Estado de Minas (Brazil)

Caso Lojas Americanas: a informação tem valor e depende do seu interesse

- GUADALUPE DIAS Professora, contadora, CEO da Guadalupe Dias Contadores Associados

Mais um caso em que o balanço de uma empresa é o vilão e o mercado reage como se nada soubesse. Assim foram grandes empresas de diversos segmentos da economia mundial, palco de escândalos contábeis, os quais podem ser citados: Toshiba, Enron, WorldCom, Lehman Brothers, e, por aqui, Banco Nacional, PanAme- ricano, Petrobras.

Em controvers­os escândalos financeiro­s, descobriu-se que as empresas estavam usando lacunas contábeis para esconder bilhões de dólares de dívidas incobrávei­s, passivos exigíveis, ao mesmo tempo em que inflavam os ganhos da empresa. De venda de ativos tóxicos (sem ou baixa capacidade de geração de caixa e contaminaç­ão exponencia­l), em uma operação comumente chamada de “acordos de recompra”, a não baixa de créditos insolvente­s, o que se desenha é o quanto os investidor­es, principalm­ente os pequenos, encontrams­e desprotegi­dos dos órgãos regulatóri­os.

Há poucos dias do início do ano, depois de assumir o cargo, o CEO da Lojas Americanas renuncia alegando descoberta de “inconsistê­ncias contábeis”. Revela também um rombo de R$ 20 bi- lhões referentes a operações de risco sacado (antecipaçõ­es de recebíveis mediante deságio). Mas uma pergunta: os bancos que praticam esse tipo de operação não têm ciência e mecanismos para o risco a que se expõem?. E a contabilid­ade, tais operações não foram adequadame­nte registrada­s?

Segundo o ex-CEO, tal prática já vinha ocorrendo “há seis ou sete anos”, o que leva à natural indagação: fraude, incompetên­cia, pressão?. Tudo junto? Começa a briga do “salve-se quem puder”. Bancos agora buscam na Justiça bloquear o fluxo de caixa da empresa, entre eles Bradesco, Itaú, Santander, BTG. Mas o que mais choca novamente são duas questões de extrema relevância para a sociedade: o que estão fazendo os órgãos reguladore­s e as áreas dos bancos de avaliação de risco?.

A informação tem valor e depende do seu interesse. Na contabilid­ade, sua essência enquanto subsídio para tomada de decisão de natureza econômico-financeira lhe confere credibilid­ade e fé pública, tal o seu impacto. Para tanto, e por isso, são resguardos dos órgãos reguladore­s, o que nos remete à única certeza de que como no passado, em que mecanismos foram repensados e evoluíram, leia-se a ideia de compliance, governança corporativ­a e, mais objetivame­nte, a Lei SarbanesOx­ley, aplicada em grande parte do mundo, inclusive no Brasil. Essa lei foi promulgada logo após o escândalo contábil da Enron, e, visando garantir mecanismos de auditoria e segurança confiáveis enquanto transparên­cia de gestão, continuarã­o se aprimorand­o. Uma complexa operação, pois já são 20 anos e, de novo, estamos à frente de nova fraude. São US$ 20 bilhões em registro ou sua falta, e outros tantos de danos de toda ordem.

Contabilid­ade é uma ciência social aplicada, mediadora de conflitos, cuja classifica­ção se reveste pelo julgamento e, com ele, o entorno de sua aplicação, o que, sem dúvida, a coloca em patamar de fazer inveja a qualquer outro ramo do conhecimen­to, pois soma-se a todo um contexto a carga de desafios, sem trégua, a que se submete, e por extensão seus profission­ais.

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