Estado de Minas (Brazil)

MÃE RECORRE À JUSTIÇA PARA RECEBER CORPO DE NAVALNY

Cinco dias após a morte do opositor de Vladimir Putin, corpo ainda não foi liberado para a família, o que levou Ludmila Navalnaya a ingressar com recurso no Judiciário

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Amãe do opositor russo Alexei Navalny, morto em condições nebulosas na semana passada, entrou com um processo judicial na cidade de Salekhard contra o que chamou de inação do comitê de investigaç­ão para liberar o corpo de seu filho. Cinco dias após a morte do ativista em uma prisão no Ártico, a família ainda não teve acesso aos restos mortais e acusa autoridade­s de retêlos para impedir o trabalho da perícia.

Ludmila Navalnaya, de 69 anos, viajou à remota colônia penal IK-3, onde Alexei morreu na última sexta-feira, mas desde sábado, quando chegou ao local, não conseguiu ver o corpo do ativista, segundo o jornal “The Moscow Times”. Sem qualquer resposta das autoridade­s, ela entrou com a ação para denunciar supostos “atos ilegais” no processo. A audiência do caso deve acontecer só no dia 4 de março, a portas fechadas.

Navalnaya já havia gravado um vídeo pedindo ao presidente Vladimir Putin que liberasse o corpo do ativista, o mais conhecido opositor do governo. “Deixe-me enfim ver meu filho. Eu exijo que o corpo de Alexei seja entregue imediatame­nte, para que eu possa enterrá-lo de forma humanitári­a”, diz ela na gravação. O apelo ecoou pedidos semelhante­s feitos por aliados e advogados do ativista.

Mas investigad­ores do caso teriam dito que a liberação ainda vai demorar cerca de duas semanas, para fins de exames químicos. A demora vem levantando mais suspeitas sobre as causas da morte. A viúva do líder opositor, Yulia, sugeriu que o governo russo envenenou Alexei como o agente neurotóxic­o Novitchok (novato, em russo). Por isso, disse que estariam escondendo o corpo até que os traços do veneno desaparece­ssem.

Alexei estava preso desde 2021, quando voltou da Alemanha após tratar os efeitos de um envenename­nto sofrido na Sibéria no ano anterior, quando participav­a de uma campanha eleitoral local. Ele acusou Putin diretament­e pela ação e consolidou sua posição como mais conhecido opositor do líder russo. Aliados do ativista consideram também que a morte passa pelas condições de seu encarceram­ento. Na antevésper­a do fato, ele havia ganho 15 dias a mais de confinamen­to solitário por se desentende­r com um guarda.

Por ora, ainda ninguém sabe exatamente onde está o corpo de Alexei ou quem está fazendo a necropsia. Para Iulia, a falta de informaçõe­s é prova da manipulaçã­o do Kremlin.

O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, disse na terça que as acusações contra o governo russo são “infundadas e vulgares”. Segundo o Serviço Federal Prisional russo, Navalny morreu após desmaiar durante uma caminhada. Ele cumpria uma pena de 30 anos e meio de cadeia, acusado de corrupção, desrespeit­o à corte e extremismo.

SANÇÕES

Em resposta à pouca transparên­cia do caso, o Reino Unido anunciou ontem sanções a seis pessoas que trabalhava­m na prisão em que o ativista era mantido. Os sancionado­s incluem o chefe e cinco vice-chefes da colônia penal, que serão proibidos de entrarem no Reino Unido e terão parte dos bens congelados, segundo o chefe da diplomacia britânica, David Cameron. “É claro que as autoridade­s russas viam Navalny como uma ameaça e tentaram repetidame­nte silenciálo”, disse Cameron. “Os responsáve­is pelo tratamento brutal de Navalny não devem ter ilusões, nós os responsabi­lizaremos.”

Os países da União Europeia alcançaram, ontem, um acordo sobre o 13° pacote de sanções à Rússia, em um conjunto de medidas que afetam empresas chinesas e um ministro norte-coreano, de acordo com fontes oficiais. No total, o novo pacote de sanções afeta cerca de 200 pessoas e entidades, em sua maioria da Rússia.

Em uma mensagem na rede X, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, parabenizo­u o acordo entre os 27 países do bloco. “Devemos seguir enfraquece­ndo a máquina de guerra de (Vladimir) Putin”, apontou. Von der Leyen afirmou que a UE também avança para “cortar ainda mais o acesso da Rússia a drones”. Ela acrescento­u que com esse novo pacote, a lista de sanções pela guerra da Rússia contra Ucrânia já inclui cerca de 2.000 pessoas.

Esse acordo por um novo pacote de sanções ocorre a poucos dias do segundo aniversári­o do início da ofensiva russa contra o território ucraniano. O rascunho do acordo, ao qual a AFP teve acesso, incluía restrições ao comércio de empresas da UE com três empresas chinesas que abastecere­m o Exército russo com armas. As três empresas chinesas são as primeiras do país asiático afetadas pelas sanções europeias à Rússia, e foram incluídas na lista por sua participaç­ão no abastecime­nto de tecnologia militar das forças russas. ■

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YVES HERMAN/POOL/AFP VIÚVA DO ATIVISTA MORTO, YULIA NAVALNAYA (CENTRO) ACUSA O GOVERNO RUSSO DE TER ENVENENADO SEU MARIDO

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