ONU PEDE FIM DO “CICLO DE RETALIAÇÃO” NO ORIENTE MÉDIO
Após ataque ao Irã atribuído a Israel, na madrugada de sexta-feira, cresce pressão pelo apaziguamento. Tel Aviv mantém silêncio sobre os rumores
São Paulo – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, cobrou ontem a interrupção do “ciclo de retaliação” no Oriente Médio, após explosões no Irã atribuídas a um ataque israelense, em um contexto altamente volátil desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza, em 7 de outubro de 2023. “Já é hora de parar o perigoso ciclo de retaliação no Oriente Médio. Condeno qualquer ato de retaliação e apelo à comunidade internacional para que trabalhe em conjunto para evitar qualquer desenvolvimento adicional que possa levar a consequências devastadoras para toda a região e para além dela”, escreveu Gutérres na rede social X.
Na madrugada de sexta-feira (noite de quinta no Brasil), várias explosões sacudiram uma base militar em Isfahan, no centro do Irã. Mas o governo minimizou o impacto das detonações e não acusou diretamente Israel, que também não reivindicou a operação. A imprensa dos EUA, citando funcionários do alto escalão do Irã, informou que se tratava de uma operação israelense em resposta ao ataque sem precedentes lançado por Teerã contra o território israelense em 13 de abril.
As explosões aumentaram os temores de uma escalada no Oriente Médio, em um momento em que a guerra entre Israel e o grupo extremista palestino Hamas, se intensifica em Gaza e já causou 34.012 mortes, segundo o Ministério da Saúde do território.
A agência de notícias iraniana Fars relatou “três explosões” perto da base militar em Qahjavarestan, entre Isfahan e o aeroporto. A defesa aérea abateu vários drones, mas não detectou “por enquanto” um ataque com mísseis, afirmou um porta-voz da agência espacial do Irã. “Não temos nenhum comentário por enquanto”, disse um porta-voz do Exército israelense à Agência France Press (AFP) sobre as explosões.
Segundo o jornal americano The New York Times, que citou funcionários do alto escalão iraniano, o ataque foi realizado com drones pequenos que provavelmente foram lançados de dentro do território iraniano. O The Washington Post citou um funcionário do alto escalão israelense que falou sob condição de anonimato e que disse que a ação tinha como objetivo mostrar ao Irã que Israel tem a capacidade de alcançar o interior do país.
As instalações nucleares iranianas na região de Isfahan estão “seguras”, indicou a agência Tasnim. O Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA) informou que as instalações nucleares iranianas não sofreram “nenhum dano” no ataque. E advertiu que “nenhuma instalação nuclear deve ser alvo de conflitos militares”.
O ministro italiano das Relações Exteriores,
Antonio Tajani, que presidiu reunião de seus colegas do G7 – grupo de países mais ricos do planeta – na ilha de Capri, indicou que os Estados Unidos, principal aliado de Israel, foram “informados no último minuto” do ataque, sem precisar por quem. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, presente em Capri, limitou-se a dizer que os Estados Unidos “não participaram de nenhuma operação ofensiva” e destacou que o objetivo de seu país e de outros membros do G7 é uma “desescalada”.
O Irã realizou no sábado passado seu primeiro ataque direto contra Israel, lançando cerca de 350 drones e mísseis que foram interceptados quase totalmente. As autoridades iranianas afirmaram agir em “legítima defesa” após o bombardeio contra seu consulado em Damasco em 1º de abril, no qual sete membros da Guarda Revolucionária morreram e que foi atribuído a Israel.
MAIS MORTES EM GAZA
Em meio às tensões, os bombardeios israelenses em Gaza continuaram e pelo menos 24 palestinos morreram entre quintafeira e ontem, segundo as autoridades sanitárias do Hamas. O conflito em Gaza começou com o ataque do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, no qual os combatentes islamitas mataram cerca de 1.170 pessoas e sequestraram outras 250, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais.
Com o início da guerra, Israel impôs um cerco em Gaza, onde 2,4 milhões de pessoas estão em risco de fome, segundo a ONU. Para aliviar essa situação humanitária crítica, a chamada “Flotilha da Liberdade”, com cerca de 5 mil toneladas de suprimentos, está se preparando para zarpar do porto turco de Tuzla.
Em 2010, uma iniciativa com o mesmo nome tentou romper o bloqueio naval que Israel impôs em Gaza e foi interrompida por uma operação israelense que resultou na morte de dez ativistas a bordo de uma embarcação. O governo de Israel anunciou que invadirá Rafah, uma cidade do sul de Gaza onde cerca de 1,5 milhão de palestinos sobrevivem. Os ministros do G7 manifestaram sua oposição a esse plano, que, segundo eles, teria “consequências catastróficas para a população civil”. ■
“Condeno qualquer ato de retaliação e apelo à comunidade internacional para que trabalhe em conjunto para evitar qualquer desenvolvimento adicional que possa levar a consequências devastadoras para toda a região e para além dela”
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António Guterres Secretário-geral da ONU