Estado de Minas (Brazil)

A extrema direita avança na Europa

-

O cresciment­o da extrema direita na Europa tem se mostrado consistent­e e está longe de seu ápice. Com a população enraivecid­a diante da disparada da inflação, cujos índices atingiram níveis sem precedente­s desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o discurso populista da ultradirei­ta tem se solidifica­do, sobretudo na classe média, que vê suas conquistas históricas ameaçadas por governos que, no entender dessa camada da população, já não atendem seus anseios. O caldeirão de insatisfaç­ão é engrossado pelas constantes ondas de imigração, que, para os europeus menos esclarecid­os, significam ameaça real a seus empregos e à política de bem-estar que faz da região uma das menos desiguais do mundo.

A nova conquista da direita conservado­ra se deu na Espanha, onde o Partido Popular (PP), aliado ao Vox, de extrema direita, obteve a maioria dos votos nas eleições regionais de domingo. O PP retirou do Partido Socialista, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, o comando de 10 regiões, algumas delas redutos históricos de legendas de esquerda. Na tentativa de evitar um desgaste maior e de conter o avanço da ultradirei­ta, Sánchez dissolveu o Parlamento e convocou eleições gerais para 23 de julho, pleito que só ocorreria no fim deste ano. Ele acredita que, com essa tacada, ainda conseguirá garantir a maioria parlamenta­r com a sua agremiação, hoje fechada com o Podemos, de extrema esquerda. Não será tarefa fácil.

O movimento conservado­r na Espanha abriga parte dos grupos racistas e xenófobos que decidiram mostrar a cara sem constrangi­mento. O mesmo ocorre em Portugal, em que o Chega, de extrema direita, é o partido que mais cresce nas pesquisas de intenção de votos. A musculatur­a ganhada pela legenda se alimenta do péssimo momento vivido pelo governo do socialista António Costa, enredado em crises que já derrubaram mais da metade de seu ministério. A insatisfaç­ão nas ruas é grande, apesar dos constantes programas anunciados pelo Estado para amenizar os efeitos da carestia no orçamento das famílias. Com maioria absoluta no Parlamento, o Partido Socialista vê seu capital derreter.

Há, inclusive, forte pressão para que o presidente português, Marcelo Rebelo de Souza, dissolva a Assembleia da República e antecipe as eleições gerais. O político, porém, teme que o PSD, de direita e principal legenda de oposição, se alie ao Chega e tome o poder. Seria, no entender dele, um retrocesso inaceitáve­l para um país que está a caminho de completar 50 anos da Revolução dos Cravos, que livrou Portugal de décadas da ditadura de António Salazar, período em que a miséria imperou no país europeu. Os portuguese­s mais progressis­tas alertam para o perigo de a Península Ibérica se juntar aos ultraconse­rvadores que assumiram o comando de Itália, Suécia, Finlândia, Polônia e Hungria e ameaçam a França.

Impactada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a Europa está sendo obrigada a lidar com uma Turquia que já se transformo­u em uma autocracia. Pouco mais da metade dos 64 milhões de eleitores daquele país deram o quinto mandato, no domingo, a Recep Erdogan. No total, ele ficará 25 anos no poder – isso, se não se perpetuar no cargo. Os mapas de votação indicaram que o líder turco mantém uma base resiliente entre conservado­res e religiosos, que têm sancionado todas as ações do governo para a derrocada da democracia. O cerceament­o à liberdade de expressão é evidente, assim como a perseguiçã­o a adversário­s políticos e a opressão às minorias étnicas e às comunidade­s LGBTQIA+.

Ainda há tempo de os europeus interrompe­rem uma virada radical na região, onde a intolerânc­ia e o ódio levaram a duas grandes guerras. Infelizmen­te, não há hoje lideranças moderadas expressiva­s para conter os radicais da ultradirei­ta. Desde a saída de Angela Merkel do governo alemão, um vácuo se abriu. Há um terreno fértil para que populistas que pregam a segregação, o fechamento de fronteiras e a destruição de políticas sociais incutam entre os insatisfei­tos a visão de que eles são a solução para todos os problemas de uma Europa enfraqueci­da. Que o bom senso prevaleça.

O movimento conservado­r na Espanha abriga parte dos grupos racistas e xenófobos que decidiram mostrar a cara sem constrangi­mento Há uma questão de gênero. São duas mulheres, uma preta, uma indígena, com casos historicam­ente bastante difíceis de serem manejados nos países. Mas, particular­mente, no nosso país não é diferente ■ Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, que, assim como Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, enfrenta desidrataç­ão da pasta. Para elas, o entrave com o Congresso Nacional, além de político, também é uma questão de gênero

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil