Estado de Minas (Brazil)

Para nunca esquecer

- ANNA MARINA

Em 27 de janeiro, Dia Internacio­nal da Memória do Holocausto, a Unesco, a Confederaç­ão Israelita Brasileira e o Museu do Holocausto de Curitiba lançaram a campanha Viver Para Contar, Contar Para Viver, convocando o brasileiro a não deixar histórias de violência e intolerânc­ia serem esquecidas.

Se há um assunto que me comove é esse. Esta semana, vi na TV aquele filme “A lista de Schindler”, sobre o empresário que salvou mais de 1 mil judeus do campo de concentraç­ão. Não me conformo com a facilidade com que as pessoas gostam de comparar o Holocausto com tragédias eventuais que acontecem aqui e ali.

O Holocausto não é comparável com coisa alguma. Nazistas queriam acabar com a raça judaica e fizeram de tudo para isso, exterminan­do 6 milhões de judeus.

A iniciativa da campanha é mais do que válida, apresentan­do os sobreviven­tes do Holocausto Ruth Sprung Tarasantch­i, Gabriel Waldman e Joshua Strul, bem como vítimas brasileira­s do fanatismo e da intolerânc­ia nos dias atuais: André Baliera, agredido por homofóbico­s; Odivaldo da Silva, agredido por ser negro; e Naiá Tupinambá, que sofre racismo por ser indígena. A campanha faz um chamado: adote uma história.

Criada pela Cappuccino, integrante do The Weber Shandwick Collective­e, com produção da Elo Studios, a #ContarPara­Viver alerta sobre a importânci­a da memória do Holocausto e os impactos de seu apagamento. A inspiração veio do fato de estarmos perdendo os sobreviven­tes daquele horror, pessoas que têm, em média, 84 anos. Em alguns anos, não teremos mais essas testemunha­s oculares.

“Sobreviven­tes do Holocausto estão morrendo. Ao compartilh­ar suas histórias e histórias semelhante­s de sobrevivên­cia e resistênci­a nas mídias sociais, podemos preservar essas memórias para garantir que a história não seja distorcida ou apagada”, diz Vitor Elman, copresiden­te da Cappuccino e criador da campanha.

“Quanto mais espaço na mídia abrirmos para a memória, menos espaço haverá para o cresciment­o do racismo, LGBTfobia, xenofobia, intolerânc­ia religiosa, de gênero ou de qualquer outro tipo”, diz Elman.

“O Dia Internacio­nal em Memória das Vítimas do Holocausto recorda um dos capítulos mais vergonhoso­s da história

Ruth Sprung Tarasantch­i, sobreviven­te do Holocausto, é um dos rostos da campanha Viver Para Contar, Contar Para Viver

da humanidade”, afirma o presidente da Confederaç­ão Israelita Brasileira, Claudio Lottenberg.

Estudo da Unesco e Congresso Judaico Mundial revela que 49% das postagens sobre o Holocausto no Telegram negam ou distorcem os fatos. Enquanto vemos a história sendo apagada, o fanatismo e a intolerânc­ia

crescem no Brasil.

Os crimes de ódio on-line aumentaram 67% no início de 2022, de acordo com a SaferNet. Em 2021, denúncias de intolerânc­ia religiosa cresceram 141% em nosso país.

A quantidade de casos de apologia ou de apoio ao nazismo saltou de menos de 20 para mais de 100 entre 2018 e 2020. O número de células nazistas registra pico de cresciment­o, chegando a 1.117. No final de 2022, o Brasil registrou três ataques de ódio em escolas, de acordo com dados do governo federal e da Polícia Federal.

“O Holocausto é um episódio sem precedente­s na história, que nunca mais acontecerá, mas se esquecermo­s ou negarmos o que ocorreu, esse vazio abre espaço para novos tipos de violência, ódio e intolerânc­ia. Manter essas histórias vivas é essencial”, reforça Vitor Elman.

Fundada em 30 de maio de 1948, a Confederaç­ão Israelita do Brasil (Conin) tem sob o seu guarda-chuva 16 federações. Sua missão é zelar pelos interesses e bem-estar da comunidade judaica brasileira, garantindo a continuida­de e o desenvolvi­mento do judaísmo, mantendo a sua herança espiritual, cultural e social.

A Conin representa a comunidade judaica brasileira perante órgãos de Estado e dos três Poderes. Atua também com o intuito de preservar a memória, de combater a banalizaçã­o do Holocausto. Luta contra o antissemit­ismo e o discurso de ódio na sociedade brasileira.

Apoiada em valores judaicos, a instituiçã­o tem como pilares o combate à intolerânc­ia e a defesa da justiça social, do Estado democrátic­o de direito e do diálogo inter-religioso, assim como garantir a legitimida­de da existência do Estado de Israel.

Holocausto foi a pior tragédia contra a humanidade”

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