Estado de Minas (Brazil)

NORA PREPARA VELÓRIO “FESTIVO” PARA SOGRO

Funeral com cerveja e música ao vivo chama a atenção em Montes Claros. Formato foi o último desejo de aposentado

- LUIZ RIBEIRO

Uma “despedida festiva”, com cerveja servida à vontade e uma música suave de violino ao fundo. Assim foi o velório do aposentado Paulo Cesar Amparado, de 68 anos, em Montes Claros, no Norte de Minas. Aos moldes de uma tradição quase esquecida do interior mineiro, o funeral, preparado pela nora do homem de acordo com as instruções dadas por ele, terminou viralizand­o nas redes sociais.

Segundo a dentista Monique Batista Furtado, que também serviu refrigeran­te, café, salgados e biscoitos durante o velório, o formato do funeral atendeu ao “último pedido” do sogro. O corpo de Paulo César, ex-funcionári­o da Cemig, foi sepultado na tarde de quarta-feira (28/2), no Cemitério Parque dos Montes. Ele morreu na terça-feira, em decorrênci­a de insuficiên­cia renal e infecção generaliza­da. O aposentado, que era transplant­ado renal, enfrentava uma série de problemas de saúde havia um ano.

Antigament­e, no Norte de Minas, e em outras regiões do interior mineiro, havia comida e bebida em velórios, com as pessoas usando o termo “beber o defunto”. Monique afirma que não teve nenhuma intenção de voltar no tempo, mas apenas “prestar uma homenagem” ao seu sogro e que não esperava que o vídeo fosse viralizar. “Achei que seria algo comum realizar o último pedido de uma pessoa. E me assustei com tamanha repercussã­o, que, graças a Deus, foi 99% positiva”, afirma a odontóloga.

O aposentado deixou quatro filhos e 12 netos. Um de seus filhos, Paulo César Amparado Júnior, casado com Monique, e também dentista, declarou que a princípio ficou resistente, mas acabou aceitando fazer o velório festivo para atender ao último desejo do pai. “Ele sempre gostou de viver e curtir a vida”, recorda Júnior.

O velório do aposentado foi realizado no Memorial da Santa Casa de Montes Claros. No mesmo espaço do caixão, foi colocado um recipiente com garrafas de cerveja longneck para quem quisesse se servir à vontade. No local, antes da saída do féretro, e no cemitério, no momento do sepultamen­to, houve a apresentaç­ão do músico Pedro Marcos com um violino. Ele tocou músicas de Elvis Presley, o cantor preferido de Paulo César Amparado.

“A morte não é só tristeza. Ela também pode ser entendida como libertação quando uma pessoa que está com um corpo adoecido”, afirma a dentista, que é católica e disse acreditar na existência da vida espiritual. “Pois, além do corpo, existe alma”, acrescento­u Monique.

Segundo Monique, durante o velório do aposentado, algumas pessoas se mostraram surpresas e curiosas com a “despedida festiva”. Porém, não houve reações negativas e a cerveja foi consumida normalment­e, como em qualquer outro ambiente. “Ninguém bebeu para ficar bêbado”, relata a dentista. Ela disse que a “inovação” do “velório com cerveja” despertou interesse alheio. “No velório, ouvi várias pessoas dizerem: “Quando eu morrer, quero um enterro assim”, disse a organizado­ra do adeus ao aposentado. ■

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REPRODUÇÃO VIOLINISTA TOCA DURANTE O CORTEJO DO CORPO, SEGUINDO AS INSTRUÇÕES DEIXADAS POR PAULO CESAR

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