Estado de Minas (Brazil)

ADEUS ENORME E SONORO

Sepultura faz vigoroso show de despedida do público de Belo Horizonte, que fez o Arena Hall trepidar com seus pulos e moshs, na noite da última sexta

- DANIEL BARBOSA

Maior banda de heavy metal brasileira da história, o Sepultura se despediu de Belo Horizonte, na última sexta, com o show que deu a largada em sua derradeira turnê, "Celebratin­g live throug death". Uma despedida calorosa e intensa, a despeito da apreensão que a precedeu, quanto ao desempenho do novo baterista, Greyson Nakrutman, contratado às pressas para substituir Eloy Casagrande, que decidiu deixar a banda neste mês.

Nekrutman acabou figurando como um improvável herói da noite. Foi saudado efusivamen­te pelo público quando, ao final da sétima música, o guitarrist­a Andreas Kisser o apresentou. Até ali, o novo baterista já tinha tido tempo suficiente para mostrar que não estava a passeio – executou com segurança e personalid­ade a poderosa sequência inicial de músicas.

Ao final do show, o baterista chegou à frente do palco, numa posição central, ladeado por Kisser e pelo baixista Paulo Xisto, jogou baquetas para a plateia e foi novamente ovacionado. João Gordo, vocalista do Ratos de Porão e amigo de longa data dos integrante­s do Sepultura, resumiu em seu Instagram o sentimento geral.

"Fiquei com frio na barriga ontem (sexta), na expectativ­a do primeiro show da tour de despedida em BH. Sepultura é monstro, tirar de letra essa situação é especialid­ade deles. Todos eles que passaram pela maior banda de metal de todos os tempos são entidades. Seu Greyson é foda", escreveu.

O repertório que o Sepultura desfilou no Arena Hall revelou escolhas previsívei­s. Os álbuns que forneceram o maior número de músicas para o roteiro foram os dois mais cultuados da banda, lançados na fase áurea, ainda com os fundadores Max e Iggor Cavalera: "Chaos

A.D." (1993) e "Roots" (1996). Foram cinco faixas de cada um. A banda abriu a apresentaç­ão com três porradas do primeiro, "Refuse/Resist", "Territory" e "Slave new world" – músicas que marcaram uma guinada do grupo rumo a temas mais políticos e de cunho social, e menos ligados ao capeta, ao inferno e suas danações, caracterís­ticos dos dois primeiros discos, "Bestial devastatio­n" (1985) e "Morbid visions" (1986).

Os 5 mil fãs respondera­m ao início arrebatado­r pulando, gritando, agitando os braços e fazendo mosh. Formada sobretudo por pessoas na faixa entre 40 e 50 anos, a plateia tinha também jovens e até crianças.

ARCO TEMPORAL

Depois do tríptico de "Chaos A.D.", o Sepultura avançou no tempo até "Machine Messiah" (2017), com "Phanton self", e, em seguida, retrocedeu até "Roots", com "Dusted" e "Attitude". Após rápida visita ao álbum de estúdio mais recente, "Quadra" (2020), com "Means to an end", o título de 1996 voltou à baila, com "Cutthroat". Em "Guardians of earth" ("Quadra"), Andreas Kisser pôde mostrar sua versatilid­ade, flertando com a escola da música erudita. A faixa fez uma ponte entre presente e passado, na medida em que dialoga com as tradições e culturas indígenas que o grupo explora desde "Chaos A.D." e "Roots".

Uma sequência ligeira, pesada e agressiva, com "Mindwar", "False" e "Choke" – respectiva­mente de "Roorback" (2003), "Dante XXI" (2006) e "Against" (1998) – acendeu o pavio da plateia, que se jogou ensandecid­a no mosh com a música seguinte, "Escape to the void", do disco "Schizophre­nia", o primeiro lançado após a entrada de Kisser e também o responsáve­l por abrir as portas para a fama nacional e mundial do Sepultura.

Em seguida, a execução de "Kayowas (Tribal Jam)", de "Chaos A.D.", fez os holofotes e as atenções se voltarem para Nekrutman, que conduziu com maestria a batida que ecoa as influência­s da música indígena, apoiado pela cadência do surdo tocado por Derrick. O primeiro grande sucesso da banda, "Troops of doom" (1985), abriu a sequência final do show.

"Arise", faixa-título do álbum de 1991, quando o Sepultura já surfava no sucesso mundial, ferveu de vez o público e fez do Arena Hall uma verdadeira panela de pressão. A agitação não apenas se manteve, mas aumentou no ato final, com as duas faixas que puxaram "Roots" – "Ratamahata", originalme­nte gravada com a participaç­ão de Carlinhos Brown, e a que batiza o álbum, com seu aderente refrão "Roots, bloody roots", cantado em uníssono, a plenos pulmões, pelos fãs. Um final apoteótico para um show histórico.

Depois do espetáculo, nos corredores e banheiros do Arena Hall, o comentário mais recorrente era "esse menino, Greyson, chegou chegando, hein, deu muito conta do recado". Houve quem reclamasse da qualidade do som? Sim. Podia estar melhor equalizado? Podia. Compromete­u o brilho do espetáculo? Não. Os sorrisos nos rostos extenuados dos fãs diziam isso sem carecer de palavras. ■

 ?? ?? O SEPULTURA INICIOU POR BH, CIDADE ONDE NASCEU, O GIRO QUE MARCA O ENCERRAMEN­TO DE SUAS ATIVIDADES E DEVE PASSAR POR OUTRAS CAPITAIS DO PAÍS E PELO EXTERIOR, ATÉ 2025
O SEPULTURA INICIOU POR BH, CIDADE ONDE NASCEU, O GIRO QUE MARCA O ENCERRAMEN­TO DE SUAS ATIVIDADES E DEVE PASSAR POR OUTRAS CAPITAIS DO PAÍS E PELO EXTERIOR, ATÉ 2025
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BATERISTA ESCALADO ÀS PRESSAS NO LUGAR DE ELOY CASAGRANDE, GREYSON NAKRUTMAN DEMONSTROU CONFIANÇA E VERSATILID­ADE

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