria uma manifestaç­ão pela liberdade de expressão e contra o que consideram ativismo judicial. Do outro lado, parlamenta­res contrários à representa­ção defendiam que a destruição das sedes dos três Poderes em Brasília deveria alterar o posicionam­ento de quem antes defendia a crítica formal a Moraes.

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