“O diálogo tem de existir”
Deputado Tadeu Martins Leite (MDB), o Tadeuzinho, é eleito presidente da Assembleia Legislativa, defende uma boa relação com o governo e destaca a construção de consensos
Eleito presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ontem, o deputado estadual Tadeu Martins Leite (MDB) disse que a relação com o governador Romeu Zema (Novo) é a "melhor possível". Candidato único, Tadeuzinho – como é chamado pelos colegas – afirmou que a ideia é colocar em tramitação projetos considerados importantes para o Executivo, entregando a decisão a respeito deles ao conjunto de deputados. Tanto no Palácio da Inconfidência, sede da Assembleia, quanto no Palácio Tiradentes, edifício onde Zema dá expediente, a ideia é deixar para trás as recentes tensões entre os Poderes estaduais e construir relações baseadas em permanentes conversas. "Diálogo", aliás, foi a palavra utilizada por Zema e Tadeuzinho para projetar a convivência entre eles.
Tadeuzinho foi eleito com os votos de todos os 75 parlamentares aptos para a eleição de ontem, ocorrida minutos após a posse dos componentes da nova legislatura. A chapa dele se tornou a única do pleito na semana passada, quando o núcleo de articulação política de Zema desistiu de emplacar uma candidatura própria e passou a defender a unificação. Roberto Andrade (Patriota) e, depois, Duarte Bechir (PSD) eram os nomes desejados pelo governo. Os movimentos, porém, não ganharam musculatura suficiente para vingar.
Logo depois de assentar pela primeira vez na cadeira de presidente, Tadeuzinho negou estremecimentos com o secretário de Estado de Governo, Igor Eto. Foi ele o responsável por comandar as conversas por uma chapa situacionista. “Minha relação com o secretário de Governo e com o governo é a melhor possível. O diálogo tem de existir. A questão sobre outras candidaturas passou”, disse o emedebista, na primeira entrevista como chefe do Legislativo. “Não existem perdedores ou ganhadores. Conseguimos construir consenso por uma candidatura única para que, ao final, todos os deputados fossem contemplados”, completou.
Zema esteve na Assembleia para assistir à posse dos deputados. Depois, comentou o resultado da eleição interna da Casa. “Tenho certeza que, com diálogo, teremos Minas Gerais avançando nos próximos quatro anos. O trabalho da
Assembleia Legislativa e de seu presidente é de fundamental importância”, assinalou. Segundo o político do Novo, o Poder Executivo é “totalmente aberto e receptivo” às sugestões do Legislativo. “O que queremos é que os Poderes mantenham suas respectivas autonomias para fazermos um trabalho em conjunto pelo bem do povo mineiro”, assegurou.
O consenso em torno de Tadeuzinho refletiu na distribuição dos outros cargos da Mesa Diretora. Além do MDB, seis partidos – PT, PV, PSD, PL, PDT e Cidadania – vão ser representados na cúpula da Casa. A 1ª vice-presidência, por exemplo, ficou com a petista Leninha. Mulher negra, ela valorizou a representatividade de raça e gênero inerentes à escolha. Há 26 anos que uma deputada não exercia um cargo na Mesa. “Falamos que a gente não vai voltar para a senzala. Já reafirmamos que temos capacidade e condições de construir o que chamamos de melhor política. Queremos que as vozes silenciadas, durante muito tempo, pelo machismo, pelo racismo, pelos preconceitos também possam ser ouvidas pelo Parlamento”, defendeu.
Segundo Tadeuzinho, o objetivo é começar uma “nova relação” com os Poderes. “Quando os deputados, governistas ou da oposição, apontam um caminho, é porque conhecem, de fato, os problemas do estado. Escutá-los é muito importante”, pregou.
NEGOCIAÇÃO DE BLOCOS Passada a eleição, os deputados voltam as atenções à formação dos blocos parlamentares. A divisão dos deputados entre coalizões vai nortear, inclusive, a escalação das comissões temáticas. Nos bastidores da Assembleia, segundo deputados ouvidos pelo Estado
de Minas, há expectativa pela formação de três blocos: um governista, outro de orientação independente em relação a Zema e um terceiro, de oposição.
Na aliança pró-Zema, além do Novo, devem ficar partidos como PP, Patriota, Podemos, Solidariedade e Republicanos. O segundo bloco, embora oficialmente seja chamado de independente, vai misturar, em sua composição, parlamentares que, de fato, não têm posição fixa a respeito do governo a outros que, na prática, vão votar com o governo – é o caso, por exemplo, do PL. Com nove deputados, o partido é simpático a Zema e vai dar os votos necessários ao Executivo em pautas de relevância. Apesar disso, ainda não definiu o bloco que vai engrossar.
O PDT, por sua vez, deve seguir à risca a ideia de ser independente. Eleito 2º secretário da Mesa da Assembleia, o pedetista Alencar da Silveira Júnior disse crer que as redes sociais e a necessidade de emplacar pautas segmentadas, como as demandas classistas, demandam a formação de uma coalizão que preze pela independência. “A política mudou. Antigamente, era governo e oposição. Não havia outro. Era o PT e o bloco de governo”, defendeu. “Tem que ter um bloco independente”, emendou.
O Cidadania, que forma uma federação com o PSDB e, por isso, precisa estar no mesmo bloco que os tucanos, não sabe se vai engrossar a aliança independente ou o grupo ligado ao Palácio Tiradentes. “O objetivo do Cidadania no processo é colaborar para a formação do que for melhor para o governo, para a Mesa e para a presidência da Casa”, explicou João Vítor Xavier, presidente estadual do partido e 3º secretário da Assembleia. “Os três (deputados) do Cidadania, que formam a maioria da federação, se consideram da base de governo, vão votar com o governo e apoiá-lo em tudo o que for bom para o estado”, completou, em menção aos colegas Bosco e Raul Belém.
Na oposição, os cálculos apontam a presença de 20 parlamentares, filiados de PT, PCdoB, PV, Rede e Psol. “Nós, com certeza, manteremos o papel responsável de fazer resistência àquilo que não é bom para a maioria dos mineiros e mineiras, para os trabalhadores e trabalhadoras”, projetou Leninha.
Não existem perdedores ou ganhadores. Conseguimos construir consenso por uma candidatura única para que, ao final, todos os deputados fossem contemplados
Tadeu Martins Leite (MDB), presidente da ALMG