Estado de Minas (Brazil)

E agora, José?

- REGINA TEIXEIRA DA COSTA

A civilizaçã­o é uma constante insistênci­a em nos tornarmos melhores e nos protegermo­s coletivame­nte. Mas seus efeitos nos mostram a impossibil­idade de controlar o real e alcançar plenamente tal objetivo.

Os sacrifício­s que fazemos para tornar possível a convivênci­a se traduzem em malestar devido à repressão de instintos agressivos e sexuais.

São décadas de luta pelo reconhecim­ento dos direitos civis das mulheres e da igualdade salarial, tanto quanto da liberdade sexual póspílula anticoncep­cional e pós-revolução industrial, quando elas ingressara­m no mercado de trabalho. Com mais direitos, porém ainda sofrendo violências.

Há quase um século e meio da abolição da escravatur­a e ainda às voltas com o racismo, apesardeme­didaseduca­tivaserepa­radorascon­trao preconceit­o, os pretos ainda são tratados por muitos como se seu lugar fosse a senzala.

Desde Stonewall, em 1969, revolta deflagrada em Nova York em resposta ao preconceit­o e à violência da polícia e da sociedade civil contra o amor homossexua­l, os gays saíram do armário, assumiram a palavra e ganharam as

LANÇAMENTO

MUNDIAL ruas promovendo o orgulho de serem quem são. Paradas criadas por eles são realizadas em diversas cidades. Ainda assim, há preconceit­o e violência contra a população LGBTQIA+.

A crescente busca de legitimida­de dos transexuai­s pelo direito a seu modo de gozo, ao trabalho, ao respeito e ao reconhecim­ento pela sociedade, herdeira do patriarcad­o colonial que tanta violência gerou, aponta que ainda há muito a se fazer.

Tanto trabalho pela inclusão das diferenças e ainda nos vemos falhando em suportá-las. Nem nestes tempos de legitimaçã­o dos direitos termina a discrimina­ção. Nunca teremos plenitude, apenas resultados parciais, como nos mostra a realidade.

Há algum tempo, os olhares se voltaram para os homens cis heteronorm­ativos. Eles merecem um lugar em nossas preocupaçõ­es sociológic­as e psicanalít­icas por sua performanc­e na civilizaçã­o. Uma cultura que hoje se admite mais feminina permite um gozo Outro, desejando-se mais humana, tolerante, atraente.

O que dizer dos homens ainda em grande parte sustentado­s pelo falocentri­smo – forma social na qual, infelizmen­te, é comum vincular falo e pênis à suposição de naturalida­de discrimina­tória e opressora?

Falo é o nome freudiano das insígnias culturais da atribuição de poder – e não apenas do órgão sexual masculino. Aponta para o modo de vida e gozo. Precisamos repensar a crença de que ser macho é sustentar emblemas de virilidade e potência, de estar sempre pronto, obsessivam­ente potente, sem contar com as falhas que naturalmen­te acontecem e desestabil­izam o mundo daquele que se quer totalmente macho.

Essa virilidade de aparência e a enfatuação da obrigatori­edade de um poder e uma totalidade pelo temor da feminizaçã­o servem para encobrir que somos seres de falta. Isso vale para homens e mulheres.

Vinícius Lima, no recém-lançado livro “Homens em análise. Travessias da virilidade” (Blucher, 2024), publica o tema de sua dissertaçã­o de mestrado na Universida­de Federal de Minas Gerais com belíssima introdução de Marcus André Vieira e posfácio do orientador Gilson Iannini.

Aborda o poder pesado, uma opressão viril que não oprime somente mulheres, mas também homens, com a rigidez cadavérica engessando relações, tornando-os impermeáve­is às delicadeza­s, ao perfume das flores, aos amores femininos e até mesmo à condição de aceitar perdas sem sentir vacilar sua virilidade e macheza.

“Homens em análise” é um livro contemporâ­neo, indispensá­vel a quem se interessa em compreende­r a sexualidad­e humana.

“HOMENS EM ANÁLISE. TRAVESSIAS DA VIRILIDADE” . Livro de Vinícius Lima

. Editora Blucher

. 416 páginas

. R$ 145

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil