Estado de Minas (Brazil)

Caminho do meio

No longa “La Chimera”, da diretora italiana Alice Rohrwacher, a atriz brasileira Carol Duarte vive uma personagem “na corda bamba: não cai muito para a comédia nem para o drama"

- MARIANA PEIXOTO

ESTREIA

Carol Duarte estreou no cinema pelas mãos do diretor Karim Aïnouz, como uma das protagonis­tas de "A vida invisível" (2019). Teve tempo de se preparar em um set incomum – só podia conversar com o diretor, sua assistente e sua irmã na trama, papel de Julia Stockler. Com estreia nesta quinta-feira (25/4) nos cinemas, a produção italiana "La chimera" é o segundo longa-metragem da atriz paulistana de 32 anos. E o processo foi completame­nte diferente.

Não houve muito tempo de preparação. E ela só conheceu pessoalmen­te a diretora Alice Rohrwacher (mais conhecida por "Lazzaro felice", melhor roteiro no Festival de Cannes de 2018) quando já estava em território italiano para começar a filmar.

A atriz é uma das coprotagon­istas deste drama onírico ambientado na Toscana na década de 1980. "La chimera" foi um dos selecionad­os para a competição oficial de Cannes de 2023. Quem guia a narrativa é Arthur (Josh O'Connor, o jovem Príncipe Charles da série "The crown"). Ele é um arqueólogo em busca de Beniamina (Yile Yara Vianello), seu amor perdido.

Ela é uma das várias filhas de Flora (Isabella Rossellini), senhora que já teve dias de glória e hoje vive à beira da miséria. Acolheu Itália (Carol Duarte), uma jovem brasileira que cuida da casa em troca de aulas de canto da patroa (que não vão levá-la a lugar algum, dada a sua falta de talento).

Arthur circula no meio dessas mulheres. Muito popular na região, ele comanda um grupo de ladrões de túmulos que está atrás de relíquias da era etrusca – e o jovem arqueólogo, por meio da radiestesi­a, consegue, com um galho em formato de y, encontrar objetos antigos que serão vendidos por uma ninharia no mercado clandestin­o da arte.

A ATRIZ CAROL DUARTE CONTRACENA COM JOSH O’CONNOR EM CENA DO LONGA-METRAGEM, QUE OCUPA DUAS SALAS EM BH

ATMOSFERA FANTÁSTICA

Objetivame­nte, o filme é assim. Mas a narrativa acompanha este grupo de personagen­s de uma forma que beira o fantástico. Há muita alegria, barulho e música, como também melancolia e uma ameaça constante. Pode-se até roubar dos mortos – mas há que prestar atenção para não ser levado por eles.

Em 1º de janeiro de 2022, depois de um teste realizado por vídeo, Carol chegou à Itália. O italiano fluente era essencial para o papel, ainda que ela faça uma brasileira vivendo em outro país. Teve que ficar em quarentena por 10 dias. Só foi conhecer Alice, que também teve que ficar um período de resguardo diante da crise sanitária, depois de algumas semanas na Itália.

"O processo de criação da Alice, assim como a cinematogr­afia dela, têm uma assinatura muito forte. Com ela foi tudo muito rápido. Dá para ver como as personagen­s carregam certo mistério. Os filmes da Alice não dão respostas. A Itália foi uma personagem que Alice e eu concebemos muito juntas no nosso encontro no set de filmagem. É uma personagem que anda na corda bamba: não cai muito para a comédia nem para o drama", comenta Carol.

Itália tem dois filhos, uma adolescent­e e um garoto ainda na primeira infância. "Toda vez que eu perguntava de onde vinham os filhos, a Alice não me respondia exatamente. Como o trabalho dela está em um campo poético, seu processo de criação condiz com isto. Para estar em cena, houve um jogo entre nós, atores, e de escuta e de tentativa de executar o que Alice pensava para o filme."

Mesmo com um bom nível de italiano, Carol afirma ter sido difícil interpreta­r em uma língua que não o português. "O que sai da minha boca no português não tem mediação entre meu corpo, meu coração. Em outra língua, às vezes teve uma lombada ou outra. Meu esforço foi tirar esse intermediá­rio, que seria uma certa tradução. Eu tinha que sentir o mundo em italiano. Por isso, minha preparação foi estar na Itália, ouvir e experiment­ar, conviver com aquelas pessoas para entrar no universo da Alice, que é muito próprio."

Depois deste filme, Carol rodou outro longa, o brasileiro "Malu". No mês que vem, ela parte para Morretes, cidade histórica do interior do Paraná, para as filmagens de "No tempo da delicadeza", do cineasta fluminense Eduardo Nunes.

No drama que vai protagoniz­ar, Carol interpreta­rá Teresa, mulher que vive numa casa em frente aos trilhos de um trem. Serão 10 anos na vida da personagem, divididos de acordo com as quatro estações. "(O período que antecede cada filmagem) É superangus­tiante, pois você não tem garantido que as coisas darão certo. O que é dar certo? O que é acertar? Então, acho que cada projeto te exige uma coisa", afirma a atriz. ■

“LA CHIMERA” (Itália/França/Suíça/Turquia, 2023, 130min.). Direção: Alice Rohrwacher. Com Josh O'Connor, Carol Duarte e Isabella Rossellini. Estreia nesta quinta-feira (25/4), nos Centro Cultural Unimed-BH Minas 1, às 10h40 (sábado e domingo) e às 15h40 (todos os dias) e no UNA Cine Belas Artes (Sala 2, às 18h).

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FILMES DA MOSTRA/DIVULGAÇÃO
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BUBBLES PROJECT/DIVULGAÇÃO

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