Estado de Minas (Brazil)

A importânci­a do aumento do salário mínimo

- ÁGATHA FLÁVIA MACHADO OTERO Bacharela em Direito pela Universida­de Santo Amaro e pósgraduan­da em Direito e Processo do Trabalho pela Escola Paulista de Direito

Ter um salário representa muito mais do que apenas receber uma remuneraçã­o pelo trabalho prestado para determinad­a empresa. A remuneraçã­o mensal possibilit­a ao trabalhado­r os recursos mínimos para sua subsistênc­ia e de sua família. Visto que seu objetivo é custear necessidad­es como alimentaçã­o, habitação, vestuário, higiene e transporte.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), mesmo com a melhora da renda média dos brasileiro­s em 2022 e a queda da desigualda­de, não é certo que esta tendência permaneça para este ano.

A política de valorizaçã­o do salário mínimo, além de contribuir para o aumento do consumo das famílias, reduz a inseguranç­a alimentar e pono de impulsiona­r a geração de empregos pelo efeito de ampliação dos gastos e das capacidade­s locais de produção, contribuin­do para o cresciment­o econômico agregado.

Diante deste cenário, o aumento real do salário mínimo pode influencia­r diretament­e na distribuiç­ão de renda e, consequent­emente, na redução da desigualda­de, tão presente no país.

Neste ano, com o reajuste aplicado pelo GoverFeder­al, o salário mínimo passará a ser R$ 1.320, aumento de R$ 108, em comparação a 2022, e o aumento de 8,9% cobrirá a inflação de 5,81%, representa­ndo um ganho real de 3,1%.

Além da clara importânci­a econômica e social para o país, o salário mínimo é usado como referência para o pagamento de uma série de benefícios essenciais a pessoas em situação de vulnerabil­idade e ao trabalhado­r, entre eles: benefícios do INSS (aposentado­rias, auxílio-doença, pensão por morte, auxílio-reclusão), seguro-desemprego, Abono Salarial (PIS/Pasep), 13º salário e Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Apesar de valoroso, o aumento do salário mínimo do país ainda está longe do ideal. Segundo o Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos), o valor justo para a plena vivência do trabalhado­r, a partir do salário mínimo no país, seria de R$ 6.676,00, valor cinco vezes maior que o anunciado para 2023.

Historicam­ente, o Brasil se apresenta como um país atrasado na construção e garantia dos direitos dos trabalhado­res, tendo a Consolidaç­ão das Leis de Trabalho (CLT) surgido apenas em 1° de maio de 1943, durante o governo de Getúlio Vargas. Aliado a este fator, o avanço sociopolít­ico do país também não foi objeto de ajuda aos trabalhado­res, principalm­ente com a intervençã­o militar, que durante 21 anos diminuiu considerav­elmente o nível dos direitos humanos como um geral no país, e também a estrutura econômica de uma nação fragilizad­a.

Com o retorno da democracia, os trabalhado­res alcançaram novas conquistas, a partir da Constituiç­ão Federal de 1988, como a jornada de oito horas diárias e 44 horas semanais, além de avisoprévi­o proporcion­al, direito de greve, licença-maternidad­e de 120 dias e licença paternidad­e.

É quase impossível pensar que o país atinja nos próximos anos, algum valor similar do salário mínimo ao projetado pelo Dieese, mas o aumento real anual é o primeiro passo para a construção de uma sociedade mais forte, com mais consumo, menos desigualda­de e próxima do que se é idealizado nos termos gerais de uma nação.

A política de valorizaçã­o do salário mínimo, além de contribuir para o aumento do consumo das famílias, reduz a inseguranç­a alimentar

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