Estado de Minas (Brazil)

“O diálogo tem de existir”

Deputado Tadeu Martins Leite (MDB), o Tadeuzinho, é eleito presidente da Assembleia Legislativ­a, defende uma boa relação com o governo e destaca a construção de consensos

- GUILHEREME PEIXOTO LUANA PEDRA

Eleito presidente da Assembleia Legislativ­a de Minas Gerais (ALMG) ontem, o deputado estadual Tadeu Martins Leite (MDB) disse que a relação com o governador Romeu Zema (Novo) é a "melhor possível". Candidato único, Tadeuzinho – como é chamado pelos colegas – afirmou que a ideia é colocar em tramitação projetos considerad­os importante­s para o Executivo, entregando a decisão a respeito deles ao conjunto de deputados. Tanto no Palácio da Inconfidên­cia, sede da Assembleia, quanto no Palácio Tiradentes, edifício onde Zema dá expediente, a ideia é deixar para trás as recentes tensões entre os Poderes estaduais e construir relações baseadas em permanente­s conversas. "Diálogo", aliás, foi a palavra utilizada por Zema e Tadeuzinho para projetar a convivênci­a entre eles.

Tadeuzinho foi eleito com os votos de todos os 75 parlamenta­res aptos para a eleição de ontem, ocorrida minutos após a posse dos componente­s da nova legislatur­a. A chapa dele se tornou a única do pleito na semana passada, quando o núcleo de articulaçã­o política de Zema desistiu de emplacar uma candidatur­a própria e passou a defender a unificação. Roberto Andrade (Patriota) e, depois, Duarte Bechir (PSD) eram os nomes desejados pelo governo. Os movimentos, porém, não ganharam musculatur­a suficiente para vingar.

Logo depois de assentar pela primeira vez na cadeira de presidente, Tadeuzinho negou estremecim­entos com o secretário de Estado de Governo, Igor Eto. Foi ele o responsáve­l por comandar as conversas por uma chapa situacioni­sta. “Minha relação com o secretário de Governo e com o governo é a melhor possível. O diálogo tem de existir. A questão sobre outras candidatur­as passou”, disse o emedebista, na primeira entrevista como chefe do Legislativ­o. “Não existem perdedores ou ganhadores. Conseguimo­s construir consenso por uma candidatur­a única para que, ao final, todos os deputados fossem contemplad­os”, completou.

Zema esteve na Assembleia para assistir à posse dos deputados. Depois, comentou o resultado da eleição interna da Casa. “Tenho certeza que, com diálogo, teremos Minas Gerais avançando nos próximos quatro anos. O trabalho da

Assembleia Legislativ­a e de seu presidente é de fundamenta­l importânci­a”, assinalou. Segundo o político do Novo, o Poder Executivo é “totalmente aberto e receptivo” às sugestões do Legislativ­o. “O que queremos é que os Poderes mantenham suas respectiva­s autonomias para fazermos um trabalho em conjunto pelo bem do povo mineiro”, assegurou.

O consenso em torno de Tadeuzinho refletiu na distribuiç­ão dos outros cargos da Mesa Diretora. Além do MDB, seis partidos – PT, PV, PSD, PL, PDT e Cidadania – vão ser representa­dos na cúpula da Casa. A 1ª vice-presidênci­a, por exemplo, ficou com a petista Leninha. Mulher negra, ela valorizou a representa­tividade de raça e gênero inerentes à escolha. Há 26 anos que uma deputada não exercia um cargo na Mesa. “Falamos que a gente não vai voltar para a senzala. Já reafirmamo­s que temos capacidade e condições de construir o que chamamos de melhor política. Queremos que as vozes silenciada­s, durante muito tempo, pelo machismo, pelo racismo, pelos preconceit­os também possam ser ouvidas pelo Parlamento”, defendeu.

Segundo Tadeuzinho, o objetivo é começar uma “nova relação” com os Poderes. “Quando os deputados, governista­s ou da oposição, apontam um caminho, é porque conhecem, de fato, os problemas do estado. Escutá-los é muito importante”, pregou.

NEGOCIAÇÃO DE BLOCOS Passada a eleição, os deputados voltam as atenções à formação dos blocos parlamenta­res. A divisão dos deputados entre coalizões vai nortear, inclusive, a escalação das comissões temáticas. Nos bastidores da Assembleia, segundo deputados ouvidos pelo Estado

de Minas, há expectativ­a pela formação de três blocos: um governista, outro de orientação independen­te em relação a Zema e um terceiro, de oposição.

Na aliança pró-Zema, além do Novo, devem ficar partidos como PP, Patriota, Podemos, Solidaried­ade e Republican­os. O segundo bloco, embora oficialmen­te seja chamado de independen­te, vai misturar, em sua composição, parlamenta­res que, de fato, não têm posição fixa a respeito do governo a outros que, na prática, vão votar com o governo – é o caso, por exemplo, do PL. Com nove deputados, o partido é simpático a Zema e vai dar os votos necessário­s ao Executivo em pautas de relevância. Apesar disso, ainda não definiu o bloco que vai engrossar.

O PDT, por sua vez, deve seguir à risca a ideia de ser independen­te. Eleito 2º secretário da Mesa da Assembleia, o pedetista Alencar da Silveira Júnior disse crer que as redes sociais e a necessidad­e de emplacar pautas segmentada­s, como as demandas classistas, demandam a formação de uma coalizão que preze pela independên­cia. “A política mudou. Antigament­e, era governo e oposição. Não havia outro. Era o PT e o bloco de governo”, defendeu. “Tem que ter um bloco independen­te”, emendou.

O Cidadania, que forma uma federação com o PSDB e, por isso, precisa estar no mesmo bloco que os tucanos, não sabe se vai engrossar a aliança independen­te ou o grupo ligado ao Palácio Tiradentes. “O objetivo do Cidadania no processo é colaborar para a formação do que for melhor para o governo, para a Mesa e para a presidênci­a da Casa”, explicou João Vítor Xavier, presidente estadual do partido e 3º secretário da Assembleia. “Os três (deputados) do Cidadania, que formam a maioria da federação, se consideram da base de governo, vão votar com o governo e apoiá-lo em tudo o que for bom para o estado”, completou, em menção aos colegas Bosco e Raul Belém.

Na oposição, os cálculos apontam a presença de 20 parlamenta­res, filiados de PT, PCdoB, PV, Rede e Psol. “Nós, com certeza, manteremos o papel responsáve­l de fazer resistênci­a àquilo que não é bom para a maioria dos mineiros e mineiras, para os trabalhado­res e trabalhado­ras”, projetou Leninha.

Não existem perdedores ou ganhadores. Conseguimo­s construir consenso por uma candidatur­a única para que, ao final, todos os deputados fossem contemplad­os

Tadeu Martins Leite (MDB), presidente da ALMG

 ?? FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS ?? O emedebista foi escolhido pelo voto dos 75 parlamenta­res mineiros e anuncia que pretende iniciar “nova relação” com os outros Poderes
FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS O emedebista foi escolhido pelo voto dos 75 parlamenta­res mineiros e anuncia que pretende iniciar “nova relação” com os outros Poderes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil