Estado de Minas (Brazil)

TAXAÇÃO DE SUPER-RICOS PODE RENDER US$ 250 BI POR ANO

Discussão é inicial e será necessário definir o desenho exato da proposta, mas nem todos os países do grupo apoiam a criação de impostos sobre as fortunas

- RAFAELA GONÇALVES

A taxação global dos super-ricos, principal bandeira erguida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no âmbito do G20, poderia gerar US$ 250 bilhões em receitas por ano. Os cálculos do economista francês Gabriel Zucman, diretor do European Tax Observator­y, consideram uma alíquota mínima anual de 2% sobre o patrimônio, que atingiria cerca de 3 mil pessoas em todo o mundo.

A discussão é inicial, ainda será necessária uma definição sobre o desenho exato da proposta que deve ser feita de forma democrátic­a a partir do debate entre os países que compõem o grupo, formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e a União Europeia.

Zucman explicou ainda que o modelo de tributação poderia levar em conta os impostos gerais pagos pelos bilionário­s e que seria uma espécie de “piso tributário”. Caso um indivíduo, no cômputo geral, pagasse menos de 2% de sua riqueza total em imposto de renda, por exemplo, ele teria que pagar um imposto adicional para atingir essa porcentage­m mínima.

Para que a proposta avance, existem alguns percalços. Um acordo firmado pela Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), chamado Imposto Mínimo Global (GMT), prevê dois pilares: o primeiro visa distribuir os direitos de tributação sobre os lucros das multinacio­nais entre os países, e o segundo estabelece uma tributação mínima para essas empresas globais. A ideia de Haddad é completar essa trilha com um terceiro pilar para pessoas físicas.

Para o coordenado­r do curso de relações internacio­nais do Ibmec, José Niemeyer, o que foi apresentad­o por Haddad se assemelha mais a um protocolo de intenções e fazer com que essa tributação chegue a pessoas físicas deve ser mais difícil. “Não é algo original, já existiam propostas nesse sentido. Chegamos a um nível de desigualda­de entre os superricos e a grande população deste planeta tão alarmante, do ponto de vista de acesso à renda, emprego e benefícios sociais, que é importante começarmos a pensar em maneiras de amenizar esse fosso”, disse.

O Brasil reconhece que há diferentes visões no G20 sobre a taxação de bilionário­s e nem todos os países do grupo apoiam a criação de impostos para super-ricos. O próprio autor dos estudos, Gabriel Zucman, disse ser “utópico” pensar que existiria um acordo consensual total sobre o tema no mundo. Mas, de acordo com a Fazenda, países europeus já se alinharam com Haddad nesse sentido.

ENTRAVES

A discussão que estava caminhando anteriorme­nte na OCDE inclui para onde iria o dinheiro arrecadado. Esse é apenas um dos pontos que precisam ser definidos antes da nova colocação sugerida pelo ministro brasileiro. Apesar dos possíveis entraves, Niemeyer acredita que o tema ganhará projeção. “Haddad tem sido alguém que todos ouvem muito em relação à economia e tem aparecido, às vezes, muito mais do que o próprio presidente”, avaliou.

Menos de 8% da arrecadaçã­o dos países do G20 vêm da taxação da riqueza, enquanto mais de 32% vêm do consumo, segundo estudo da organizaçã­o não governamen­tal Oxfam. A situação beneficia os mais ricos e prejudica as camadas mais pobres da população, já que famílias de menor renda costumam destinar proporcion­almente fatias maiores de seus orçamentos para o consumo. ■

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