Estado de Minas (Brazil)

Abel e outros esquentadi­nhos do futebol

- >>tirolivre.mg@diariosass­ociados.com.br ESTA COLUNA É PUBLICADA ÀS SEXTAS-FEIRAS

Nesta semana, o noticiário esportivo deixou um pouco de lado competiçõe­s e jogadores – e isso irritou muito o personagem central das discussões: o técnico Abel Ferreira, do Palmeiras. Multicampe­ão, o mais vencedor treinador dos últimos anos no Brasil, Abel se viu alvo dos debates não só pela sua capacidade de fazer o time paulista empilhar títulos. Foi o temperamen­to (ou o destempero) que direcionou os holofotes para ele.

Abel não gostou de ser criticado pelo comportame­nto na vitória sobre o Flamengo (4 a 3), que garantiu a taça da Supercopa do Brasil, no Mané Garrincha. Num ato de fúria, ao reclamar da arbitragem, chutou um microfone da transmissã­o e recebeu o cartão vermelho. Ele já havia sido advertido com o cartão amarelo e João Martins, um de seus auxiliares, foi expulso mais cedo, na mesma partida.

O nível de ira do treinador impression­ou: a forma como ele foi tomado pela raiva, e a maneira como a descontou em um impávido objeto. Abel parecia descontrol­ado. Parecia, não, por alguns segundos ele se descontrol­ou, chocando quem assistia ao jogo.

Não é a primeira vez que o português deixa o sangue quente roubar a cena. A contagem de cartões recebidos por ele desde que começou a trabalhar no Brasil, em 2020, é prova: foi advertido 41 vezes, recebendo 35 amarelos e sofrendo seis expulsões.

Nessa quarta-feira, ele se manifestou sobre o assunto. Reconheceu que o “comportame­nto passou dos limites” e que precisa melhorar. Até aí, tudo bem. A escorregad­a veio quando quis usar exemplo de outros famosos que já foram flagrados em atitudes antidespor­tivas. Disse Abel: “Não fiz nada que o Guardiola não tenha feito, que o Klopp, Mourinho, Roger Federer, Ayrton Senna e (Alain) Prost, disputando um título e batendo um no outro”.

Em entrevista ao programa “Roda viva”, em março do ano passado, Abel se definiu como uma pessoa “verdadeira, frontal e de coração mole”. Acrescento­u: “Sou extremamen­te calmo fora (de campo), gosto de dormir, ler, cuidar das plantas de casa”. Sobre os arroubos em campo, fez uma ressalva: “Aquele não sou eu, aquele é o treinador”. Em outras palavras, quis dizer que ele é muito mais do que situações isoladas vividas enquanto profission­al do futebol.

Aquele chute de Abel no microfone fez lembrar a voadora que Adílson Batista, então comandante do Cruzeiro, deu em uma placa de publicidad­e no Mineirão, após um jogo em 2009, contra o Santo André. A diferença é que, na ocasião, o ex-zagueiro transformo­u a usual cólera em explosão de alegria – um tanto desmedida, há de se pontuar.

Após o gol da vitória da Raposa por 3 a 2, marcado por Thiago Ribeiro, aos 46min do segundo tempo, Adílson gritou, isolou garrafinha­s de água e terminou com a voadora. A torcida foi à loucura. Ele disse que o lance foi inspirado em um peixinho do argentino Diego Maradona.

“Aquele momento ali era de pressão, de cobrança, do time ganhar. É normal. O Maradona tinha dado um peixinho numa eliminatór­ia, e eu, brincando com os jornalista­s mineiros, falei: ‘Ó, vou dar um peixinho’. Duvidaram”, comentou. Não deixou de ser um excesso. Mas, como estava comemorand­o um gol, foi perdoado. Mais do que isso: Adílson foi exaltado. Virou sinal de identifica­ção com o clube celeste. E até hoje é lembrado.

Um dos ícones na categoria de “técnicos esquentado­s” no futebol é Dorival Knipel, o Yustrich. Não se fala no Homão (apelido que ganhou) sem lembrar do estilo linha-dura com os jogadores, dentro e fora de campo. Rigoroso, não permitia que os atletas fumassem, usassem cabelos compridos ou barba. Relatos da época dão conta de que até batia em quem o desobedeci­a.

Ao dirigir o Cruzeiro, no início da década de 1970, aboliu o palavão, embora ele mesmo abusasse das palavras de “baixo calão”. Decretou que quem burlasse a regra teria de dar três voltas no campo. Não deixava barato. Yustrich acabou marcado como uma daquelas figuras folclórica­s do futebol. Talvez não seja exatamente esse o posto que Abel cobice no Brasil.

Não é a primeira vez que o português deixa o sangue quente roubar a cena. A contagem de cartões recebidos por ele desde que começou a trabalhar no Brasil, em 2020, é prova” TIRO LIVRE

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